As oportunidades do 5G são estruturantes no setor de telecom, que pede mudanças regulatórias e enfrenta o desafio da falta de profissionais qualificados.
Brasília, 12/09/23 – A transformação do Brasil em um gigante competitivo passa pelas telecomunicações, que são as grandes viabilizadoras da conectividade e do surgimento de novos modelos de negócios. Mas, para isso, há desafios a serem transpostos, como enfatizaram os executivos que participaram do painel Tempos de inovação: Transformando o Brasil em um gigante competitivo, no Painel Telebrasil Summit, que ocorre hoje e amanhã, em Brasília.
Artur Coimbra, conselheiro da Anatel, destacou que a agência vem tentando reconstruir a competitividade do mercado para que seja equilibrada não apenas entre as empresas de telecom, mas também entre elas e as plataformas que fazem uso das redes. “Temos de vencer a assimetria entre as empresas de telecom e delas com as plataformas. A Anatel tem o desafio, hoje, que está nas mãos do conselheiro Vicente [Aquino], de tentar reduzir a assimetria. É um debate necessário”, assinalou.
Com relação à mudança de modelo de concessionária para autorizada, Coimbra apontou que há três caminhos. “O primeiro, que é o preferível, é o da adaptação, de converterem a concessão em autorização. O problema é que custa caro e, por isso, temos processo promissor para tentar compor entre o que estão pedindo versus o que a Anatel está pedindo e encontrar o meio termo”, ponderou.
O segundo caminho, caso essas adaptações não aconteçam e reste alguma concessionária, é fazer uma nova concessão a partir de 2026. “Temos consulta pública, vamos ter minuta de edital caso necessário.” Já o terceiro caminho não depende tanto do arcabouço jurídico atual e faz referência à desnecessidade da concessão.
“Depende do presidente da República, publicando decreto dizendo que não precisa mais prestar serviço sob concessão pública. O ideal é fugir da concessão, que se mostrou um modelo com efeitos colaterais e insegurança jurídica, ao tentar prever que o serviço que se está pedindo hoje ainda vai ser útil em 25 anos”, disse Coimbra.
Ao falar sobre os desafios do setor, Adeodato Netto, CEO da Ligga Telecom, apontou que a indústria, neste momento, vive a reacomodação dos players e os desafios regulatórios, que são o PGMC [Plano Geral de Metas de Competição], a regulação de MVNO [operadora de rede móvel virtual, na sigla em inglês] e o uso de espectro.
Netto explicou que, no caso da Ligga, ela é a operadora, ofertando banda larga, e do mesmo grupo é a Sercomtel, concessionária. “Saímos do leilão de 5G com áreas importantes e entendendo que temos de convergir as duas operações, olhando para a indústria em transformação”, disse.
“É a primeira vez que estou presidente das duas empresas, com o mesmo comitê executivo, porque tem que alinhar plano executivo estratégico olhando o 5G. O grande desafio é que para o cliente não faz diferença se a internet é fibra, antena, etc., a percepção é a mesma. Tem de levar a percepção de geração de valor. Somos grandes viabilizadores de serviços”, apontou.
Jean Borges, CEO da Algar Telecom, concordou com Adeodato Netto que se trata menos de ação e mais de um constante serviço diário. “Porque, ainda que seja quase tudo igual para o cliente, a hora que a conectividade não funciona é um faturamento que não ocorre, um serviço que deixa de ser prestado. O cliente percebe a diferença na prestação de serviço”, enfatizou Borges.
Qualificação e modelos de negócios
Edvaldo Santos, vice-presidente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Ericsson, ressaltou a necessidade de qualificação em massa de profissionais para atuar nas cadeias e fomentar a inovação.
Ao avaliar a evolução do 5G no Brasil, Santos ponderou que o país acertou na inclusão do 5G standalone, na quantidade de espectro disponibilizada e no fato de a implementação colocar as operadoras em condições de afirmar que os requisitos de cobertura são satisfatórios. “Podemos vislumbrar a continuidade dos investimentos e possibilidades maiores de monetização. Mas tem de investir na qualificação dos profissionais”, insistiu.
Para Tiago Faierstein, gerente de novos negócios da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), o setor industrial brasileiro precisa se modernizar para se tornar competitivo e faltam modelos de negócios para mostrar à indústria como ganhar produtividade com o 5G. “Tem de se criar modelos de negócios e mostrar para a indústria; ter killer applications (aplicações matadoras)”, ressaltou. E isso vai além da internet das coisas, que, segundo ele, não precisa de rede 5G.
Faierstein destacou que entrar no mundo da transformação digital gera ganho de valor, seja em produtividade, seja em renda. “Na transformação digital, a conectividade é pilar e viramos advogados do 5G porque é pilar para a indústria 4.0″, completou.
Foto: Ricardo Ribeiro – Estúdio Versailles/Telebrasil