Painel Telebrasil Summit 2023: Redes neutras são impulsionadoras do 5G

Consolidação de ofertas de redes neutras abre novas oportunidades de mercado para provedores regionais e MVNOs

Brasília, 13/09/23 – O uso das redes neutras para a expansão das ofertas de serviços de telecomunicações no Brasil – de fibra a 5G – foi tema de debate no Painel Telebrasil Summit 2023, nesta quarta-feira (13). Com a participação de fornecedores de redes, provedores e da Anatel, o painel destacou a importância das redes neutras para a diversificação e ampliação do mercado.

O managing diretor do Boston Consulting Group e mediador do painel, Otávio Dantas, lembrou que o mercado brasileiro tem o desafio histórico de rentabilizar os grandes investimentos inerentes à indústria de telecomunicações. “Há uma série de obrigações necessárias, mas também uma pressão enorme sobre as empresas do ponto de vista financeiro”, disse. Por seu lado, o mercado vem encontrando saídas que ajudam a minimizar essa pressão, e as redes neutras são um bom exemplo disso.

O conselheiro da Anatel Moisés Moreira destacou que a infraestrutura sempre foi um entrave para a cobertura dos gaps de conectividade existentes no Brasil e que o compartilhamento de infraestrutura cobre essas lacunas. “A Anatel encara as redes neutras com bons olhos”, afirmou, lembrando que elas também beneficiam as grandes operadoras.

O CCO da I-Systems, Marcio Estefan, concordou e, indo além, disse que quem não entendeu a lógica das redes neutras está perdendo dinheiro. Ele enfatizou que uma empresa que decida investir em sua própria rede está perdendo a oportunidade de atacar um mercado muito maior. Também afirmou que há hoje operadoras virtuais crescendo a taxas maiores do que aquelas focadas em Capex. “Vamos começar a ver o aprendizado de que vale a pena investir seus esforços para ter clientes e não construir redes, porque é isso que vai gerar valor no final do dia.”

O CCO da V.tal, Pedro Arakawa, lembrou que, além da lógica econômica, é importante garantir operações que funcionem sem atrito. “Hoje temos mais de 70 empresas utilizando nossa rede, o que só é possível porque permitimos que elas entreguem sua primeira conexão em menos de 60 dias e ofereçam conexões robustas que podem ser entregues em larga escala”, frisou, reforçando a importância da qualidade e da estabilidade dos serviços oferecidos.

Otávio Dantas citou o exemplo dos ISPs, que também têm se beneficiado das redes neutras. “Temos visto um grande movimento entre os ISPs, que estão se consolidando e recebendo investimentos de grandes fundos”, disse. A FiBrasil, que tem Alex Jucius como CCMO, tem atendido vários desses provedores.

Jucius citou o exemplo de provedores que, por exemplo, querem começar a operar em cidades de 100 mil habitantes, mas não têm infraestrutura para isso. “Com a rede neutra e seus diferentes modelos de negócio, o ISP tem uma alternativa adicional para buscar atender a cidade que ele tem o sonho de fazer”, comentou. Ele lembrou ainda que há outros ISPs mais focados em rentabilizar suas próprias redes e que a FiBrasil vem desenvolvendo ofertas que fazem sentido também para este grupo.

Modelo semelhante vem sendo adotado com as redes 5G, que também demandam novos investimentos. Para o diretor de Assuntos Regulatórios e Institucionais da Ligga Telecom, Vitor Menezes, é preciso avaliar cada caso.

“As empresas precisam avaliar o que vale mais a pena: construir, adquirir uma empresa que tenha sua própria rede ou usar uma rede neutra. Temos feito esse exercício e tentado identificar como a conta fecha melhor”, explicou. Segundo Menezes, o fato é que muitas vezes a conta não fecha, o que deixa claro que há situações distintas. “Às vezes a melhor saída pode ser ter um parceiro como esses players de rede neutra”, disse.

Já para o vice-presidente Regulatório e Estratégico da Algar, Renato Paschoareli, as vantagens econômicas do compartilhamento são indiscutíveis. Ele comparou o momento atual com o vivido há alguns anos, quando os valores envolvidos no compartilhamento de redes eram altíssimos para novos entrantes e, mais que isso, não havia garantia de neutralidade da rede. “Isso afastou a possibilidade de compartilhar investimentos por muitos anos”, afirmou.

