Não são os celulares e as antenas que causam risco ao ser humano, mas as narrativas assustadoras sobre tecnologia fazerem mais sucesso do que as evidências científicas, lamenta David Grimes, médico e pesquisador sobre câncer do Reino Unido. Em artigo no jornal The Guardian, ele é taxativo: “Não podemos sucumbir a pânicos sem fundamento científico”.
A onda de desinformação sobre os efeitos das frequências eletromagnéticas usadas pelos celulares e pelas antenas que viabilizam o sinal móvel tem mobilizado a área da Saúde no Reino Unido. Em artigo publicado no tradicional jornal inglês The Guardian, em julho do ano passado, David Robert Grimes, médico, pesquisador sobre câncer e jornalista científico com atuação na Universidade Queens, em Belfast, na Irlanda e na Universidade de Oxford, na Inglaterra, lamentou o fato de as histórias de terror fazerem mais sucesso do que as evidências científicas.
“Muitos estudos foram realizados nas duas últimas décadas para avaliar se telefones celulares representam potencial risco à saúde. Até hoje, nenhum efeito adverso foi estabelecido como tendo sido causado pelo uso de celulares”, reforçou o médico. Grimes ressaltou que há fatos para combater as mentiras.
Pesquisa como as do Interphone Group, realizada pela Agência Internacional de Pesquisas sobre Câncer em 13 países, com cinco mil pacientes, concluiu não existir relação causal entre o uso de telefone e o câncer cerebral. Um estudo dinamarquês – Danish cohort study –, no qual 358.403 pessoas foram acompanhadas por 27 anos, também não registrou caso de câncer cerebral provocado pelos celulares.
“Não chega a surpreender, uma vez que vivemos cercados por uma sinfonia de luz invisível, da qual nossos olhos só detectam uma pequena parte”, disse Grimes. “Narrativas assustadoras podem ser mais excitantes do que as menos sensacionais descobertas científicas, mas não são inofensivas. Basta observar qualquer pânico de vacina para ver o custo em vidas quando superstição ultrapassa a ciência”, acrescentou.
Grimes relatou que as radiofrequências (e mesmo a luz visível) são notoriamente de baixa energia e não ionizantes, carecendo da capacidade de danificar DNA. Ele lembrou que as teorias conspiratórias com as tecnologias sem fio – que tiveram um crescimento exponencial nos últimos 30 anos – não são novidade e continuam com a massificação de inverdades. “Em uma era onde a desinformação pode se perpetuar rapidamente, pode ser difícil separar fato e ficção, mas é imperativo que aprimoremos nosso ceticismo científico para não sucumbirmos a pânicos sem fundamento”, concluiu o médico, ganhador do prestigiado prêmio Sense About Science/Nature Maddox.