Após sucesso do 5G, painel debate desafios para os próximos leilões de espectro

Planejamento de longo prazo, previsibilidade regulatória, diálogo com a sociedade e preços adequados para o espectro serão determinantes para que o país mantenha seu protagonismo digital

Brasília, 03/09/25 – O Painel Temático Espectro com propósito: caminhos para um Brasil digital e inovador, realizado na quarta-feira (3), no Painel Telebrasil Summit 2025, reuniu representantes da GSMA, Anatel, operadoras, fornecedores de tecnologia e órgãos de controle para discutir a importância do espectro para a expansão da conectividade no país. O debate girou em torno do papel estratégico do espectro, o sucesso da implantação do 5G e os desafios que já se desenham para o futuro, incluindo o 6G.

Luiz Felippe Zoghbi, diretor de Espectro da GSMA, abriu a discussão destacando que o 5G já alcança mais de mil municípios brasileiros, cobrindo cerca de 70% da população, com velocidades superiores a 500 Mbps. Ele alertou, no entanto, para o futuro: o tráfego de dados deve crescer 3,5 vezes até 2030, pressionando a necessidade de novas faixas. “O espectro atual não será suficiente. Precisamos discutir desde já o 6G, a largura de faixa necessária e, principalmente, o preço do espectro. Quanto mais caro, menor a capacidade de investimento das operadoras”, afirmou.

Cristiana Camarate, superintendente de Relações com Consumidores da Anatel, comemorou os avanços do 5G. Segundo ela, o Brasil optou por um modelo de 5G stand alone, que hoje oferece velocidades médias de 350 Mbps, superiores às registradas nos Estados Unidos e Canadá. Ela citou também a importância do planejamento de espectro de longo prazo, com editais de faixas em andamento no TCU e no conselho da Anatel. “Estamos atuando com transparência, previsibilidade e segurança jurídica. Isso é fundamental para garantir investimentos e acesso a novas faixas”, disse.

Do lado das operadoras, Anderson Azevedo, diretor de Estratégia Regulatória da Vivo, ressaltou que o sucesso da implantação do 5G se deve a três fatores: a realização de um leilão não arrecadatório, a abundância de espectro disponibilizada e a previsão de compartilhamento de redes. “Foi um processo realizado no tempo certo, atendendo a uma demanda real e com um ecossistema maduro. Isso garantiu o êxito”, afirmou.

Marcelo Mejias, diretor de Políticas Públicas e Competição da TIM Brasil, destacou a necessidade de segurança jurídica na utilização das faixas e alertou: “Cada faixa tem sua vocação. Se não houver um ecossistema de terminais ou recursos para investimento, o leilão não será bem-sucedido.”

Paulo Sisnando Rodrigues de Araújo, auditor na Secretaria-Geral de Controle Externo do TCU, explicou que o tribunal avalia se os compromissos assumidos em leilões estão alinhados às políticas públicas. “Nosso objetivo é analisar se os compromissos estão bem valorados e em consonância com os objetivos do Estado”, disse. Ele cobrou ainda planejamento de longo prazo, para que o Brasil saiba que tipo de conectividade quer oferecer em 10 ou 15 anos.

Comunicação e futuro

Patrícia Abreu, diretora de Sustentabilidade da EAF | Siga Antenado, enfatizou o papel da comunicação na antecipação da faixa de 3,5 GHz. Segundo ela, a mobilização da população foi essencial para o sucesso da migração de parabólicas, que já distribuiu 5 milhões de kits gratuitos de antenas parabólicas. “Colocar o cidadão no centro da política pública foi o diferencial. Escuta ativa virou respeito e garantiu adesão em todas as regiões”, afirmou.

Jacqueline Lopes, diretora de Relações Governamentais LATAM South na Ericsson, lembrou a importância de manter previsibilidade e diálogo constante entre governo, sociedade e empresas. “O Brasil deu um exemplo positivo com o leilão do 5G. Agora precisamos garantir a harmonização internacional, sobretudo na discussão sobre o 6 GHz, que será decisivo para equilibrar cobertura e capacidade.”

Os especialistas também discutiram as faixas que estarão no centro das próximas decisões regulatórias. Sobre o 6 GHz, a Anatel indicou que deve haver definição até o primeiro semestre de 2026, avaliando se será destinada ao SMP ou ao Wi-Fi. Para as operadoras, como ressaltou Azevedo, da Vivo, o desafio está em equilibrar viabilidade técnica, demanda efetiva e capacidade de investimento. Já a faixa de 600 MHz permanece em impasse. Uma portaria do Ministério das Comunicações chegou a defini-la como primária, mas decreto recente a reservou para a TV 3.0, o que trouxe insegurança para o setor.

Para os participantes do painel, o Brasil conseguiu dar um passo firme na implantação do 5G, mas os desafios do futuro já batem à porta. Planejamento de longo prazo, previsibilidade regulatória, diálogo com a sociedade e preços adequados para o espectro serão determinantes para que o país mantenha seu protagonismo digital.

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