Mudanças provocadas pela digitalização da economia prometem criar modelos de negócio em diversas áreas, inclusive para as próprias operadoras de telecomunicações, que buscam seus caminhos no novo cenário.
São Paulo, 14/06/23 – Como as operadoras de telecomunicações estão se preparando para a adoção de novos modelos de negócio? Este foi o tema do painel 2 – Impulsionando a economia digital no Brasil por meio da conectividade: Chat GPT e Web 3.0 – no Painel Telebrasil Innovation, realizado em São Paulo nesta quarta-feira (14). O debate foi mediado pelo sócio líder de TMT da KPMG para a América do Sul, Márcio Kanamaru, e contou com a participação do CEO da Vivo, Christian Gebara; do CEO da Claro e presidente da Telebrasil, José Félix; do presidente da Ericsson para o Cone Sul da América Latina, Rodrigo Dienstmann; e do CEO da ABDI, Igor Calvet.
Márcio Kanamaru, da KPMG, indagou às empresas como elas vêm dando suporte ao processo de transformação digital de seus clientes e, ao mesmo tempo, mantendo suas receitas e serviços de conectividade. Para ter um pé bem apoiado em cada barco, cada uma delas vem buscando ações específicas.
O CEO José Félix disse que a Claro vem procurando desenvolver o que chama de ambidestralidade. “Somos uma empresa de R$ 42 bilhões que tem o desafio de encontrar tempo, condições e foco para apoiar e checar milhares de iniciativas que estão em curso hoje no Brasil”, afirmou, reforçando que este é o jeito de tentar fazer as duas coisas.
Também ressaltou que o ambiente de negócios no Brasil não é propício para o surgimento, por exemplo, de uma nova Tesla. “Pensando em nossa capacidade inventiva, podemos criar milhares de empresas com pequenas iniciativas”, compara. Ao mesmo tempo, segundo ele, é esse perfil que impede que as empresas de telecom encontrem um negócio que possa ser rentável. Para contornar o problema, a Claro criou o beOn, um hub de inovação e desenvolvimento para pequenas empresas.
Já a Vivo, de acordo com seu CEO, Christian Gebara, vem buscando novas fontes de receita, considerando importantes ativos construídos ao longo dos últimos anos: sua enorme base de clientes conectados; uma ampla rede de canais físicos e online; as faturas enviadas mensalmente aos seus clientes; e uma marca reconhecida. “A partir daí pensamos em criar um ecossistema em volta do acesso que fornecemos. Esse é o caminho que devemos seguir”, disse. Isso poderá ser feito por meio de parcerias ou participação em outras empresas.
Em relação à inovação, o executivo destacou a Wayra, também um hub para o desenvolvimento de novas iniciativas e a recém-criada Vivo Ventures que, com os investimentos em empresas em estágios mais avançados, vai permitir a entrada em verticais que possibilitem a criação de uma proposta de valor mais robusta.
Na Ericsson, a aposta é na transformação das redes em plataformas. De acordo com o presidente da empresa para o Cone Sul da América Latina, Rodrigo Dienstmann, todos os novos modelos de negócio passam hoje por redes poderosas e por poder computacional distribuído. “Isso faz com que o novo modelo seja uma combinação das redes que se tornam grandes plataformas de transformação”, acredita.
Desta forma, as redes se tornam uma grande plataforma com capacidades abertas para o mundo, que serão utilizadas por milhões de desenvolvedores independentes. Apostando nisso, a Ericsson pretende possibilitar às operadoras monetizar seus investimentos nas redes de forma diferente do que ocorre nas redes 4G.
Igor Calvet, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), concordou e lembrou que a ideia de plataforma começa a se solidificar em todos os ambientes e tipos de indústria. E deve alavancar ainda mais as milhares de iniciativas citadas por José Félix, da Claro. “Existe um movimento no Brasil de surgimento de iniciativas digitais que é forte e descoordenado, mas o fato de ser descoordenado não significa que elas estejam em áreas escuras”, afirmou.
Setores digitais
Enquanto buscam novos modelos de negócio, as operadoras também prospectam novos mercados e áreas de atuação. Gebara, da Vivo, ressaltou que o Brasil tem a necessidade de cobertura em áreas agrícolas, mas ainda precisa de dispositivos que sejam acessíveis a pequenos produtores. “Há muita gente trabalhando para que isso seja uma realidade e, depois, definir como cobrar por esse serviço. Tudo isso vai ocorrer”, disse, ressaltando ainda que setores como indústria, varejo e saúde devem passar por uma revolução em breve.
A agricultura e a pecuária também estão no radar da Claro, que tem feito testes de cobertura em fazendas e grandes áreas. Félix destaca ainda setores como indústria e fintechs. “Tinha a vertical de smart cities, mas estamos deixando de lado porque é difícil encontrar com quem falar nas cidades. A interlocução é difícil, assim como o processo decisório”, explicou. O setor de saúde, também considerado complexo, deve ser atendido por meio de startups específicas, que terão o apoio da operadora.
A Ericsson tem seus olhos voltados para portos, aeroportos e ferrovias, além de mineração. “Eu penso que segurança pública tem um viés de oportunidade. Para atender essas oportunidades, estamos deixando de ser uma empresa de tecnologias verticais para nos tornamos empresa de plataforma”, afirmou, acrescentando que o papel da companhia é interpretar e vislumbrar esses novos modelos, seus requisitos e suas consequências. O Painel Telebrasil Innovation 2023 é a 67ª edição do evento e acontece para mostrar as tendências e provocar novas ideias para ampliar o acesso à conectividade no Brasil.