Brasil superou “voo de galinha”
Sucedendo a Carlos Duprat, a economista Claudia Viegas, da LCA Consultoria, empresa contratada pelo SINDITELEBRASIL- Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal, continuou a palestra keynote, iniciada pelo citado executivo.
Numa síntese “de um trabalho que está em andamento”, Claudia Viegas tratou da economia brasileira “para contextualizar a banda larga no País”. Dados indicam que a economia brasileira superou seu tradiconal “voo de galinha”. Teria ficado para trás o crescimento econômico de curto fôlego, seguido de declínio. O crescimento médio do PIB per capita, de 2004 a 2010, foi de 3.6 %. O índice, final desse período, caiu um pouco, mas não caracterizou a volta do voo galináceo. Ao que tudo indica, nossa economia decolou sustentável.
Explicou a conferencista que a chave desse sucesso residiu na “saúde” de nosso balanço de pagamentos. Para o futuro, entre 2010 e 2020, o PIB brasileiro deverá, “apesar de possíveis percalços”, crescer 4% ao ano. Prognostica-se que a renda per capita do brasileiro, em 2020, deverá estar próxima dos US$ 20 mil, anuais.
Uma ótica diferente emerge, todavia, do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH. O Brasil, num ranking de 187 nações, se situa nesse quesito com um mediano 84º lugar. A boa notícia é que o crescimento do IDH brasileiro (0,87%), nos últimos 30 anos (1980 a 2011), foi superior ao da América Latina (0,73%) e ao dos países de alto desenvolvimento (0,61%). Essa melhoria no IDH refletiu, em 2011, nossa maior longevidade (73,5 anos), melhor educação (7,2 anos médios de escolaridade) e crescimento de renda per capita (US$ 10,2 mil).
Como “fato importante”, destacou Cláudia Viegas que, além do crescimento da renda no país, ocorreu melhoria na sua distribuição. Houve ascensão das camadas mais pobres à denominada “classe média”. O Brasil, de 2014, vai ter 113 milhões de pessoas na classe C e 56 milhões nas classes D e E.
A nova classe média vai pressionar o consumo de bens duráveis, de serviços básicos e também das telecomunicações. “Vem crescendo o consumo da cesta de bens duráveis consumidos pela família brasileira. São mais automóveis, computadores, lava roupas e aparelhos celulares, sendo adquiridos pela população de mais baixa renda. As classes D e E, que migram para a classe C, chegam porém com uma série de carências reprimidas que é preciso atender”, observou a conferencista, que acrescentou: “cabe às políticas públicas capacitar esses novos usuários para que utilizem novos serviços, inclusive aqueles proporcionados pela internet banda larga.”
Carga Tributária: desconfortável
“É elevada a carga tributária que recai sobre os serviços de telecomunicações no Brasil. Tal voracidade fiscal vem crescendo”. Em 2002, tributava-se 32% sobre a receita de telefonia fixa e móvel. Em menos de dez anos (02-10), esse índice pulou para “desconfortáveis” 42%. Isso onera o custo do serviço e prejudica sua massificação.
Mas há outros entraves. Consumir banda larga não se encerra com o provimento de comunicações. Além do nível de educação básica, necessário para interagir com a rede, é preciso dotar o consumidor de um terminal de acesso banda larga. “Computador não é sinônimo de internet banda larga”. A dados de 2009, tímidos 35% dos domicílios brasileiros tinham computador. Destes domicílios, 79% eram ligados à internet. E dos domicílios com internet, 81% acessavam a banda larga. Mas a derivada dessa situação nos é favorável.
O computador ainda não chegou, em massa, às classes de renda D e E da população brasileira. A observar que 10% das 56 milhões de pessoas, das classes D e E, possuem computador. Mas há uma luz ao final desse (longo) túnel. Dos 5,6 milhões de pessoas que possuem computador, 59% ou seja 3,3 milhões de gente com baixa tenda, já acessam a internet.
Outra batalha, essa bem mais difícil de ser vencida, é a concentração da renda per capita no País. Considerando dados de 2008, a média do PIB/capita no Brasil é de R$ 18,1 mil anuais. Sete dos estados – SP, RJ, SC, ES, RS, MT, MG – possuem renda acima dessa média. Todos esses estados situados no Centro-Sul do País. O Distrito Federal situa-se hors-concours. O brasiliense possui um PIB per capita anual, acima de R$50 mil.
A disparidade regional de renda per capita se estende para os serviços essenciais, como saneamento e abastecimento de água. A oferta desses serviços é mais abundante no Sudeste e é menor na região Norte.
“Disparidades regionais não são especificamente brasileiras. Elas fazem parte do desenvolvimento de qualquer economia”, ponderou a economista Cláudia Viegas.
(J.C.F.) (continua)