Hoje, no entanto, a companhia aposta no compartilhamento via MVNO para realizar os planos de expansão traçados a partir de sua participação no leilão das redes 5G. “Acreditamos em compartilhamento único via MVNO porque, em um mercado onde plataforma é um modelo e o dinheiro é escasso, não é razoável pensar em fazer todo o investimento com recursos próprios”, explicou.

Para Arakawa, da V.tal, a neutralidade não é mais um problema. Controlada por um fundo de investimentos, a companhia tem mais de 70 clientes conectados e ele garante que ela hoje é vista como efetivamente neutra. O mesmo ocorre com a I-Systems, está controlada por uma empresa especializada em infraestrutura. “Construímos uma rede e operamos para que outros a usem. Jamais vamos competir com nossos clientes, isso está muito bem equacionado”, completou Estefan.

Ele reconhece que o custo de entrada varia de acordo com a região pretendida pelo cliente. A I-Systems opera hoje em grandes cidades – como São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador – e o executivo argumentou que o custo de entrar em uma delas pode variar. De todo modo, Estefan afirmou que a função da I-Systems é ser uma facilitadora que deve entender a necessidade de crescimento de seus clientes. “Em cada cidade, de acordo com a estratégia do cliente, temos conseguido achar caminhos para que eles se juntem à nossa rede e tenham os benefícios. Procuramos facilitar ao máximo para que a relação custo x benefício compense”, disse.

Jucius, da FiBrasil, acredita que as redes neutras já são uma realidade no mercado. Sobre a garantia de neutralidade, ele lembra que o fundo que detém 50% do controle da companhia quer que ela seja rentabilizada e que isso depende de trazer clientes. “Por isso a neutralidade é garantida em contrato. Além disso, não é mais uma preocupação: 90% dos potenciais clientes nos procuram preocupados com qualidade de rede, integração com ERPs de mercado etc.”, afirmou.

Sobre o custo, ele destacou a importância de definir o modelo de negócio e lembrou que há diferentes alternativas para cada tipo de cliente. “Temos que oferecer a alternativa que o cliente realmente precisa e isso também não tem sido barreira para o fechamento de negócios”, revelou.

Estimulando redes 5G

Um dos pontos levantados por Dantas, do BCG, foi o ritmo de implementação das redes 5G no Brasil e a possível participação das redes neutras nesse processo. Moreira, da Anatel, disse que, mesmo com os problemas de escassez de semicondutores vividos entre 2021 e 2022, a evolução do 5G tem sido duas vezes mais rápida do que a das redes 4G.

Sobre o uso das redes neutras, Menezes, da Ligga Telecom, ponderou que as empresas regionais têm hoje características muito parecidas com a dos ISPs de alguns anos atrás. “Como aconteceu com a distribuição de banda larga fixa, hoje temos empresas que vão compor o espaço de competitividade na telefonia móvel.”

Para Menezes, o mercado brasileiro vive um momento em que a estrutura de conectividade está se tornando commodity. “Não há vantagens grandes para quem já tem redes instaladas, e o uso de redes neutras é interessante tanto do ponto de vista de país quanto de estratégia de operadoras”, afirmou, lembrando que a maioria dos operadores regionais está adiantando obrigações, com 10 vezes mais cidades conectadas do que o previsto.

Também comparando com as redes fixas, Paschoareli, da Algar, acredita que tanto do ponto de vista de competição de redes neutras, quanto de redes 5G, o Brasil tem hoje uma série de cidades que serão beneficiadas pelo modelo. “O modelo de negócio neutro é complementar para pequenos operadores. Queremos nesse cenário utilizar o que estiver de mais disponível”, afirmou.

O executivo defendeu ainda a interoperabilidade entre as diferentes operadoras, destacando a existência de aplicações críticas que não aceitam a operação de uma única rede. “Seja na segurança pública ou em um atendimento médico de urgência, não é possível ter área de sombra, por isso temos buscado o máximo possível de compartilhamento. Com a IoT, a atuação da Anatel e a vinda da rede neutra, vamos começar a entender que sozinhos não vamos a lugar nenhum”, concluiu.

Foto: Ricardo Ribeiro – Estúdio Versailles/Telebrasil

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