Debate com líderes femininas do setor de telecomunicações no Painel Telebrasil 2019 constata que ainda há o desafio de atrair e reter mulheres em um mercado amplamente dominado por homens.
A equidade de gêneros é produtiva e faz bem aos negócios. A questão agora é como atrair e reter mulheres nas empresas, especialmente nas organizações do setor de tecnologia e telecomunicações, até aqui amplamente dominado por homens. Longe de ser uma sessão voltada apenas para mulheres, o painel Mulheres em TICs, realizado nesta quarta-feira, 22/05, no Painel Telebrasil 2019, reuniu líderes de grandes empresas da indústria para debater formas de incentivar mulheres a ingressarem no mercado e, mais do que isso, fazerem suas carreiras nas organizações.
Com números da consultoria McKinsey como referência, Auana Mattar, diretora Digital da TIM Brasil, afirmou que, globalmente, as empresas com melhor equilíbrio de gêneros tinham 21% mais probabilidade de alcançar melhor margem Ebitda. “Não se trata apenas de trazer a diversidade porque está na moda. É uma questão de resultados, geração de negócios. Olhar para o futuro da empresa e entender que faz sentido”, destacou.
Miriam Wimmer, diretora do Departamento de Telecomunicações do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), comentou que o ministério lançou recentemente um programa voltado para o empreendedorismo feminino. “Notamos que as formas como as meninas empreendedoras precisam justificar seus projetos, quando buscam investimentos, é diferente de como os pares homens o fazem. E por isso criamos um programa de mentoria que considera coaching distintos para homens e mulheres”, revelou.
Antes de criar o programa, conta Miriam, o MCTIC analisou números do Fórum Econômico Mundial e descobriu que o País ocupa a 95a colocação (de um total de 145) no ranking de equidade de gênero, que leva em conta participação econômica e oportunidades para as mulheres.
Suzana Santos, diretora de Comunicações da Oi, afirmou que, no entendimento de sua companhia, o único caminho de atrair as meninas para esse universo é a aposta na educação. O mesmo é visto na Claro Brasil. Maria Teresa Azevedo Lima, diretora executiva de Relações com Governo da Claro Brasil, revelou que a prestadora de serviços realiza trabalhos com 1.800 escolas em 50 cidades, de 20 Estados brasileiros, formando professores para o uso de tecnologia em sala de aula.
Além disso, mantém um projeto de formação de técnicos em telecomunicações voltado para alunos do Ensino Médio. “Em 2014, 70% dos jovens formados pelo projeto eram meninos. Hoje, 60% deles são meninas”, celebrou, acrescentando que 160 técnicas já estão formadas e no mercado de trabalho.
Outro dado apresentado por ela foi que as mulheres representam mais de 56% dos alunos matriculados nas universidades, mas quando se consideram apenas os cursos de Exatas, o índice cai, chegando a 26% quando se fala especificamente em engenharias. Nos cursos de engenharia de telecomunicações do Inatel, por exemplo, apenas 28% dos alunos matriculados são mulheres. Há 10 anos, o índice era de 15%.
Lideranças
Mediadora dos debates, Georgia Sbrana, vice-presidente de Marketing, Comunicações e Relações Institucionais da Ericsson, comentou que, em 2017, apenas 25% dos cargos executivos eram ocupados por mulheres nas empresas de todo o mundo. Miriam, do MCTIC, acrescentou que hoje 42% dos servidores públicos são mulheres, mas quando se sobe na hierarquia, a representatividade cai para apenas 15%.
Cenário semelhante é visto nos ambientes corporativos. Para dar uma dimensão, Maria Teresa, da Claro Brasil, revelou que a organização tem hoje 35% de mulheres em seu quadro de colaboradores e 28% dos cargos de liderança. Na Ericsson, a relação entre mulheres e homens em cargos de liderança é 40% x 50%, mas a força de trabalho ainda conta com apenas 25% de mulheres. E na Oi, de acordo com Suzana Santos, mais de 30% da liderança é feminina. “Estamos acima da média, mas ainda há muito a evoluir.”
Estabelecimento de metas
Para tentar mudar o cenário, as empresas começam a estabelecer metas de equidade. A Vivo, por exemplo, tem o objetivo de colocar 30% das mulheres em cargos diretivos na empresa até 2020. “Não basta colocar por colocar. A Vivo mantém comitês e subcomitês com trabalhos de mentorias, trazendo as mulheres para as discussões, entendendo como ajudá-las a conquistar os espaços”, explicou Elisa Prado, diretora de Comunicações da empresa, revelando que a prestadora de serviços oferece inclusive bônus para os resultados de metas de equidade.
A diretora da Vivo acrescentou ainda uma constatação positiva de que, entre os mais jovens, essa questão já não é tão relevante, pois a equidade de gênero se dá de maneira mais natural, o que mostra uma tendência mais equilibrada.
Na Ericsson, a proposta é alcançar globalmente o índice de 30% de mulheres no quadro global de funcionários. No Brasil, hoje, o índice é de 25%. As líderes são unânimes: para alcançar os resultados, é preciso estimular, orientar e dar exemplo às mulheres nas empresas, “Questões de mentorias são fundamentais. Uma vez que conseguimos trazer as mulheres, precisamos ajudá-las a vencer as dificuldades para permanecer quando se tem filhos ou responsabilidades com a família”, observou.
Suzana Santos, da Oi, destacou ainda a necessidade de oferecer facilidades, como creche, flexibilidade de horários e home office para facilitar a retenção das mulheres.
Propostas
Visando estimular a equidade de gêneros no setor, as representantes presentes à mesa de debates e na plateia da sessão no Painel Telebrasil se propuseram a ajudar a trazer mais mulheres para os painéis na próxima edição do evento. Além disso, Eduardo Levy, presidente executivo da Telebrasil, assumiu o compromisso de incluir a representatividade de mulheres no setor nos índices medidos pela organização.
Abertura
Oscar Petersen, diretor executivo jurídico, regulatório e institucional da Claro Brasil, participou da abertura da sessão de Mulheres em TIC. O motivo de ter um homem à mesa? Ele traduziu, editou e publicou recentemente no Brasil o livro “Camilla conta sua história”. E foi sobre essa obra que ele falou à plateia presente ao evento. Camilla foi sua tataravó, e o livro, deixado por seu avô, originalmente escrito em dinamarquês, relata a história de uma mulher que, entre os anos 1850 e 1890, enfrentou desafios sociais, foi arrimo de família, ingressou na política, experimentou amores diferentes.
“Ela discutia àquela época temas que ainda hoje tentamos modificar”, disse Petersen. “Ali, ela já falava às mulheres sobre a necessidade de se empoderarem e lutarem por direitos e participação na sociedade”, resumiu. A sessão também chamou a atenção pela quantidade de homens na plateia, revelando o interesse pelo assunto e a importância do tema para os negócios de suas organizações.