5G será o motor da nova economia digital. Em novembro, o País sedia o Global 5G Meeting, evento internacional que debaterá os rumos da padronização e desenvolvimento da tecnologia no mundo.
A tecnologia 5G vai trazer uma nova geração de aplicações e serviços e gerar uma nova onda na economia digital. A adequação à nova era impõe desafios para a pesquisa, o desenvolvimento e a implantação, além de uma mudança profunda na arquitetura de rede. Essa foi uma das conclusões do IEEE 5G Summit, evento realizado no Painel Telebrasil 2018, de 22 a 24 de maio, em Brasilia.
No Brasil, o desenvolvimento do 5G passa pelo envolvimento de diferentes setores da sociedade, apontou Flávio de Oliveira Silva, professor da Universidade Federal de Uberlândia e coordenador do evento. Uma das ações mais relevantes no País é o projeto 5G Brasil, lançado em fevereiro do ano passado e que reúne representantes da indústria e das prestadoras de serviços de telecomunicações, do governo federal, Anatel, academia e centros de desenvolvimento tecnológico.
O 5G Brasil está, nesse momento, fazendo um levantamento de casos de uso e elencando os principais requisitos de 5G relacionados a eles. “Estamos construindo uma visão de como o 5G Brasil pode gerar contribuições para o 3GPP a fim de que possamos ter um 5G mais aderente às demandas do mercado brasileiro”, explicou Fabrício Lira, pesquisador do CPqD, um dos organismos do projeto.
Para o diretor do Departamento de Ciência, Tecnologia e Inovação Digital do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), José Gontijo, o Brasil precisa, além de um trabalho interno do ecossistema de telecom, firmar acordos multilaterais com a Europa, os Estados Unidos, Japão, China e Coreia.
“Temos atuado fortemente para engajar o Brasil no que vem acontecendo no mundo. Esse evento é mais um passo de muitos que ainda virão. Em novembro, teremos o Global 5G Meeting, no Rio de Janeiro. Tudo para que o Brasil possa estar a par e passo com os órgãos de padronização”, afirmou Gontijo.
Padronização
Rui Luis Andrade Aguiar, pesquisador do Instituto de Telecomunicações de Aveiro, Portugal, e membro da Network 20/20, organização voltada a políticas internacionais, mostrou-se reticente à publicação de uma padronização no final de 2019.
“A expectativa inicial era que no final de 2019, início de 2020, teríamos algo que seria o release 16 do 3GPP da rede 5G e também nessa época a União Internacional de Telecomunicações (UIT) apresentaria suas propostas de padrões (com o IMT 2020), quando teríamos liberadas as bandas de frequência para 5G. Mas já não temos essa perspectiva”, reforçou Aguiar.
Para o especialista, o 5G já é visto muito mais do que apenas para comunicações pessoais. As aplicações incluem as fábricas do futuro, condução assistida, e-health, por exemplo. “A equação de valor vai estar na nossa capacidade de desenvolver o 5G como a tecnologia que pode transformar a sociedade e os negócios”, completou.
Para Fabrício Lira, do CPqD, o 5G deverá continuar crescendo a capacidade e a largura de banda, mas também é a primeira infraestrutura de redes celulares a considerar de forma estruturada, desde a sua concepção, não apenas os casos de uso de banda larga móvel, mas também os de uso de IoT – ou conectividade massiva entre objetos – e a comunicação com elevado grau de confiabilidade e baixa latência.
“A partir desses casos de uso definidos pela UIT, foram construídos os requisitos, e é isso que a indústria está tentando desenvolver. O primeiro marco importante foi a definição da camada física, o New Radio, pelo 3GPP, responsável por essa padronização. E foi decidido nessa fase inicial garantir compatibilidade com o 4G, mantendo o OFDN como base na camada física”, afirmou. “As grandes mudanças estão ocorrendo nas camadas superiores, e esperamos que isso se consolide no release 16. Neste momento, o 3GPP trabalha em dois releases, o 15, que está em fase final, e o 16, que deve se estender até o final do ano”, acrescentou Lira.
Para Marco Di Constanzo, diretor de Engenharia da TIM, as quatro principais aplicações da 5G – banda larga móvel estendida, M2M massivo, comunicação de missão crítica e banda larga wireless fixa (FWA) – vão tornar a sociedade mais digitalizada, o que vai proporcionar um crescimento exponencial de dados da ordem de 50 hexabytes.
“O primeiro fator crítico de sucesso é a padronização. Uma prestadora de serviços de telecomunicações sem padrão não implementa nada. O padrão é a certeza de ter a tecnologia interoperando. O segundo são as frequências e como equalizar as diferentes faixas de espectro, cobertura, capacidade e latência. O terceiro insumo são os sites. Precisamos construir mais infraestrutura, mas ainda existem leis restritivas. A Lei Geral de Antenas é de 2015, mas três anos depois ainda não foi efetivada”, lembrou Di Constanzo.