O Brasil será o grande fornecedor de alimentos e proteínas do mundo nos próximos 30 anos, mas precisa intensificar a adoção de novas soluções de tecnologia.
O Brasil terá um papel importante em 30 anos, quando a população mundial deverá estar próxima de 10 bilhões de pessoas: ser um grande fornecedor de alimentos e proteínas para evitar um grave cenário de insegurança alimentar. Pelas estimativas de executivos que participaram nesta terça-feira, 21/09, do Painel Telebrasil 2021 para discutir A conectividade transformando o agronegócio, o país poderá responder a até mais de 50% dessa demanda. Para atingir esse objetivo sem expandir a área plantada, a tecnologia será a grande aliada, e a conectividade, cada vez mais essencial.
Emmanoel Campelo, conselheiro da Anatel, ressaltou que o leilão 5G, que acontecerá este ano, vai ofertar quatro faixas de frequência com características diferentes. Entre elas, estará a de 700 MHz, que, na sua avaliação, poderá reforçar a conectividade no campo, uma vez que tem maior cobertura e diminui os investimentos necessários. Hoje, aliás, essa é uma faixa muito utilizada na Agricultura 4.0 com o 4G.
Ele acredita que outra exigência do edital 5G, a construção de rotas de fibras ópticas até os municípios, inclusive muitos que ainda não possuem conexão, também favorecerá o agronegócio. O conselheiro da Anatel assegurou que sempre haverá um olhar para políticas públicas que beneficiem diversos setores. “Esse é o papel da agência”, comentou.
A conectividade, que sempre foi considerada um obstáculo para que a tecnologia chegasse ao campo, agora está muito mais disponível. “Antes tínhamos problemas que agora começam a ser resolvidos tanto pelos fornecedores de conectividade quanto pelos que desenvolvem sistemas para a agropecuária”, comentou Pietro Labriola, CEO da TIM e presidente da Conexis Brasil Digital. Como exemplo, ele citou o uso dos sensores, com baterias que duram de cinco a seis anos, algo improvável até bem pouco tempo.
5G como habilitador
Labriola considera que a tecnologia 5G será um acelerador de ofertas nessa área, mas lembrou que outras gerações, principalmente a 4G, já permitem levar a conectividade ao campo, tanto que a TIM tem cerca de 7 milhões de hectares cobertos com o espectro de 700 MHz LTE 4G.
Rodrigo Bonato, diretor de Soluções Inteligentes do grupo John Deere, ressaltou que apesar de estudo do Ministério da Agricultura indicar que temos apenas cerca de 30% do campo com conectividade, esse percentual ainda é menor quando se fala especificamente de grãos. “Nessa área, a conectividade não chega a 23% e no Mato Grosso, para se ter uma ideia, a cobertura no campo não chega a 3%”, observou.
No entanto, 89% das propriedades rurais têm internet nas sedes, o que já leva informação aos produtores. E, inclusive, incentiva a permanência dos jovens que, de acordo com o executivo, são a grande maioria entre os produtores rurais – na faixa de 35 a 45 anos –, quando na Europa está na faixa de 60. Esse perfil incentiva a adoção de novas tecnologias, mas o executivo acredita que sejam necessárias plataformas dedicadas ao uso da agricultura, além do custo.
A John Deere fez um acordo com a Claro para, através de suas revendas em todo país, a operadora oferecer soluções e conectividade com custo próprio. “Em menos de seis meses cobrimos cerca de 7 milhões de hectares”, revelou Bonato. A empresa tem, há alguns anos, modems em cerca de 40 mil máquinas no campo e somente metade desse parque utiliza o equipamento, sendo que apenas 10 mil estão realmente conectadas.
Gregory Riordan, presidente da Conectar Agro, não tem certeza se o custo é o maior peso na hora de investir em novas tecnologias. Na sua avaliação, é preciso desmistificar a questão do investimento mostrando ao agricultor quanto ele terá de retorno, normalmente em nove meses. Ele também crê que cada vez mais é necessário expandir o ecossistema do agro para que o produtor possa ter acesso a aplicações específicas para cada caso e tipo de produção. Assim como treinamento, um ponto essencial na expansão da Agricultura 4.0.
Já Sebastião Sahão Junior, presidente do CPqD, lembra que há um forte ecossistema em agro, com startups hoje oferecendo soluções com Inteligência Artificial aplicada a diversos tipos de serviços, como garantir mais previsibilidade do clima, que vive uma mudança em todo o planeta, redução do gás carbônico, mapeamentos e monitoramentos.
O executivo também levantou um ponto importante sobre o perfil dos agricultores, ressaltando que 72% são pequenos e médios. Para chegar a esse público, o CPqD criou junto com a Embrapa o projeto Semear, que está em fase piloto.
Na visão da Ericsson, as operadoras estão bem posicionadas nesse mercado para, inclusive, se tornarem protagonistas. Mas para Rodrigo Dienstmann, presidente da companhia para o Cone Sul da América Latina, fomentar ainda mais esse ecossistema é tarefa importante do agro. Ele ressaltou que, atualmente, há muitas soluções voltadas para o ambiente dentro da porteira. Só que fora da porteira há um grande número de atividades relacionadas ao agro, como logística e a própria Indústria 4.0, que também fazem parte do universo a ser coberto pela tecnologia.