Para a diretora do Ceipe (Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais) da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Cláudia Costin, mudanças ocorridas durante a pandemia devem transformar a maneira como crianças e jovens aprendem.
Mesmo deixando jovens e crianças longe das escolas por meses, a pandemia de Covid-19 pode ter um impacto positivo no aprendizado no País. Para a diretora do Ceipe (Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais) da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Claudia Costin, o uso da tecnologia acelerado ou iniciado durante esse período vai ajudar o ensino brasileiro a dar um salto de qualidade mais adiante.
Durante sua participação no Painel Telebrasil na manhã desta terça-feira, 15/09, Claudia lembrou que a conectividade tem sido um ponto central na agenda neste momento e deve permanecer assim depois da pandemia, quando as escolas não poderão retornar com todos os seus alunos para a sala de aula e terão que adotar sistemas de rodízio. Por enquanto, ela tem sido utilizada por alunos e professores de forma criativa, em alguns casos em uso combinado com cadernos, televisão e rádio.
“Mesmo nas dificuldades que vivemos hoje, no Maranhão, um dos estados mais pobres do país, 61% dos alunos do Ensino Médio da rede pública estiveram nas plataformas sistematicamente. O mesmo se passou em cidades onde não se imaginava que isso acontecesse”, disse. Graças a isso, mesmo com perda na aprendizagem e um aprofundamento da desigualdade educacional, que já é grande, boa parte destes danos foi mitigada.
O momento serviu para que a tecnologia se inserisse no dia a dia de escolas, professores e alunos, que, de acordo com ela, devem estar atentos aos desafios que a volta às aulas trará. Para Claudia, será um momento em que toda a sociedade terá de se unir para resolver uma situação que é central: não basta as crianças e jovens estarem na escola, é fundamental que eles aprendam com altas expectativas de aprendizagem para todos.
“Isso quer dizer que a tecnologia, que em alguns sentidos da quarta revolução industrial pode ser entendida como um risco, também pode ser uma benção, algo que nos ajude a saltar etapas e resolver tanto a crise de aprendizagem que nós vivemos, quanto as profundas desigualdades educacionais com as quais o Brasil ainda convive.”
Claudia lembrou que o Brasil já vinha em uma trajetória de acertos, com a universalização da educação do Ensino Infantil e Fundamental e, mais recentemente, do Ensino Médio, mas que é hora de pensar na qualidade. “Nós superamos o problema do acesso à escola, mas os jovens não estão aprendendo como deveriam. Inclusive em algumas escolas particulares que atendem o quartil mais rico de renda”, comparou.
Essa crise de aprendizagem e déficit educacional, que já existia antes da pandemia, pode ser combatida. Para Claudia, toda crise é também um momento de inovação e aprendizado intenso, e a educação brasileira deve tirar vantagem disso. “Houve uma aceleração muito grande da inclusão digital de professores e alunos, e isso vai transformar a maneira como crianças e jovens aprendem, inclusive em escolas públicas.”
Ela citou como exemplo o caso de uma professora, do sertão de Pernambuco, que no início do isolamento telefonava para os pais de seus alunos para dar instruções. Partiu dos pais a iniciativa de pedir que a professora criasse um grupo de WhatsApp para fazer isso, numa demonstração inimaginável de inclusão. “Devemos caminhar para um ensino híbrido, inclusive nas redes públicas. Isso porque teremos que fazer um rodízio dos alunos que ficam presentes na sala, enquanto outros estarão em casa recebendo aprendizagem emergencial. Com a escola aberta, será muito mais fácil organizar o ambiente de aprendizagem com conectividade nas casas e criar meios de superar nossos desafios”, afirmou.
Os debates sobre diversos temas terão sequência ao longo desta terça-feira 15, e nos dias 22 e 29 de setembro. As inscrições são gratuitas, e a programação completa do Painel pode ser acessada no site http://paineltelebrasil.org.br/.