Painel Telebrasil 2022: Governo e empresas trabalham para antecipar operação do 5G

Especialistas admitem que viabilizar a oferta do serviço na faixa de 3,5 GHz, conforme o cronograma aprovado pelo governo federal, é complexo, mas precisa ser feito para assegurar a melhor experiência para o consumidor.

Brasília, 12/07/22 – A operação comercial do 5G foi adiada para setembro, mas a Siga Antenado, nome da Entidade Administradora Faixa de 3,5 GHz (EAF), trabalha para acelerar o cronograma e antecipar prazos, como aconteceu em Brasília, que teve o serviço comercial lançado no dia 6 de julho, com a autorização do Grupo de Acompanhamento da Implantação das Soluções para os Problemas de Interferência na Faixa de 3.625 a 3.700 MHz (Gaispi), presidido pela Anatel.

“Foram três grandes projetos: colocar as estações prontas para executar em banda KU, atividade já concluída. A segunda foi a desocupação, transladando a frequência das estações que estavam em banda C estendida para outra posição da banda C e a proteção das estações FSS”, reportou Leandro Guerra, presidente da Siga Antenado, durante o workshop “5G: implantações de metas 3,5 GHz”, realizado no Painel Telebrasil Summit 2022.

O cronograma prevê que, após as capitais, virão os 26 municípios com 500 mil habitantes e, a partir daí, o processo avança para o interior e ganha volume, abrangendo 4.396 municípios abaixo de 30 mil habitantes em quatro anos, 1.099 por ano.

“A EAF vai ter muito trabalho e, à medida que se executa a implantação, é possível antecipar municípios e adiantar as datas definidas pelo Gaispi. Para que essa antecipação ocorra, é necessário que a desocupação e a mitigação estejam concluídas e a migração iniciada”, afirmou Alex Azevedo, assessor do Conselho Diretor da Anatel.

A EAF vai gerir os R$ 6,3 bilhões aportados pelas vencedoras dos lotes nacionais do leilão de 5G. São três projetos principais: migração da TV-RO para a banda KU, absorvendo a maior parte dos recursos; desocupação da faixa de 3,5 GHz, com menor orçamento, mas o projeto mais complexo; e o Programa Amazônia Integrada Sustentável (PAIS) e Rede Privativa, ambos representando 37% dos recursos.

“Para a migração, já foi destinada a posição orbital 70º e disponibilizados canais em banda KU. A Rede Privativa é composta de três itens: rede móvel, rede fixa e criptografia. Já a Rede PAIS consiste em seis infovias, com 9 mil km de cabos atendendo mais de 40 municípios”, destacou o assessor da Anatel.

Aceleração

De acordo com Leandro Guerra, os principais desafios da entidade são a complexidade dos três projetos e o prazo curto para a implementação. Além disso, é preciso estruturar a EAF. “Temos de implantar seis infovias, incluindo 48 redes metropolitanas, até fevereiro de 2023. Visitamos algumas localidades com fibra, e é impressionante como a conectividade impacta a vida das pessoas”, disse Guerra.

Na Rede Privativa, voltada para o governo federal, serão quatro anos para implantar a rede móvel, que terá 250 mil usuários no Distrito Federal, e processo semelhante na rede fixa com 6,5 mil endereços. Guerra destacou ainda o desafio da escassez dos insumos e situações de lockdown, especialmente na China, que afetam a cadeia logística.

Fábio Alencar, presidente do SindiSat, ressaltou que a implementação do 5G precisa ser acelerada, mas sem impactar os serviços ofertados pela banda C no Brasil, que contava com 500 MHz operando com serviços críticos.

“Nos EUA, a banda C também continuará sendo usada e há 17 mil estações a serem desocupadas ou mitigadas. A EAF citou 30 mil estações, mas no cadastramento do banco de dados da Anatel o número é de 15 mil estações. Este é o primeiro desafio, pois todo projeto precisa lidar com dados confiáveis. O banco de dados da Anatel não tinha estações de recepção. Nossa dúvida é se esses 15 mil representam toda a base e se serão necessários mais filtros. Também esperamos que esse processo não produza nenhuma degradação ao serviço prestado ao cliente”, alertou Alencar.

Por sua vez, Carlos Roseiro, diretor de Soluções da Huawei, lembrou que o 5G está com uma implementação mais rápida que a do 4G. O especialista observou que o 5G foi lançado no mundo em 2019 e algumas operadoras já ultrapassaram a marca de 20% da base dos assinantes na nova rede e superaram a fase da oferta para os early adopters, aqueles consumidores que contratam a tecnologia tão logo ela é lançada, entrando no mercado massivo. Para ele, os fatores que permitiram a essas operadoras acelerar a adoção do 5G foram rede, aparelhos e conteúdo.

“No caso das redes, as operadoras mais avançadas são as que têm maior cobertura, de até 95%, e melhor experiência, que levam os usuários a migrarem para o 5G. Países com mais de 50 milhões de habitantes, como o Brasil, no primeiro ano têm cobertura de mais de 20% da população, ao passo que países menores acabam tendo uma cobertura maior, em torno de 50%. A maior parte das operadoras também começou a implantação pelas capitais”, disse Roseiro.

Em relação aos terminais, o executivo da Huawei citou os dados da Tailândia, que no primeiro ano atingiu uma penetração de apenas 6%, devido a tímida presença de aparelhos de custo baixo. No segundo ano, com aparelhos abaixo de US$ 300, a penetração do serviço subiu para 20%.

“Por fim, não há conteúdos novos e, sim, os mesmos serviços – Youtube, Netflix – com melhor experiência. Mas o que constatamos é que à medida que as redes vão sendo instaladas, os ecossistemas começam a aparecer”, completou Roseiro.

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