Em São Paulo, Ozires Silva, de 80 anos, “o criador da Embraer”, autografou sua biografia, escrita por Decio Fischetti. Ambos engenheiros do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). O biografado, além de criador da Embraer e ex-presidente da Petrobras, foi ministro da Infraestrutura (1990-1991). No XX Painel da TELEBRASIL, em Foz de Iguaçu, em 1989, nas vésperas da eleição presidencial, falou “por que era preciso mudar”.
A noite de autógrafos do livro “Ozires Silva” ocorreu, em 7 de novembro último, no Centro de Integração Empresa Escola, na capital paulista. O biografado é membro do Conselho Consultivo do CIEE. O subtítulo do livro, “criador da Embraer”, evoca a criação de uma empresa brasileira de tecnologia aeronáutica, reconhecida mundialmente.
Ozires Silva foi ministro da Infraestrutura de 1990 a março de 1991, durante o Governo Collor. O Minfra, como então era chamado, englobava, além dos Ministérios de Minas e Energia e de Transportes, o Ministério das Comunicações.
A título de lembrete histórico, estiveram à frente do Minicom, após o civil C. Simas (1967-1969), três ministros militares (1974-85) – H. Corsetti, E. Quandt, H.C. de Mattos – seguidos (1985-1990) do político A.C. Magalhães. O País teve três ministros da Infraestrutura (1990-1992) – O. Silva, E. Teixeira, J. Santana – e um dos Transportes e Comunicações (1992), A. Camargo.
Depois, a partir do Governo de Itamar Franco, as comunicações voltaram a contar com ministério próprio. Foram ministros, nessa nova fase: H. Napoleão (1992-1993), D. Morais (1993-1995), S. Motta (1995-1998), L. M. de Barros (1998-1998), J.P. Veiga (1999-2002), J. Quadros (2002), M. Teixeira (2003-2004), E. Oliveira (2004-2005), H. Costa (2005-2010), J. Filardi (2010) e desde janeiro de 2011, o atual titular da pasta, Paulo Bernardo.
Durante o XX Painel da TELEBRASIL, em Foz de Iguaçu, em 1989 – com o tema “Telecomunicações: sugestões para um programa de Governo” –, Ozires Silva, ainda não ministro da Infra-estrutura, falou “por que era preciso mudar. “Os telefones não estavam mais disponíveis e a aquisição de uma nova linha física, somente podia ser conseguida no mercado a preços elevados e pagava-se o dobro que na Europa por um telefone celular portátil”.
Segundo declara no livro (“por desencanto com a interferência de um grupo que acabou levando o Collor ao impeachment”), o ministro Ozires Silva pediu para sair do governo, um ano antes do impeachment. “Tenho procurado ajudar, mas o senhor é testemunha de que não consigo ser eficaz, as razões estão à vista. O melhor mesmo é o senhor me deixar embora”.
O presidente do CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento) e diretor da TELEBRASIL – Associação Brasileira de Telecomunicações, Hélio Graciosa, esteve presente à noite de autógrafos do livro de Ozires Silva.
Quem é Ozires Silva
O biografado nasceu em Bauru (SP), em 8 de janeiro de 1931. É oficial da Aeronáutica (1951) – deixou a FAB em 1972 – e engenheiro formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), turma de 1962, com mestrado (1966) em Ciências Aeronáuticas pela Caltech (USA). Ozires Silva contribuiu para o desenvolvimento da indústria aeronáutica brasileira. Capitaneou a equipe que projetou e construiu o avião Bandeirante. Liderou, em 1970, o grupo que promoveu a criação da Embraer, uma das maiores empresas aeroespaciais do mundo, dando início à produção industrial de aviões no Brasil.
Ele presidiu a Embraer até 1986, retornando depois para desempenhar um papel importante na condução do processo de privatização da empresa, concluído em 1994. Foi presidente da Petrobras de 1986 a 1988, no Governo de José Sarney.
Também atuou como presidente da Varig por três anos (2000-2003) e criou em 2003 a Pele Nova Biotecnologia, primeiro fruto da Academia Brasileira de Estudos Avançados, empresa focada em saúde humana, cuja missão é pesquisa, desenvolvimento e produção na área de regeneração e engenharia tecidual.
Ozires Silva é integrante de uma série de conselhos e associações de classe. Tem inúmeras condecorações nacionais e internacionais e destaques que mostram a amplitude de seus interesses no mundo acadêmico, governamental e empresarial. É pai de três filhos e avô de cinco netas. Possui vários livros publicados, inclusive “Cartas a um Jovem Empreendedor”.
O engenheiro aeronáutico Ozires Silva, em abril de 1997, passou a integrar o Hall of Fame do National Air and Space Museum do Smithtonian Institute, ao lado de figuras de prestígio como Neil Armstrong (1º homem a pisar na Lua), Igor Sikorsky (inventor do helicóptero) e Werner von Braun (foguetes). Este último visitou a Embraer, em São José dos Campos (SP).
