O 5G vai reformar os processos, transformar os modelos de negócios e gerar novas oportunidades para todo o setor produtivo e as regulações precisam estar atentas ao novo ecossistema, asseguram especialistas em debate no Painel Telebrasil 2020.
A chegada do 5G transforma a economia, a sociedade e gera novas oportunidades para a indústria. Este foi o tema central do painel O que esperar da sociedade 5G?, realizado nesta terça-feira, 29/09, no Painel Telebrasil. No debate, Igor Calvet, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI); Pietro Labriola, presidente da TIM Brasil; Flávia Bittencourt, CEO da Adidas do Brasil; Luiz Tonisi, CEO da Nokia do Brasil; Pablo Fava, CEO da Siemens do Brasil, e Tom Stroup, presidente da Satellite Industry Association, apontaram os possíveis caminhos para a transformação ocasionada por 5G, falaram sobre impactos para indústria, principalmente, no que se refere a maior agilidade, automação e produtividade, sobre modelos de negócio que surgem para diversos setores, como o varejo, e como a pandemia contribuiu para acelerar a digitalização.
O setor industrial, por exemplo, vai se transformar. “Muda basicamente tudo”, resumiu Igor Calvet, presidente da ABDI. Se o 4G permitiu conectar pessoas, o 5G vai possibilitar uma conexão muito mais ampla, além de mais largura de banda com menor latência, uma combinação que, segundo ele, altera potencialmente toda forma de produzir, levando a um chão de fábrica conectado e automatizado, que culmina no aumento da produtividade. “É a possibilidade de termos, de fato, uma economia digital e isso vai influenciar inovações que vão surgir”, disse Calvet. Na mesma linha, Pablo Fava, CEO da Siemens do Brasil, concordou que a mudança ocasionada pelo 5G será radical e destacou que é necessário contar com mão de obra capacitada para trabalhar com a nova tecnologia. “O ponto chave é que 5G resolve a grande quantidade de dispositivos conectados”, assinalou.
Como exemplo, Luiz Tonisi, CEO da Nokia do Brasil, contou que, na Finlândia, a fábrica da companhia é totalmente automatizada. “Não apenas a fábrica aumentou a velocidade, mas também toda a cadeia produtiva, a logística e os funcionários foram treinados em outras aptidões”, disse, revelando que a fabricante está com projetos pilotos para automação junto a duas ou três fábricas no Brasil. “Com a tecnologia, mudam os processos, a cadeia produtiva e a relação com fornecedores. Muitos dos ganhos são de produtividade, de baixar os custos, mas também em como trazer inteligência; como produzir mais e melhor”, pontuou.
Do lado dos impactos no varejo, Flávia Bittencourt, CEO da Adidas do Brasil, disse que, durante a pandemia, a empresa conseguiu fazer diversos testes de produtos, comportamentos de consumidor e internos. As compras online ganharam força. “Experimentamos uma série de coisas, como vender pelo WhatsApp e realidade aumentada no aplicativo. E também aproveitamos o momento para inovar uma série de coisas. O cliente corria na rua e ficou em casa, então, coloca-se chip no tênis e ele pode entrar em uma corrida virtual, conectada com milhões de outros no mundo. Lançamos produto que coloca na chuteira o chip que mede força e distância do chute e se conecta em um jogo”, contou.
Se modelos de negócio são altamente transformáveis com 5G, para o usuário final a revolução entre 4G e 5G não deve ter o mesmo impacto. “Você, na pandemia, conseguiu trabalhar com o Teams em 4G? Sim. Conseguiu ver Netflix com 4G? Sim. Com o 5G, você consegue baixar as diferentes temporadas de Breaking Bad em cinco minutos, e hoje precisaria de dez. Não vai mudar muito. Para o usuário vai ter velocidade maior e latência menor, mas o ser humano não consegue enxergar. Vai ser importante para algumas verticais como gamers, em que latência é fundamental, mas para usuário no dia a dia não vai mudar muito”, acrescentou Pietro Labriola, presidente da TIM.
Diferentemente do 3G e do 4G, o 5G vai ser mais importante como habilitador de novos serviços, que depois terão impactos no cliente final. “Aqui a briga é entre sistemas econômicos no mundo. Se você chega antes dos outros, vai ser o primeiro país a desenvolver tecnologia que depois poderá exportar”, disse Labriola, que defendeu ainda Open RAN e a não dependência de fibra ótica nas casas como única possibilidade de acesso à banda larga ultrarrápida.
Levar as possibilidades do 5G para lugares remotos foi questão abordada por Tom Stroup, presidente da Satellite Industry Association, para quem a chave é o uso do satélite. “Em muitas instâncias é mais barato usar satélite que fibra ótica e o satélite tem a habilidade de prover 5G não só para smart cities, mas para aviões, cruzeiros etc., onde seria difícil conseguir conectividade e a conexão por cabo não seria possível”, enfatizou. O satélite, explicou, também resolve questões como conexão em áreas não cobertas. “O que acontece quando se entra em carro conectado e se passa numa área sem cobertura?”, questionou, dando ainda como exemplos plataformas de petróleo e fazendas de energia eólica.
Redes privadas
Para as indústrias, contar com uma banda privada para operar a rede 5G facilitaria a implantação da tecnologia. Pablo Fava, da Siemens do Brasil, chamou atenção para a existência de um movimento forte da indústria pedindo faixa de frequência para uso privativo de redes 5G. “A disponibilidade das frequências e a privacidade de dados são pontos chave”, disse. Já Pietro Labriola lembrou que, atualmente, é possível ter redes privadas, dentro da infraestrutura das prestadoras de serviços de telecomunicações, dedicadas só para algum cliente operar 5G. “Não necessariamente a solução é a compra de licença privada”, sublinhou.
Para Igor Calvet, todo o ecossistema regulatório tem de estar preparado para o 5G, mas trata-se de um quadro complexo, com múltiplos atores que se conectam. “O 5G traz possibilidades de novos modelos de negócios. A Anatel tem feito papel importante para mapear os gargalos regulatórios que inviabilizariam o 5G”, apontou. Acerca das redes privativas, Calvet assinalou que é necessário fomentar um uso mais eficiente e racional do espectro e uma das lógicas seria o uso privativo.
“Com a Anatel, acordamos que seria possível um acordo entre Anatel e ABDI para realização de testes e apresentação de padrões. Estamos na fase final de conversas para testes de frequência, latência e potência em ambientes urbanos e indoor. Dentro das indústrias, talvez, sejam frequências mais altas. Tudo está sendo desenhado agora e precisamos ter testes e evidências para tomada de decisão”, assinalou.
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