Cooperação entre setores é chave para fortalecer a segurança do cidadão e das telecomunicações

Autoridades, reguladores e representantes do setor privado debateram estratégias para enfrentar crimes digitais, pirataria e informalidade no setor de telecomunicações
Brasília, 03/09/25 – Representantes do setor público, de entidades reguladoras e do setor privado destacaram, durante o Painel Telebrasil Summit 2025, o avanço do crime organizado no ambiente digital e apontaram medidas para enfrentar o roubo, o vandalismo e receptação de equipamentos, as fraudes digitais e o avanço da informalidade em telecomunicações.
O diretor de Operações Integradas e de Inteligência da Secretaria Nacional de Segurança Pública, Rodney da Silva, órgão ligado ao Ministério da Justiça, chamou atenção para crescente aumento dos crimes digitais. “Estamos vivendo uma epidemia de crimes digitais, cibernéticos, e temos trabalhado com várias frentes de atuação, que envolvem redes colaborativas com a participação de vários órgãos e instituições”, afirmou, durante o debate, mediado por Abraão Balbino, CEO da ABR Telecom. Rodney também apontou os desafios de combater facções criminosas que ocupam territórios e exploram serviços públicos e concessões. “Temos mais de 30 projetos, todos eles voltados ao fortalecimento das forças de segurança”, comentou.
A superintendente de Fiscalização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Gesiléa Fonseca Teles, apresentou um balanço das ações da autarquia no combate à pirataria de equipamentos não homologados. “Já conseguimos tirar do mercado mais de 8 milhões de produtos com valores estimados em 830 milhões de reais”, afirmou.
Ela destacou o uso de inteligência artificial para rastrear anúncios em marketplaces e as medidas contra TV boxes ilegais. “Existem milhões de TV boxes piratas no Brasil que dão acesso a conteúdo audiovisual ilegal. Ou seja, além de não ser homologada, elas trazem um risco seríssimo à segurança cibernética dos usuários. Por meio delas, criminosos acessam todos os tipos de dados”, alertou, reforçando ainda a campanha de conscientização da Anatel. “Temos trabalhado a conscientização do cidadão para que ele busque necessariamente produtos homologados e assim consiga se proteger contra crimes cibernéticos e também proteger o setor de telecomunicações.”
Do lado do setor privado, o vice-presidente da Cleartech, Mário Borges, relacionou o avanço da criminalidade ao uso de tecnologias emergentes. “Vivemos um cenário em que o crime organizado se apropria das mesmas tecnologias que impulsionam a sociedade e os negócios, como a inteligência artificial, para enganar cidadãos muitas vezes vulneráveis pela falta de educação digital.” Ele lembrou que fraudes e ataques cibernéticos já cresceram 30% no Brasil desde 2023 e integram um mercado global que movimenta mais de 500 bilhões de dólares em prejuízos. Para Borges, ampliar a educação digital e reforçar o uso de biometria, tokens e sistemas antifraude são medidas essenciais.
O conselheiro do Comitê Gestor da Internet, Percival Henriques, reforçou que o país vive um momento decisivo no enfrentamento ao crime organizado digital. Ele citou crimes que vão do roubo e comercialização de senhas ao uso de dispositivos transformados em “zumbis” para ataques em larga escala. Segundo ele, a Estratégia Nacional de Segurança Cibernética trouxe avanços ao colocar o cidadão no centro da proteção. “O crime é crime tanto no mundo físico quanto no digital, mas a velocidade e a escala no ambiente virtual exigem um olhar especializado e coordenado para proteger a população e a atividade econômica do país”, afirmou, destacando ainda a importância de fortalecer agências reguladoras, como a Anatel, e integrar órgãos de segurança e justiça.
Já o presidente executivo da Associação NEO, Rodrigo Schuch, trouxe para o debate o problema da informalidade no setor de telecomunicações. “O combate à informalidade está diretamente ligado ao enfrentamento da criminalidade. Precisamos preservar a segurança da infraestrutura, das equipes em campo e, sobretudo, do consumidor, que não pode ser refém de redes tomadas por organizações ilícitas”, disse. Schuch alertou para o crescimento do chamado “cangaço digital”, com sequestro de redes em vários estados, deixando cidadãos sem acesso e fragilizando a economia.