Um livro da Inovação e Renovação
Nas suas quase 300 páginas, com fotos preto e branco de cunho pessoal e históricas e o título “Ozires Silva, um livro da Inovação, Biografia do criador da Embraer”, emerge do livro a saga de mais um empreendedor brasileiro. Bem pesquisada, o texto do engenheiro e autor Décio Fischetti, que autografou o livro ao lado do biografado, é repleto de detalhes e de testemunhos históricos relatados com simplicidade.
A espinha dorsal da obra é, obviamente, ligada ao mundo da aeronáutica. Nos anos em que Ozires Silva esteve no serviço ativo da FAB, desfilam pelo livro: o Campo dos Afonsos; os voos na Amazônia em avião anfíbios Catalina; o CAN (Correio Aéreo Nacional); os tempos do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), CTA (Centro Técnico de Aeronáutica) e PAR (departamento de aeronaves); os percalços para desenvolver o IPD-6504, precursor do avião Bandeirantes; e a ida, não planejada, para tirar o mestrado na Caltech (California Institute of Technology).
A realidade do avião Bandeirante e os detalhes da criação e dos primeiros passos da Embraer desfilam com riqueza de detalhes. Em 1972, o tenente-coronel Ozires Silva deixa o serviço ativo, continuando na presidência da Embraer, que passa a expandir suas vendas no exterior, primeiramente na América Latina, depois nos EUA e Europa. Nesse ponto, o livro nos fala de pressurização, da aeronave Brasília, dos aviões leves e da tentativa de parceria com os “hermanos” argentinos.
O livro também relata como José Sarney convidou o biografado, em 1986, para presidente da Petrobras, onde ficou até julho de 1988. Ozires Silva dá, no texto, suas impressões do período. Em 1989, ele integra a delegação internacional que o consultor austríaco Peter Drucker (1909-2005) leva à China, na época de Deng Xiaoping, para falar sobre como vender para o Ocidente. Em 1990, Ozires Silva é ministro da Infraestrutura, cargo que ocupou por um ano e três meses. Ele faz um balanço do período e menciona como iniciativas de sucesso a telefonia celular e o Sedex.
Ozires Silva assume novamente, em 1991, a Presidência de uma Embraer em crise. A empresa, sob sua direção, é privatizada em dezembro de 1994, com capitais brasileiros. O biografado deixa a Embraer no ano seguinte. O texto observa que, em março de 2011, uma Embraer privatizada contabiliza a venda de 7.660 aeronaves para o mundo todo, incluindo o Embraer 195, para 120 passageiros; e os jatos executivos, Legacy e Lineage.
Novos rumos e uma nova meta
O capítulo “aos 64 anos novos rumos” mostra um Ozires Silva, que, através da Fiesp, participa na feitura da Lei da Inovação, sancionada em 2004; que escreve o livro “Decolagem de um Sonho”, sobre a Embraer; e que assume a Presidência da Varig (2000-2002).
No livro, Ozires Silva comenta sobre as companhias aéreas Varig e Panair – duas perdas irreparáveis para o País – e sobre a TAM do Comandante Rolim Amaro, de quem se torna amigo e cuja trágica morte lamenta.
Um capítulo é dedicado à Pela Nova, um empreendimento hightec na área de biotecnologia, do qual o biografado participou. O capítulo final, “O sonho continua: educação, a nova meta”, invoca o exemplo vitorioso do ITA e da Embraer. Alerta o biografado – “vivemos um momento de alarme e emergência” – sobre “a falta de mão de obra especializada bem formada, num mundo global mergulhado no conhecimento”.
A biografia sobre Ozires Silva é bem-humorada. Contém saborosos detalhes. Pelé nasceu em Bauru (SP) e não em Três Corações (MG), como se propala. A pronúncia “Embriér” e “Bandierante” não atrapalhou a venda dessas aeronaves nos EUA. Na sua posse como presidente da Petrobras, a imprensa não perguntou nada sobre petróleo. Só tiveram questões sobre OVNIS (objetos voadores não identificados). Ozires, em 19 de maio de 1986, voando de Brasília para São José dos Campos, viu luzes, que “não sei dizer o que era, efetivamente”.
Na visita à China, foram colocados 800 dirigentes na Praça da Paz Celestial, no Centro de Pequim. Numa única mesa, observa o biografado! O livro “Ozires Silva” desperta o interesse do leitor e mostra que como diz o biografado que “a vitória pertence àqueles que dela nunca duvidaram”. (JCF)
A biografia de “Ozires Silva” foi editada pela Bizz Editorial. etcmkt@terra.com.br
