Agentes de transformação, as lideranças femininas em telecom têm a missão de inspirar e engajar mais mulheres

Possibilitar que as jovens tenham coragem de dar o primeiro passo e assumir o papel de referência para o futuro é, hoje, parte da rotina das lideranças femininas.

Não há um molde perfeito, mas é o momento de conquistar e abrir mais espaço para as mulheres no setor de telecomunicações.

Um dos maiores desafios para as lideranças femininas é dar voz às outras mulheres para que elas não tenham medo de dar o primeiro passo para galgar posições de destaque nas empresas. Essa foi uma das constatações do workshop Mulheres nas telecomunicações, realizado no Painel Telebrasil 2020, no dia 22/09, que contou com a participação de seis lideranças femininas atuantes no setor.

As executivas foram unânimes em afirmar que o legado de 2020 do setor de telecomunicações é o seu protagonismo ao deixar o País funcionando na pandemia da Covid-19. O processo gerou, sim, sobrecarga entre os funcionários, mas também permitiu uma união sem igual entre concorrentes para garantir o esteio econômico e social dos brasileiros: o acesso à internet. O home office, observaram, revelou, mais uma vez, a sobrecarga peculiar para as mulheres, responsáveis por comandar as rotinas de casa sem perder a liderança profissional. Uma questão ficou patente: cuidar da saúde mental entrou na prioridade estratégica das corporações.

Ser líder não é simples, não é fácil, exige responsabilidade, mas não há um molde perfeito, sublinhou a vice-presidente de Marketing, Comunicação e Assuntos Corporativos da Ericsson Latam Sul, Georgia Sbrana. “Eu choro. Eu erro. Não sou perfeita nem quero ser”, contou. Na Ericsson, hoje, 26% do quadro funcional é composto de mulheres, e a meta é chegar a 30%. Para Georgia Sbrana, uma tarefa relevante é estimular o engajamento das meninas e o seu interesse pelas carreiras STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, na sigla em inglês).

“Temos 18% de mulheres na liderança. Em 2018, 34% dos jovens que ingressaram na empresa eram mulheres; este ano elas são 54%. Temos um grupo de mulheres que trata de temas como carreira, licença-maternidade e assédio, com ações claras para mudar a cultura”, afirmou Georgia.

Posição endossada pela diretora de tecnologia da TIM Brasil, Auana Mattar. A operadora até tem uma proporção de gênero equilibrada, com 51% de homens e 49% de mulheres, sendo que 33% ocupam postos de liderança. Mas na área de tecnologia de redes e TI a desigualdade se revela: 77% são homens e apenas 23% mulheres. “É uma área predominantemente masculina, por isso a necessidade de estimular desde cedo as meninas a participarem dos cursos STEM”, ressaltou Auana . “A TIM criou, em junho do ano passado, uma área formal de diversidade, com políticas de inclusão de grupos socialmente ‘minorizados’. São temas da pauta da presidência e do conselho”, garantiu.

Isabela Cahú, diretor Jurídica e de Regulação da Claro, observou que a diversidade integra os valores da compahia, que mantém o Instituto Claro, com vários trabalhos voltados para a mulher. Do ponto de vista de liderança e gestão, a empresa segue a média nacional em que, quanto maior o cargo de liderança, menor a representatividade feminina.

“Essa é uma realidade não apenas do setor, mas também do Congresso e do Poder Judiciário. Eu integro uma vice-presidência jurídica com um dos maiores percentuais de participação feminina. A área tem o Oscar Pettersen na vice-presidência, mas dos seis diretores, quatro são mulheres. Temos um trabalho de apoio e coach porque a mulher tem de se fazer presente, mas tem características específicas. A busca da diversidade não pode ser em detrimento da feminilidade”, defendeu.

Referência para outras mulheres

Já Suzana Santos, presidente do Oi Futuro, considera que tem de haver uma atuação não apenas na empresa, mas também fora dela, por isso a importância do Oi Futuro. Hoje, mais de 36% da força de trabalho da Oi é composta de mulheres, e nos cargos de liderança elas já são mais de 31%. No Oi Futuro, mais de 60% do quadro é de mulheres, e elas ocupam mais de 50% dos cargos de liderança.

“O programa de diversidade da Oi é formal e amplo. Está na pauta da organização e do conselho, que conta com duas mulheres. Temos uma CFO, a Camile Farias. Estimulamos a promoção e a contratação, exigindo a presença de pelo menos uma mulher nas listas finais de contratação. Temos uma rede de apoio para ajudar na jornada da mulher, como licença-maternidade de seis meses e capacitação. No Oi Futuro, olhamos para fora, para atingir as mulheres que ainda não chegaram às organizações ou para estimular o empreendedorismo social”, elencou Suzana.

A trajetória de Márcia Ogawa, líder de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações da Deloitte, foi um pouco diferente da habitual. Segundo ela, desde criança, foi introduzida em ambiente diverso, ganhando não apenas bonecas, mas também carrinhos e brinquedos ligados à ciência e participando de feiras de ciências na escola pública. “Esses estímulos precisam acontecer e hoje podem ser digitais. Devemos transportar a nossa experiência de executivas de tecnologia para a sociedade e apoiar programas como o da professora Roseli”, sugeriu.

A Roseli que Márcia menciona é Roseli Lopes, professora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), que coordena a Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) e projetos de estímulo ao ingresso de jovens nas áreas de tecnologia. Para ela, a universidade vem evoluindo, mas ainda precisa avançar muito, lembrando que a primeira mulher titular na Poli-USP marcou presença apenas em 2000. “Precisamos trabalhar para que, exceto em processos blind, não haja situações em que pessoas não sejam promovidas devido à cor da pele, ao gênero ou à classe social. Para conseguirmos uma massa crítica maior, precisamos mudar a cultura”, enfatizou.

A necessidade de estabelecimentos de cotas e metas e o engajamento dos homens nas causas femininas também foram temas abordados no painel. As executivas revelaram estar cientes da importância dos seus papéis como referência para outras mulheres. Destacaram ainda que o setor, mesmo que ainda dominado pelos homens, está atuando para tratar a diversidade como prioridade para reduzir a desigualdade de gênero.

O Painel Telebrasil 2020 terá também programação no dia 29 de setembro. Assista no site www.paineltelebrasil.org.br.