Educação vai muito além da conexão

Em artigo publicado na Folha de S.Paulo, o presidente executivo da Conexis fala sobre a necessidade de políticas públicas coordenadas para ampliar a conexão nas escolas

Brasília, 10/06/22 – Desde que o “boom” da internet chegou ao Brasil, vemos uma série de iniciativas governamentais (nos âmbitos federal, estadual e municipal) com o objetivo de levar conexão às escolas. Porém, precisamos dar os passos seguintes e sair da armadilha das soluções de curto prazo.

Sem avaliação de eficiência, eficácia e efetividade das iniciativas do passado, repetimos e empilhamos políticas públicas descoordenadas e “desconectadas”, sem correções e ajustes em direção a metas mais elevadas de médio e longo prazo que dotem os alunos de habilidades portadoras de futuro.

Fica claro que, mais uma vez, o Brasil está cometendo o mesmo erro da década passada de encarar a conexão nas escolas como um fim em si mesmo, e não como um meio para uma política orientada e estruturada de conexão educacional.

Sem dúvida, a internet é o meio mais curto de acesso ao estoque de conhecimento, mas precisa estar aliada a uma estratégia nacional de educação para o desenvolvimento, a exemplo do movimento dos países asiáticos nos anos 1980.

Políticas públicas descoordenadas geram desperdício de energia e recursos públicos sem resultados estruturantes condizentes com o potencial de aprendizado e desenvolvimento cognitivo disponibilizado pelo acesso à internet. Que resultados na formação de alunos foram alcançados com o Projeto Banda Larga nas Escolas e o Prouca (Programa um computador por aluno)? Em que medida as novas iniciativas de conexão nas escolas dialogam ou aprimoram esses programas?

As diretrizes curriculares serão adaptadas a novas formas de aprendizado proporcionadas pelo acesso à internet de alta performance? Os nossos professores estão ou serão capacitados? De quais habilidades se pretende dotar os alunos e a quais objetivos de desenvolvimento econômico e social estarão ligadas? O impacto do 5G na natureza das habilidades cognitivas serão consideradas?

Estas e outras perguntas precisam ter respostas claras para que tenhamos ações estruturantes com efeitos educacionais duradouros e encadeados na formação de um círculo virtuoso.

Pesquisa da TekSystems, “State of digital transformation 2022” revela os cinco grupos de habilidades mais críticas do futuro: cibersegurança, análise de dados, computação na nuvem, análise de negócios e inteligência artificial.

Segundo o relatório “Future of Jobs Survey 2020” do Fórum Econômico Mundial, as profissões que mais crescem no mundo têm uma ou mais dessas habilidades: analista e cientista de dados, especialista em inteligência artificial e machine learning, especialista em big data, especialista em marketing e estratégia digital, especialista em internet das coisas, especialista em automatização de processos, analista de segurança de informação, para citar algumas.

Sem agregar esse cenário, a conexão nas escolas por si só perde o real poder transformador da internet na educação. A potência da política educacional fica fragilizada. E o nosso quadro não é nada animador.

Levantamento da União Internacional de Telecomunicações mostra que apenas 20% da população brasileira possuem habilidades básicas em tecnologia da informação e comunicação. Essas habilidades são pré-requisitos mínimos para se ter condições para entrar nesse novo cenário. São ações de enviar emails com anexo, copiar e mover arquivo e pastas, transferir documentos do smartphone para o computador entre outras. Apenas 3% possuem habilidades mais avançadas.

Pesquisa do IBGE mostra que o percentual de crianças no Brasil que sequer sabem ler e escrever vem crescendo muito nos últimos anos. Saltou de 25,1%, em 2019, para 40,8%, em 2021.

Assim, é necessário urgentemente corrigir a rota da política de educação conectada no Brasil ou então ficaremos mais uma vez correndo atrás de um futuro inalcançável com elevados custos para as gerações futuras.

Sobre a Conexis – A Conexis Brasil Digital reúne as empresas de telecomunicações e de conectividade, que são a plataforma da economia digital, da sustentabilidade e da conexão de todos os brasileiros. A Conexis, dentro de um movimento de transformação digital pelo qual o mundo está passando, vem substituir a marca do SindiTelebrasil, reforçando o propósito do setor de telecomunicações de digitalizar o País e de conectar todos os brasileiros.

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