Debate no Painel Telebrasil Summit 2022 mostra que a nova era da internet exige capacitação das empresas e das pessoas. Especialistas também refletem que, no metaverso, parcerias e alianças são estratégicas.
Brasília, 29/06/22 – A Web 3.0 – a próxima fase da evolução da internet, que prevê mais conexão por conta das novas tecnologias baseadas em fibra óptica e 5G – será inevitável, mas exige mais capacidade, mais interiorização, mais investimentos e capacitação por parte das empresas e dos usuários. Esta foi a tônica do painel Conectividade para a Web 3.0, realizado no Painel Telebrasil Summit 2022, nesta quarta-feira, 29/06.
O conselheiro da Anatel Emmanoel Campelo foi taxativo: não há como falar de Web 3.0 sem universalizar a banda larga de excelente qualidade, mas também é preciso cuidar da gestão do usuário. “Será que o consumidor está preparado para a Web 3.0? Precisamos deixar claro que a internet não é uma selva, não é um ambiente onde se possa fazer tudo que não é possível fazer no mundo real”, destacou.
Outro ponto destacado no debate pelo secretário de Empreendedorismo e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), José Gontijo, foi a incipiência das aplicações para o metaverso. Segundo ele, o ecossistema de inovação está pronto para o metaverso e o que vier com a Web 3.0, mas enumerou desafios a serem superados, entre eles, o de entender que políticas públicas não possuem a mesma velocidade do avanço da tecnologia. “Estamos fazendo o que pode ser feito e pensando em como fomentar as aplicações necessárias”, afirmou.
A Web 3.0 pode ser definida por três parâmetros: identidade, experiência e propriedade, uma vez que, no mundo virtual, as pessoas querem criar suas identidades, seus avatares, querem comprar produtos e vender serviços, a maior parte pelo metaverso, salientou Inês Maciel, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e conselheira da Associação Brasileira das Empresas de Realidade Expandida (XRBR). Entusiasta do metaverso, a especialista disse que aplicações estão sendo geradas para, por exemplo, áreas de marketing e engenharia, como treinamentos sofisticados no metaverso que seriam perigosos na vida real.
Na propriedade, reforçou Inês Maciel, está o direito autoral na produção de conteúdo, lembrando que o curta-metragem brasileiro A Linha recebeu o prêmio da categoria “Inovação notável em programação interativa” da 72ª edição do prêmio Emmy. “O futuro já é uma realidade. Mas no Brasil o mercado ainda é muito incipiente. Nossos desenvolvedores estão atuando fora do país. A Indústria 4.0 precisa começar a funcionar. Na verdade, o país possui dois gargalos: as empresas precisam conhecer o que é a realidade virtual e aumentada e precisam capacitar profissionais para trabalhar nessas mesmas empresas. Podemos dizer que não adianta ter um carro de corrida sem piloto e sem mecânico”, adicionou.
Os NFTS, ou tokens não-fungíveis, que ganham fôlego com a Web 3.0, vão explodir no mundo do futebol até o final do ano por conta da Copa do Mundo, mas exigem que o consumidor tenha cuidado ao fazer a sua aquisição, pontuou a diretora da IDG NFT, Sylmara Multini. Segundo ela, a indústria é disruptiva, muito nova e ainda nem se imagina quais são as aplicações possíveis e é absolutamente dependente de uma excelente conectividade. “É o momento de fazer o link entre o mundo físico e o digital. E o usuário tem de saber onde comprar a NFT para se proteger, como o faz no mundo real em uma boa aquisição”, reforçou.
Para Lester Garcia, head de Políticas Públicas e Conectividade para América Latina da Meta, uma das principais incentivadoras do metaverso, os desafios no Brasil são os mesmos de qualquer lugar do mundo onde a infraestrutura de conectividade ainda não é de alta qualidade. Ele enfatiza que o nome do jogo se chama latência, mas também é preciso pensar na liberação de espectro por parte dos governos e de mais dispositivos, uma vez que o metaverso precisa ser acessível de qualquer aparelho. “Muitos dispositivos estão em desenvolvimento e são eles que vão permitir ao mercado fazer as aplicações e desenhar os serviços. Nós temos convicção de que a demanda criará a oferta”, destacou.
A conectividade para o metaverso não virá apenas do 5G, mas especialmente da massificação da banda larga fixa por fibra óptica, destacou o diretor de Inovação e Serviços Digitais da Vivo, Rodrigo Gruner. A operadora, afirmou, está buscando entender as oportunidades com o metaverso, tanto que firmou uma parceria de desenvolvimento com a Meta e foi mais uma a reforçar o discurso ‘nada do que está sendo construído acontecerá sem uma mudança cultural das pessoas e o modelo de negócios passa por parcerias’. “Ninguém vai fazer o metaverso sozinho. As pessoas têm de estar abertas às mudanças, precisam ser curiosas. É uma jornada”, completou.
Blockchain
Para Symara Multini, o blockchain – um livro-razão compartilhado e imutável usado para registrar transações, rastrear ativos e aumentar a confiança nas transações virtuais – será o grande transformador da Web 3.0 e do que virá pela frente. “Os bens digitais assegurados pelo ambiente blockchain trazem segurança. Na IDG NFT, os clientes podem olhar em tempo real todas as transações efetivas”, observou.
Ao ser indagada sobre uma possível regulação, a executiva se mostrou contrária. Symara Multini acredita na autorregulação. “Os riscos existem, mas para comprar qualquer bem digital é importante saber onde comprar e o quê comprar. O usuário tem essa responsabilidade”, afirmou. A segurança das transações no metaverso passa por conhecimento, reforçou Inês Maciel, da UFRJ. “Quem compra produtos sem certificação no metaverso o faz também no mundo real. O blockchain traz segurança às transações digitais”, acrescentou.