Fornecedores e prestadores de serviços de telecomunicações asseguram que o País tem capacidade produtiva e de pesquisa para formular soluções e produtos voltados à conexão das coisas.
O governo brasileiro está perto de aprovar o decreto para o Plano Nacional de Internet das Coisas, que definirá como prioritárias as aplicações para cidades inteligentes, saúde, manufatura e agricultura. Ao mesmo tempo, a Anatel trabalha em propostas de regulamentações específicas para esse tipo de soluções, hoje submetidas às mesmas regras da telefonia celular.
Além da etapa da regulamentação, o mercado aguarda também a chegada das redes 5G, que devem proporcionar um salto na oferta de aplicações de IoT. Mas isso não significa que as estratégias estejam em compasso de espera, apontaram os especialistas que debateram na sessão temática LTE, 5G e IoT para Verticais de Negócios, nesta quinta-feira, 23/05, no Painel Telebrasil 2019.
O diretor de Vendas IoT da Qualcomm para a América Latina, José Palazzi, afirmou que o Brasil tem capacidade intelectual para desenvolver e fabricar produtos para IoT. Ele lembrou que muitas soluções já existentes podem ser replicadas para outros setores, ampliando sua utilização. “No Brasil, temos uma quantidade enorme de rastreadores de veículos que utilizam a mesma composição de blocos de outros rastreadores (animais, pessoas etc.). A possibilidade de reutilizar estes blocos é um facilitador para se conseguir volume.”
A Nokia também está processo avançado de desenvolvimento do mercado de IoT. Segundo o diretor de Desenvolvimento de Negócios da companhia, Leonardo Finizola, há cerca de dois anos a empresa vem desenvolvendo soluções que atendem a seus clientes “da porteira para dentro”. “Para conquistar novos mercados para IoT, temos que entender outras indústrias e suas necessidades, e é isso que os prestadores de serviços de telecomunicações estão fazendo”, disse.
As prestadoras de telecomunicações também se reposicionam em mercados até aqui inexplorados. Esse movimento já é percebido em setores como o de mineração, que hoje faz uso de soluções LTE para otimizar produtividade e segurança; utilities, com o uso de soluções de smart grid e smart meetering baseadas em LTE e WiFi Mesh; e agrícola.
Novo mercado
O diretor de Canais da Cisco, Marcelo Ehalt, lembrou que o setor não pode perder de vista o que vem pela frente. Citando uma pesquisa realizada pela empresa, ele rememorou que, entre 2017 e 2022, o volume de usuários móveis deve saltar de 167 milhões para 177 milhões, com um aumento de conexões de 245 milhões para 329 milhões.
Ehalt defendeu que o mercado deve conviver um bom tempo com diferentes tecnologias. “Acreditamos que todas as tecnologias continuarão coexistindo. Haverá uma adequação por conta do uso.” De acordo com o executivo, em 2022 o Brasil terá redes 2G (7%), 3G (16,3%), 4G (68%), 5G (1,2%) e LPWA (6,9%), com oportunidades se desenhando em áreas como saúde, cidades inteligentes, agricultura, automação doméstica e automotiva.
As prestadoras de telecomunicações readequaram suas estratégias por conta da Internet das Coisas. A Claro Brasil, por exemplo, conta com uma área dedicada a IoT. O diretor de Negócios de IoT da companhia, Eduardo Polidoro, explicou que o foco é em conectividade avançada, com o desenvolvimento de soluções fim a fim. “Não estamos conectando apenas pessoas, mas empresas inteiras, o que envolve mais segurança e a implantação de redes dedicadas para IoT”, disse.
Por conta disso, a Claro Brasil vem de um ciclo de investimentos, realizados nos últimos três anos, que resultou na modernização de suas redes, na criação de um espectro dedicado para as soluções de IoT e na implantação de uma área específica no SOC da companhia.
Regulamentação
Enquanto o mercado avança na oferta de soluções, a Anatel vem trabalhando na construção de uma regulamentação que faça mais sentido. O superintendente de Planejamento e Regulamentação da agência, Nilo Pasquali, explicou que as discussões relativas ao tema estão concentradas no item 6 da Agenda 2019-2020, que está em discussão e deve ser aprovada nos próximos meses.
O item 6 trata de temas caros ao mercado de IoT, como a redução tarifária para equipamentos específicos, entre eles, sensores. Entre os principais pontos discutidos na Agenda 2019-2020 para IoT, Pasquali destacou:
– Regulamentação sobre rede virtual MVNO
– Taxas setoriais
– Segurança
– Numeração dos dispositivos
– Espectro
– Certificação de equipamentos