Não é exagero afirmar que a pandemia acelerou, em todo o mundo, um processo de transformação digital corporativa que já se mostrava iminente. Sem prévio aviso, as empresas tiveram que mandar seus profissionais para casa e apostaram em uma gestão à distância por meio de ferramentas como videoconferências, plataformas estratégicas de tecnologia de análises avançadas, automação e inteligência artificial. Este cenário, sem dúvida, veio para ficar, já que ajuda a reduzir custos e maximiza o lucro das empresas.
O ano de 2022 marca um novo passo nesse sentido no Brasil: o país está próximo de viver uma verdadeira revolução em termos tecnológicos com a chegada do 5G. Todas as 27 capitais brasileiras deverão ter o 5G funcionando até o fim de julho de 2022, enquanto as cidades com mais de cem mil habitantes o receberão até 2028.
No mundo, o 5G é cada vez mais uma realidade: de acordo com a Viavi Solutions, em 2021, a rede se expandiu 20% na comparação com o ano anterior. Atualmente, a China lidera o ranking de cidades mais conectadas, com aproximadamente 380, contra cerca de 285 nos EUA. E engana-se quem pensa que a nova tecnologia é uma exclusividade de países de primeiro mundo, já que Filipinas figura em terceiro lugar no ranking, com mais de 90 cidades conectadas.
Atualmente, muitos países já estão utilizando esta nova tecnologia e comprovando seus benefícios para o poder público, sociedade em geral e – como não poderia deixar de ser – para as empresas. Com isso, emerge uma das perguntas que mais devem tirar o sono dos líderes empresariais: as companhias estão preparadas para essa mudança de paradigma em termos de conectividade?
Ao analisar o caso brasileiro, o cenário é pouco animador: a pesquisa CIO Survey 2021 da consultoria Deloitte aponta que apenas 11% dos gestores de tecnologia (CIOs) se dizem aptos para liderar conversas sobre novas tendências no setor de tecnologia. Já 34% dizem que aceitariam mudanças nas estratégias de tecnologia, mas sempre pesando os riscos. Por fim, 55% dos CIOs ouvidos consideram os riscos acima dos ganhos, mostrando que não estão aptos a conversar sobre tendências tecnológicas que mudem consideravelmente a estrutura tecnológica de sua empresa com medo de algo dar errado. A mesma pesquisa também mostra que 40% dos CEOs brasileiros afirmam que o CIO é o principal impulsionador da estratégia de negócios da companhia, mais do que o CFO, o COO e o CMO [LL1] combinados, mostrando o papel essencial que este profissional exerce.
Por outro lado, nas principais economias do mundo, líderes empresariais calculam como usufruir do 5G para alcançar recursos inovadores que solucionem desafios e gerem oportunidades de criar vantagens competitivas para organizações em que trabalham e seus clientes. Levantamento da consultoria KPMG aponta que, até 2023, a combinação do 5G com o edge computing deve gerar aproximadamente US$ 517 bilhões em receita anual nos setores de indústria manufatureira, saúde conectada, transporte inteligente, monitoramento ambiental e games.
Quando estiver plenamente consolidada no Brasil, a velocidade do 5G pode ser, em média, cerca de dez vezes mais rápida que o 4G, chegando a 1 Gbps, sendo que em alguns testes alcançou 10 Gbps (100 vezes maior). Com isso, as companhias poderão usufruir de maior eficiência até em soluções já conhecidas. Irão acessar computação em nuvem, investir em Big Data, análise de dados e machine learning com resultados sem precedentes para gerar melhores estratégias de negócios. Por meio de uma base melhor e maior de dados, as empresas conhecerão profundamente seus clientes, cadeias de fornecedores, cenários micro e macro em estão inseridas, entre outras vantagens.
Portanto, muito se fala do papel do poder público na implantação do 5G, mas não podemos esquecer que os líderes empresariais brasileiros têm uma responsabilidade fundamental em participar das discussões para que o setor corporativo no país não se atrase na corrida tecnológica global, o que aumentaria nossa condição de desigualdade digital em relação a outras regiões do mundo.
Por Marcos Ferrari