Plataforma de segunda geração é essencial para os dispositivos M2M e ainda tem relevância para a oferta de serviços de voz para as prestadoras de serviços de telecomunicações. Futuro das redes 2G foi tema de debate no Painel Telebrasil 2018.
Com cerca de 30 milhões de aparelhos celulares ainda com acesso 2G, a plataforma de segunda geração tem um papel ainda mais importante no mercado de telecom, uma vez que os dispositivos M2M (máquina a máquina) se conectam por meio desse sistema. Esse é um desafio considerável quando o País acelera o debate sobre o desligamento das redes 2G e eleva algumas apostas de que a terceira geração pode ter seu final antecipado antes mesmo que a segunda chegue ao fim.
O tema foi discutido nesta terça feira, 22/05, na sessão temática Os Caminhos para o Fim das Redes 2G, no Painel Telebrasil 2018, em Brasília. E trouxe diversas informações importantes sobre as estratégias adotadas pelas prestadoras de serviços, assim como a necessidade de envolvimento nessa questão de outros atores, como fabricantes de celulares e governo, para que se possa definir se será, ou não, estabelecida uma data para que se desliguem essas redes.
Para o conselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) Leonardo Euler, o Brasil corre o risco de ter as redes 3G desligadas em primeiro lugar do que as 2G. Para ele, é importante lembrar que as estratégias das prestadoras de serviços de telecomunicações vão se diferenciar de acordo com o espectro que cada uma detém. O conselheiro acredita que a agência reguladora terá papel relevante ao marcar novos leilões de radiofrequência para acelerar o processo.
O diretor de Tecnologia da Oi, Mauro Fukuda, considera que o tema ganha grande relevância à medida que aumentam os custos para gerenciar a manutenção de três redes celulares sobrepostas, com frequências e tecnologias diferentes. E lembrou que nos próximos anos mais uma rede, a 5G, estará no radar das empresas. Ele ressaltou que 80% dos acessos M2M no Brasil são baseados no acesso 2G, principalmente para serviços de rastreabilidade, telemetria e máquinas POS (pontos de venda). Há ainda a base de feature phones no mercado, que restringem os usuários a essa plataforma. Somado a isso, está a capilaridade da cobertura de 100% dos municípios brasileiros.
Em sua estratégia, a Oi vai reforçar o refarming da faixa de 1,8 MHz, para o qual já tem investimentos feitos em grandes capitais no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Ela vai utilizar 10 MHZ dos 20 MHz mais 20 MHz que as prestadoras de serviços possuem. Essa é uma importante ação para incentivar a migração das redes 2G para 4G.
O diretor executivo de Relações Governamentais da Qualcomm, Francisco Soares, foi mais pragmático: é preciso estabelecer uma data para o fim das redes 2G e não esperar que esse processo seja feito naturalmente. Para isso, começou a discutir alternativas com vários segmentos envolvidos, como fabricantes de dispositivos, por meio da Associação Brasileira das Empresas de Eletro Eletrônicos (Abinee), e governo.
Ele sugeriu vários caminhos para que o processo seja acelerado, entre os quais a redução tributária para as novas tecnologias. “Sei que tem uma premissa que sempre foi utilizada pela Anatel de ser neutra do ponto de vista tecnológico. Já compactuei com esse conceito, mas hoje o questiono. Talvez ele possa valer apenas para tecnologias que se equivalem, o que não é o caso.” Outra ideia, que envolve os fabricantes, é o desenvolvimento de features phones 4G com custo mais acessível para incentivar a migração. Também acha importante discutir o compartilhamento de uma rede única 2G para manter serviços necessários para M2M.
Se Soares, da Qualcomm, é pragmático na definição do fim da 2G, a TIM foi pragmática também em sua estratégia adotada há alguns anos e que levaria ao fim das redes 2G e agora dá início à migração das plataformas 3G. “Não foi um processo natural e exigiu esforços. Fomos a primeira operadora brasileira a adotar o refarming de 1,8 GHz”, exemplificou Leonardo Capdeville (CTO da TIM). De acordo com o executivo, o processo começou há alguns anos com a conscientização do que representaria a oportunidade 4G.
Hoje, 85% do tráfego de dados da operadora é 4G, 15% é 3G e apenas 0,02% é 2G. “Mas se não é relevante em dados, ainda é relevante em voz”, comentou. No final do ano passado, a TIM anunciou o compromisso de chegar a 2020 com 100% da população coberta em 4G na faixa de 700 MHz e com o serviço de VoLTE disponível. Para isso, segundo Capdeville, a prestadora também dará início ao processo de desligamento de redes 3G, com o refarm na faixa de 2,1 MHz.