Brasil: Classe C de Consumo – II

Reportagem: João Carlos Pinheiro da Fonseca

Essa matéria foi baseada na apresentação do publicitário Renato Meirelles, sócio-diretor do Instituto Data Popular, no evento “Satélites 2011”, promovido pela Converge Comunicações, ao final do ano passado, num hotel no Rio de Janeiro. Meirelles tratou da nova classe C, em termos do que ela representa como mercado e também sobre as pessoas que a constituem.

A classe C e a crise

Prosseguindo com sua palestra, Meirelles conta uma anedota. Perguntado a alguém da classe C se ele sabia que o mundo estava em crise e se esta ia chegar ao Brasil. “A televisão disse que ia chegar”, foi a resposta. “Você ficou preocupado?” O classe C responde: “claro que fiquei”. E uma nova pergunta: “o que você fez?” A reação foi rápida: “comprei uma moto”. O entrevistador então prossegue: “você não economizou?”. E o classe C, rapidíssimo no gatilho : “já comecei a entregar pizzas”.

Para a classe C, crise não é a exceção e sim a regra. A vida do brasileiro de classe C é sempre driblar a crise. Ele nasceu e cresceu na crise. O que mais vai absorver recursos dessa nova classe C é o lar com 32%, aí incluídos energia elétrica, gás de bujão, celular “pai de santo” e internet.

A nova classe C deverá gastar 23,16% do total de R$1,03 trilhão, com serviços prestados esporadicamente, como cabeleireiros, manicures, lavanderias, empregados domésticos. Vai querer produtos sofisticados, entretenimento, bebidas, perfumes e não vai se incomodar de ficar devendo e de ter que pagar o bem a perder de vista. “O amanhã é o amanhã”, filosofa com otimismo o novo classe C.

Informou o palestrante que as despesas com educação (2.07%) da classe C estão abaixo do que a ela gasta com transporte (8,17%) e com vestuário (5,12%). A educação à distância começa a surgir, porém, como um novo elemento de consumo. As classes populares já respondem por mais da metade (55%) do mercado de TV por assinatura.

Segundo Renato Meirelles, eram 13,9 milhões de domicílios que declararam ter TV por assinatura. Isso representa um número de 3 milhões de assinaturas, além dos números oficiais. Todo o mundo sabe que há todo o tipo de “gatos” e até os que emitem boletos bancários.

As projeções do Data Popular são otimistas. A classe C deve igualar, no quesito TV por assinatura, a penetração das classes A e B, em 13 anos. Em computadores serão seis anos.

Pesquisas de opinião indicam que oito entre dez pessoas da classe média brasileira são otimistas. Otimismo, que rima com “empreendedorismo”, se traduz por mais desejo de aperfeiçoamento profissional e de querer vencer na vida. Os otimistas consomem mais. A nova classe C pretende comprar um carro, viajar de avião, reformar o imóvel e ter ascensão social.

Uma classe C com valores próprios

Uma classe C otimista que quer consumir mais mas tem novos valores. Em consequência, os ofertantes de produtos e serviços para a classe C precisam entender com pensam seus ocupantes.

Pesquisas revelam as diferenças entre as classes A e C. “Você é amigo de seu vizinho? A resposta é “sim” para 66% da turma da classe C e 21% para o pessoal mais elitizado.” Para a pergunta: “você topa rachar o wi-fi com seus vizinhos?”, a resposta é mais ou menos idêntica.

O ideal de beleza da classe C, também difere da classe A. Isso afeta o mercado, do vestuário, à cosmética e ao entretenimento. “A classe C valoriza as curvas e a fartura”, brincou o palestrante. A mulher da classe C é mais feliz com o próprio corpo. Suas referências estéticas são mais coloridas. O que é alcunhado de “brega”, mantém um maior referencial com a cultura popular brasileira.

O palestrante do Data Popular indicou que as Classes C e DE representam da ordem de 60% do mercado de celular “pós-pago” e 87% do mercado “pré-pago”. Num dos slides ele apresentou que “com uma percepção de custo-benefício que vem ficando mais clara para os brasileiros de baixa renda, a internet banda larga começa agora a se popularizar. As classes CDE já representam 55% desse mercado”.

Esse novo brasileiro classe C vai querer cada vez mais ampliar seu conhecimento. A TV por assinatura, a internet banda larga e a educação à distância são instrumentos para que isso aconteça, afirmou o publicitário Renato Meirelles.

O rosto da nova classe C

Que rosto tem essa nova classe média? É o rosto diversificado do Brasil. Na Classe A, 47% da população tem mais de 41 anos de idade. Já na classe C, só 34%. O Brasil da classe C é um Brasil mais jovem.

Foi destacado pelo conferencista um dado impressionante: 68% dos jovens da classe C estudaram mais do que seus pais. Na classe A essa proporção cai para 10%. Outro fenômeno interessante. Na classe C, de cada cem reais que o pai ganha, o filho entra com R$52. Na classe A, o filho entra somente com R$11,00. Conclusão: o jovem da classe C influencia mais no consumo do que o da classe A.

“Entender quem é o jovem da classe C é muito importante” acha o publicitário Meirelles. Eles são os novos formadores de opinião, da nova classe média que surge. Na nova classe C, o formador de opinião é jovem e negro e quem manda cada vez mais é a mulher. Os negros, hoje, movimentam, no Brasil, R$546 bilhões por ano e carregam consigo os seus valores.

A seguir, o palestrante Renato Meirelles apontou que “a mulher da classe C é a grande protagonista da ascensão social. É ela que vai para o mercado de trabalho e que procura produtos de base para seus irmãos. Ela é mais escolarizada que os homens”.

O mercado da classe C brasileira é o que mais cresce no mundo, “Ninguém será líder de mercado se não pensar nessa nova classe C”, concluiu o palestrante. (J.C.F)