Em artigo publicado na coluna do Fausto Macedo, no Estadão, o presidente executivo da Conexis fala sobre os roubos e furtos de cabos de telecom e os prejuízos para a sociedade
Um problema extremamente grave vem ganhando proporções cada vez maiores no Brasil. Trata-se de atos criminosos que afetam diretamente a população, mas que não recebem a atenção devida vis-à-vis às seríssimas consequências que ensejam. Estamos falando dos roubos e furtos de cabos, itens de infraestrutura básicos para o funcionamento de todo o setor de telecom.
Não é de hoje que a conectividade desempenha papel fundamental na sociedade. A economia digital impõe que indústria, comércio e serviços dependam da internet para operar, especialmente em tempos de pandemia. Pessoas precisam de conexão estável para estudar e trabalhar. O assunto é muito sério e as consequências são incalculavelmente danosas para o Brasil. Operações fundamentais como polícia, bombeiros e hospitais são atingidas e acabam perigosamente comprometidas. Os casos crescem gradualmente e são reportados com uma frequência desoladora.
Com a tecnologia 5G batendo às portas, solucionar esse problema se torna uma prioridade. Para que o País possa se beneficiar efetivamente de avanços oriundos da telemedicina, cidades inteligentes, manufatura 4.0 e agro conectado, é preciso interromper de forma radical tais ações criminosas. O setor de telecom investe tradicionalmente mais de R$ 30 bilhões todos os anos para oferecer um arcabouço robusto à população e empresas, desde a infraestrutura, até o serviço ao consumidor final. Todo esse empenho fica comprometido quando não existem as condições básicas para que a operação funcione adequadamente.
Para dimensionar o problema, vale citar o levantamento realizado pela Conexis Brasil Digital, que aponta que nada menos que 2,3 milhões de metros de cabos foram furtados no País apenas no primeiro semestre desse ano. Seria possível cobrir a distância entre as cidades do Rio de Janeiro a Buenos Aires. O número é quase 15% superior ao registrado no mesmo período do ano anterior. Em 2020, os furtos afetaram aproximadamente 6,7 milhões de pessoas. O número é 34% maior do que o registrado em 2019, quando cerca de 5 milhões de usuários tiveram os serviços interrompidos.
Para as operadoras de telecom, o cenário é igualmente prejudicial. Além de terem grandes perdas na reposição do material, acabam sendo penalizadas pelas reclamações e reduções de clientes, somadas ao consequente dano de imagem. Há ainda as sanções regulatórias impostas pelo órgão que rege o setor, que aplica multas pelo serviço não prestado, independentemente do motivo.
O problema, contudo, não se limita ao furto de cabos. Os usuários sofrem também com o aumento de outras ações criminosas, como o bloqueio do acesso às antenas que atendem à rede móvel e às infraestruturas usadas na rede fixa, além do crescimento do vandalismo e a imposição de serviços piratas.
É preciso haver uma ação coordenada de segurança pública envolvendo os três poderes — Judiciário, Legislativo e Executivo, tanto nas esferas federais quanto estaduais, de forma a aprovar leis que imputem penas mais rigorosas a esse tipo de crime, além de maior fiscalização preventiva. Existem projetos em tramitação há muitos anos e a celeridade para que haja um desfecho positivo se torna cada vez mais fundamental para o bom funcionamento de toda a economia e dos serviços públicos.
Se o Brasil pretende efetivamente desfrutar da era digital, é necessário, em primeiro lugar, se atentar para problemas básicos. Questões de segurança pública assolam famílias e o mundo corporativo desde que se tem notícia por aqui. A tecnologia é capaz de resolver muitos problemas sociais e trazer soluções para as mais variadas demandas e anseios. Não pode ser mais uma vítima.
*Marcos Ferrari é presidente executivo da Conexis Brasil Digital