Carga tributária e transformação digital são temas em painel sobre conectividade

Presidentes da Vivo, Uber, Qualcomm, Aliança Conecta Brasil F4 e da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein debateram os desafios impostos pela Covid-19.

A pandemia da Covid-19 e o consequente distanciamento físico necessário para conter maior propagação do vírus anteciparam tendências como a transformação digital e forçaram as pessoas, no dia a dia, a abraçarem o digital. No painel A conectividade essencial, realizado nesta terça-feira, 8/9, durante o Painel Telebrasil 2020, que ocorre totalmente online, os presidentes da Vivo, Uber, Qualcomm, Aliança Conecta Brasil F4 e da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein debateram os desafios que seus setores e empresas estão enfrentando neste período e apontaram as mudanças que devem permanecer.

Um dos principais pilares que sustentou as atividades – sejam elas de trabalho, interação social, lazer ou estudo – foi a conectividade, e nisso as prestadoras de serviços de telecomunicações exerceram papel fundamental. “Demos conta da situação. O País se manteve conectado, as escolas remotas funcionando, as empresas em home office, a telemedicina funcionando, assim como surgiram novos serviços”, salientou Christian Gebara, presidente da Vivo. Para ele, os investimentos em digitalização serão cada vez mais necessários para expandir a conectividade, principalmente, para as áreas remotas.

Reduzir a carga tributária foi um tópico levantado pelos debatedores como fator crucial para acelerar a digitalização e expandir as redes. Gebara destacou que a alteração do modelo de concessão para autorização foi um passo importante em prol das telecomunicações, mas, segundo ele, é necessário tributar menos esse setor tão essencial. “Não é normal que um setor que precisa chegar a áreas remotas seja tão tributado”, apontou.

O presidente da Vivo também defendeu que os leilões de frequência tenham viés de cobertura e não arrecadatório e que a legislação de antenas permita a instalação dos equipamentos mais rapidamente, considerando principalmente a chegada do 5G, que precisa de um adensamento maior.

Daniel Vilela, presidente da Aliança Conecta Brasil F4, think tank para reflexão e formulação de propostas para o desenvolvimento do ecossistema de banda larga e do Brasil Digital, opinou que a pandemia obrigou que o País se digitalizasse, e o ponto positivo foi a aceleração dos serviços, com as pessoas entendendo definitivamente que conectividade é serviço essencial. “O Brasil deu conta do recado, mas precisamos ir além, até porque outros países estão mais avançados, como em 5G, e nós também precisamos melhorar a qualidade e o alcance”, disse.

Vilela reforçou o coro da diminuição de tributos. “A taxação de telecom é um tema que precisa avançar, assim como os fundos setoriais, com uma nova lei que preconize o uso dos recursos em investimentos, e leilões com viés de obrigações de fazer e não arrecadatórios. Essas são questões importantes a tratar”, disse.

Na mesma linha, o CEO da Qualcomm, Cristiano Amon, apontou que a pandemia foi uma oportunidade de o Brasil acelerar o processo de digitalização e educar as pessoas nas ferramentas.  “O Brasil tem uma área continental muito grande e tem se esforçado em acompanhar o desenvolvimento tecnológico, mas, realmente, é importante olhar para as telecomunicações como serviços essenciais, inclusive para se manter a competitividade”, assinalou. Para ele, é necessário desonerar o setor e resolver entraves para permitir investimentos  de longo prazo, como o 5G.

Do ponto de vista de modelo de negócio, a Uber tem sua operação baseada em conectividade e depende dela para expandir a capilaridade. Com 22 milhões de usuários, 1 milhão de parceiros e presença em cerca de 500 cidades, o Brasil é um dos três principais mercados para a Uber no mundo. Durante a pandemia da Covid-19, a Uber, que tem o compartilhamento de viagens (riding sharing) como carro-chefe no Brasil, viu o serviço de entrega de refeições Uber Eats crescer e se reinventar, além de ter lançado o Uber Flash, voltado a viagens para enviar itens pessoais sem sair de casa.

“No momento de pandemia, o Uber Eats se reinventa e passa a ser plataforma de serviços variados, com delivery de supermercado, farmácia, pet, lojas de conveniência. Esta expansão aconteceu do dia para noite com o fechamento [quarentena] e com as pessoas ficando em casa. Para o nosso negócio, o core é a movimentação, mas a conectividade permitiu que se pivotasse o negócio para atender às pessoas que estavam em casa com estas necessidades”, explicou Cláudia Woods, CEO da Uber no Brasil.

A pandemia também fez despontar a telemedicina. Conforme explicou Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, o hospital tem plataforma de telemedicina desde 2012 e, respeitando a legislação de 2002,  atendia apenas médicos.

“A pandemia coloca lente de aumento no que é ineficiência do País, mas também no que pode fazer mais e melhor, como parcerias público-privadas, criar e ampliar leitos e hospitais de campanhas e o uso cada vez maior da telemedicina”, disse, destacando que a telemedicina ganhou com o decreto que liberou sua utilização, pois foi possível mostrar o real valor desta ferramenta para quebra de barreira logística e dar ao paciente mais acesso a tratamentos de saúde de qualidade.

Pós-pandemia

Questionados sobre como será a vida quando a pandemia cessar, os executivos destacaram a forte presença do online, que veio para ficar, e sua convivência com o presencial. Ao comentar a lição que fica desse período, Cláudia Woods, da Uber, ressaltou a capacidade de adaptação.

“Quando a gente reflete os últimos seis meses, presente e futuro, o que fica mais forte é que cada município se comporta de forma diferente. Nós já temos isto de ser local e mais que nunca estamos nos preparando, porque algumas cidades vão para o novo normal mais rápido, enquanto outras permanecerão mais tempo [em quarentena]” disse.

Para Sidney Klajner, da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, colocar o setor privado trabalhando junto com o público é fundamental. E a lição principal que se tira da pandemia é o rompimento de barreira logística para levar saúde para a população remota. “Ficam o interesse e o desejo de modernização permitindo que possamos  dar maior, melhor e mais democratizado acesso à saúde.”

Christian Gebara, da Vivo, afirmou que o novo normal coloca as esferas digitais e presenciais convivendo juntas e uma complementando a outra, com práticas, como o trabalho remoto, tendo outro direcionamento nas companhias. A Vivo, contou, fez a transição para o home office em dois dias, levando os cerca de 30 mil colaboradores, sendo 5 mil atendentes de call center, para trabalhar em casa.

“Era política fazer home office duas vezes na semana, já tínhamos ferramenta, cultura”, disse. “Não acreditamos em um mundo exclusivamente digital. Temos lojas sendo abertas e os consumidores estão indo até elas. Os escritórios estão com 30% das pessoas voltando de forma voluntária. As pessoas sentem falta do contato, da presença, da troca de experiências e motivação.”

Já Cristiano Amon, da Qualcomm, disse que a pandemia fez as pessoas incorporarem hábitos tecnológicos que passam a fazer parte do dia a dia. Para ele, vai haver uma forte aceleração da migração para computação em nuvem. “Hoje, nos Estados Unidos, 85% dos workloads que você faz no home office já estão na nuvem. Com o 5G, você passa a ter capacidade a fazer on demand computing, com tudo indo para nuvem e possibilitando a produtividade desde qualquer dispositivo.”

Os desafios para a retomada da economia e o papel fundamental de telecom neste processo estão em  debate no Painel Telebrasil 2020, nos dias 8, 15, 22 e 29 de setembro. As inscrições são gratuitas e a programação completa do Painel pode ser acessada no site http://paineltelebrasil.org.br/.