5G trará oportunidades e desafios ao mercado brasileiro

Em debate no Painel Telebrasil, representantes de empresas e do governo apontaram as transformações que a chegada das redes 5G vai trazer ao mercado nacional. Anatel promete reduzir ainda mais as barreiras regulatórias para a Internet das Coisas.

Falta pouco para que as redes 5G comecem a operar no Brasil e, desde já, empresas, governo e órgãos reguladores estão avaliando as possibilidades e desafios que a nova tecnologia vai trazer ao mercado. Esse foi o tema de último debate realizado nesta terça-feira, 15/09, no Painel Telebrasil.

Marcos Ferrari, presidente-executivo do SindiTelebrasil, lembrou que estas novas redes devem chegar ao mercado trazendo altíssimas velocidades e baixa latência. “Ao mesmo tempo, trará novos desafios regulatórios, porque várias verticais poderão se desenvolver a partir do 5G e certamente a Anatel terá alguns desafios para resolver aqui”, provocou.

O assessor especial da Anatel Hermano Barros Tercius reconheceu os desafios, mas disse que a agência já vem trabalhando para eliminá-los ou minimizá-los. O primeiro deles será lidar com setores que normalmente não são regulados pela agência. “Nesse ponto, a Anatel planeja atuar em algumas frentes: a primeira é o desenvolvimento de uma cartilha indicando a outorga mais indicada para cada modelo e disponibilizando as informações de forma prévia aos interessados, simplificando o processo”, revelou. Em contrapartida, a entidade espera que a iniciativa desonere a carga da própria agência, dando certa autonomia para os interessados ao deixar a regulamentação clara para todos.

Outra frente em avaliação é a criação de iniciativas de capacitação dos interessados em explorar IoT no mercado brasileiro, o que seria feito em parceria com instituições de ensino. “Outro desafio é permitir o adequado desenvolvimento de diferentes modelos de negócio”, afirmou, lembrando que uma forma pode ser melhorar os mecanismos de acesso”. Tercius citou ainda a possibilidade de se realizar um leilão flexível o suficiente para abarcar todos os segmentos interessados.

A V2COM/WEG é uma das empresas que devem fazer parte deste novo mercado. O CEO da companhia, Guilherme Spina, lembrou que a WEG fabrica mais de 25 milhões de motores elétricos por ano, que são utilizados basicamente em bens de capital, dentro de máquinas, equipamentos e instalações industriais. “Muito em breve estes equipamentos estarão saindo de fábrica inteligentes e conectados, e nosso papel aqui é viabilizar isso”, revelou, lembrando que isso trará ganhos de produtividade, permitindo à indústria conectar todos estes pontos.

Produtividade

A produtividade, aliás, é uma questão relevante. O vice-presidente de Assuntos Institucionais e Regulatórios da Qualcomm, Francisco Giacomini Soares, lembrou que, para isso, é preciso atenção com a tributação. “Se pegarmos os exemplos que estamos vendo pelo mundo, vemos dois fatores preponderantes para essa fase: diminuir a carga tributária e garantir recursos para o IoT, para que ele se desenvolva de forma mais rápida”, diz. Para ele, isso pode acontecer sob forma de financiamento, mas também por meio de recursos não reembolsáveis dados pelo governo.

Soares acredita que as oportunidades vão aumentar sensivelmente, mas enfatizou que este é um movimento que deve ser estimulado por incentivos. “Tudo vai se beneficiar de uma eventual desoneração. É importante a gente falar nisso e ter consciência de que essas coisas não vão acontecer sozinhas”, declarou.

Ferrari concordou e se mostrou otimista com a fala do ministro Paulo Guedes, que na manhã de terça-feira, 15/09, enfatizou o fato de que o governo vai sempre buscar reduzir impostos. “Achei isso importante. Ele também reconheceu que as telecomunicações são o futuro e serão o insumo básico dessa economia baseada em conectividade”, afirmou.

De todo modo, parece haver um consenso de que as redes 5G viabilizarão novos modelos de negócio. Para o diretor de Marketing da Embratel, Alexandre Gomes, isso significa que as empresas que compõem o ecossistema devem buscar um portfólio que atenda as antigas e novas demandas. “Temos procurado o melhor equilíbrio entre o que desenvolver internamente e o que fazer com parceiros, o que nos dá um portfólio robusto de soluções verticalizadas e potencializado por alianças que nos permitem atender melhor nossos clientes”, disse.

A Huawei segue caminho parecido. De acordo com o diretor de Soluções da empresa, Carlos Roseiro, será preciso mudar a lógica do planejamento. Ele explica que antes as operadoras priorizavam os grandes centros, onde havia mais usuários. “Com o 5G, certamente teremos regiões que não seriam consideradas em um planejamento tradicional, mas que serão levadas em conta: uma mina, por exemplo, ou fábricas, armazéns e portos. Nenhuma delas seria prioridade em uma rede tradicional”, comparou.

Agora, Roseiro acredita que esta lógica terá de evoluir para que as empresas de infraestrutura atendam diferentes requisitos, incluindo aí acordos de nível de serviço diferenciados para segmentos específicos de negócio. “As operadoras terão de ser capazes de fatiar sua rede, entregando o SLA específico; para isso estamos desenvolvendo o que chamamos de network slicing, em que a operadora pode entregar a fatia de rede que determinado setor precisa”, sublinhou.

Por tudo isso, Ferrari, do SindiTelebrasil, acredita que o mercado está migrando para um novo modelo de competitividade, que deverá ser mantido. Essa é a intenção também da Anatel. De acordo com Tercius, a agência vem realizando uma série de esforços para diminuir as barreiras regulatórias e manter a competição. “A Anatel percebeu essa necessidade em 2017 e aí abrimos um processo específico para avaliar essa redução. Houve uma consulta pública e está em nosso gabinete para avaliação final. Podemos adiantar que está próximo de ser levado a julgamento. Esse processo trará mudanças de regulamentação que são necessárias para que o ambiente de IoT se desenvolva”, revelou.

O assessor especial da agência ressaltou que os esforços para assegurar o desenvolvimento já vêm acontecendo há um bom tempo. “Do final do ano passado para cá, executamos mais de dez mudanças regulatórias. Aqui entra o novo regulamento geral de outorgas; o regulamento de qualidade; regulamento de arrecadação de receitas tributárias. Foram mais de dez e nós esperamos superar essa etapa agora”, concluiu.

Os debates sobre diversos temas terão sequência ao longo desta terça-feira 15, e nos dias 22 e 29 de setembro. As inscrições são gratuitas, e a programação completa do Painel pode ser acessada no site http://paineltelebrasil.org.br/.

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