País tem desafios, mas o leilão 5G irá acelerar a digitalização e trazer investimentos consideráveis à infraestrutura de telecomunicações.
O painel O impacto e as transformações do 5G, realizado no Painel Telebrasil 2021, nesta terça-feira, 14/09, discutiu as mudanças esperadas com a chegada das redes 5G ao mercado brasileiro. As expectativas são otimistas, já que se espera que, nos próximos anos, as redes 5G movimentem US$ 153 bilhões, ou 40% do total a ser gerado nos processo de digitalização da economia brasileira.
A moderadora do painel e diretora de regulação econômica da LCA Consultores, Claudia Viegas, lembrou, no entanto, que a pandemia trouxe uma queda expressiva à renda per capita do brasileiro e que os níveis de 2019 devem ser retomados somente em 2025. “Por isso é interessante entender, nesse momento, de que maneira o 5G deve contribuir para a transformação digital da sociedade”, afirmou.
Uma das primeiras mudanças deve ocorrer na conformação do mercado. O conselheiro da Anatel Carlos Baigorri ponderou que o edital traz a possibilidade de diversas conformações diferentes e que esta é uma expectativa, mesmo que ainda não se saiba o resultado da licitação. “Existe a possibilidade de um novo player nacional, que deve somar-se à Vivo, Claro e TIM. Tanto que temos uma faixa nacional de 3,5 GHz sendo vendida”, destacou.
Baigorri disse haver também a expectativa do surgimento de players regionais. “O edital permitirá isso. Agora, se haverá ou não novos players, isso vai depender do apetite do mercado, que eu acredito existir”, ressaltou, lembrando que o papel da agência é criar condições para que o mercado se desenvolva, não desenhá-lo.
De todo modo, as redes 5G devem criar novas realidades para os usuários. Para o CEO da Vivo, Christian Gebara, a implementação das redes é uma evolução importante que trará consigo o uso de outras tecnologias, como realidade aumentada, realidade virtual e internet das coisas. Um dos efeitos mais esperados pelo executivo é a redução dos gaps de digitalização existentes hoje em setores como educação e saúde.
“No ano passado, investimos R$ 30 bilhões em infraestrutura, isso porque a digitalização é um vetor de desenvolvimento e o 5G deve acelerá-la ainda mais, contribuindo inclusive para a redução do custo Brasil”, afirma. Para Gebara, a expansão da tecnologia e de sua cobertura serão fundamentais para reduzir gaps e aumentar a produtividade. “Para isso, todos precisam trabalhar no mesmo sentido, incluindo legisladores municipais e estaduais. Nós continuamos investindo, porque a digitalização é vital para nossas vidas e será ainda mais”, enfatizou.
Inteligência Artificial
Na mesma linha vai o CEO da Huawei, Sun Boacheng, para quem as redes 5G vão trazer transformações importantes para diferentes segmentos da economia. “Um estudo da Deloitte mostra que o 5G deve trazer R$ 300 bilhões em benefícios para o Brasil nos próximos anos. Isso é importante para aumentar o PIB.”
Um exemplo citado pelo executivo é a agricultura, onde o uso de Inteligência Artificial (IA) deve acelerar a produção. Para comprovar esses ganhos, a Huawei vem desenvolvendo uma série de projetos piloto no Brasil, como o realizado com parceiros para implementar o uso de cloud computing na agricultura e a montagem de um armazém digitalizado em Sorocaba (SP), mostrando os diferentes usos no setor de logística.
Apesar do otimismo, o partner da ADVISIA OC&C Strategy Consultants Daniel Wada lembrou que o Brasil ainda precisa se preparar para essa revolução. Para tanto, é necessário um foco bastante forte em três pontos: expansão da infraestrutura, que vem ocorrendo e deve se acelerar após o leilão; desenvolvimento de aplicações, que deve se apoiar no sistema de inovação já existente no País; e a capacitação de pessoas.
“A capacitação é o grande desafio. Temos dificuldade na contratação de mão de obra especializada e, se não tivermos gente para desenvolver esse ecossistema, isso pode gerar um gargalo enorme, criando o risco de perdermos essa janela de oportunidades que o 5G traz para o País”, prevê.
Novos modelos e ofertas
Desafios a parte, é certo que as novas redes devem trazer novos modelos de negócios e serviços. Do lado da Anatel, isso pode representar a necessidade de mudanças. Para Baigorri, a disrupção em modelos de negócio e aplicações deve trazer desafios em regulação e na relação entre os agentes. “Mas nada que justifique mudanças na agência. Tem se falado em rever o conceito de neutralidade de rede. Esse é o primeiro desafio, mas nada que seja muito complicado. A regulação precisa evoluir para acompanhar o mercado”, reiterou.
O conselheiro também não acredita em atraso no cronograma anunciado pelo ministério das Comunicações. “Vamos trabalhar para que o edital seja trazido o mais rápido possível, mas com segurança e previsibilidade para todos. Acredito que final de outubro e início de novembro é bem factível para o leilão”, disse.
Enquanto o leilão não vem, o mercado se prepara para esses novos modelos. Para Gebara, da Vivo, essa é uma expectativa global, já que mesmo em países em que as redes estão em operação os novos modelos também estão em desenvolvimento. “As oportunidades são imensas e estão em negócios que vão utilizar a velocidade e a baixa latência do 5G. No caso da Vivo, basicamente é em IoT que estamos fazendo os maiores estudos”, revelou.
Os estudos estão ocorrendo em diferentes frentes. Na agricultura, por exemplo, Gebara enumerou projetos como gestão autônoma de máquinas, uso de aparelhos para previsões climáticas e animais conectados, entre outros. “O mesmo pode ser aplicado em outros setores. Há uma grande variedade de possibilidades e estamos fazendo alianças e parcerias com várias empresas, principalmente de tecnologia, para provar algumas soluções.”
Comparando com outros países, Sun, da Huawei, lembrou que na China, Coreia do Sul e Japão o 5G tem sido utilizado em vários setores com ganhos efetivos de eficiência. Para estimular esses projetos, a companhia tem parcerias fechadas com empresas de mais de 20 segmentos. “No entanto, é preciso preparar o ecossistema. Estamos treinando estudantes em 80 universidades e ajudando na revisão do currículo destas instituições. Também temos cursos gratuitos sobre nuvem e outras tecnologias”, destacou, reforçando a necessidade de contar com um ecossistema de parceiros trabalhando em conjunto.
Essa mudança deve passar também por uma revisão tributária. A ADVISIA vem trabalhando em um estudo nesse sentido. O consultor revelou que o estudo deve passar por pontos como pensar em toda a cadeia de valor, além de uma discussão sobre o federalismo e os impactos fiscais em cada esfera, bem como a complexidade dos impostos brasileiros.
“Ainda estamos na fase inicial, mas vamos trabalhar em cenários. A gente imagina fazer um cenário que tenha um rol tributário mais justo que possa ampliar a base de usuários e reduzir as desigualdades, mas ainda estamos no início”, concluiu Daniel Wada.