Brasília, 22 de fevereiro de 2016 – Nós, empresas do setor de telecomunicações do Brasil, vimos a público esclarecer nosso posicionamento sobre o pagamento da Condecine.
Em primeiro lugar, o setor de telecomunicações não deseja um enfrentamento com o governo e muito menos com a indústria do audiovisual. Estamos sinalizando, sim, que o setor não suporta qualquer aumento da carga tributária. Este é um momento de dificuldades que nos afetam a todos. Para nós, a atual crise econômica atinge sobretudo nossa capacidade de manter e acelerar os investimentos que o País demanda e precisa, como a massificação do acesso à banda larga.
Desde 2011, com o debate sobre a Lei da TV por Assinatura, Telecomunicações e Audiovisual temos um espaço de diálogo. Quando do aumento da Condecine em 28,5% em outubro do ano passado, fomos surpreendidos. Num momento de retração, o aumento não se justifica.
Sempre fomos muito sensíveis com relação à importância do audiovisual para o Brasil. As prestadoras de serviços de telecomunicações têm longa e sólida trajetória de apoio à indústria nacional do audiovisual, com patrocínios, apoio à produção. Além disso, há anos temos reconhecido publicamente que a produção de conteúdo multimídia pela indústria do audiovisual é uma demanda mundial e uma oportunidade para o País. Ela gera empregos de altíssimo valor agregado, o que é fundamental para o Brasil.
Porém, não podemos deixar de debater o princípio da referibilidade, no qual se baseia a liminar impetrada pelo Sinditelebrasil, deferida pelo juiz Itagiba Catta Preta, da 4ª Vara de Brasília.
O Estado retira do setor privado a capacidade de investimentos e de inovação que lhe são próprias quando se apropria de recursos que produzimos, por meio de impostos, taxas e contribuições em volume e com finalidades inadequadas.
O aumento de 28,5% na Condecine Teles foi a gota d´água de uma verdadeira sanha arrecadatória com a qual não podemos mais conviver como setor e como cidadãos.
O excesso de tributos e o recolhimento de recursos por meio de taxas que não são usados para as finalidades para as quais foram criados drenam as riquezas que todos produzimos. Os recursos da Condecine não foram integralmente utilizados pelo Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). Entre 2012 e 2015, apenas 47% do total arrecadado pelo tributo foram executados, segundo a própria Ancine. Onde estão os outros 54%?
Dados mostram que, mantida a execução de 2015, há recurso suficiente para o fomento ao audiovisual até 2019.
Ao contrário do que tem sido dito, os R$ 879 milhões destinados ao FSA pela Condecine Teles representam quase 25% – um quarto! – do lucro das empresas em 2014. Nossa contribuição representa 86% do total arrecadado pela contribuição, um percentual enorme e muito superior ao recolhido por outros setores que muito se beneficiam da produção audiovisual nacional para conquistar audiência, publicidade. É justo?
No caso das telecomunicações, além da Condecine, vemos outros fundos setoriais tendo seus fins distorcidos pelo Estado. Mais de 90% dos recursos do Fundo de Universalização das Telecomunicações e do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações não são usados nas finalidades para as quais foram criados, como revela recente relatório do Tribunal de Contas da União.
O debate dos últimos dias é fundamental. As pessoas devem saber tanto sobre o peso do setor de telecomunicações para o fomento da indústria do audiovisual brasileiro quanto sobre os avanços que a indústria do audiovisual tem feito com esses recursos – vale lembrar que em 2011, antes da inclusão das operadoras, a Condecine arrecadou R$ 43,7 milhões. Em 2014, a contribuição, com as teles, somou R$ 879 milhões.
Os mais de 345 milhões de clientes de telecomunicações têm o direito de conhecer seu papel no fomento ao audiovisual quando pagam suas contas de telefone, TV por assinatura, banda larga ou mesmo ao usar um orelhão; sim, os orelhões e os demais telefones fixos também contribuem para a Condecine.
Avancemos no diálogo. Comunicações são o nosso negócio. E isso já diz muito sobre nós.
SindiTelebrasil