Cloud e Inteligência Artificial trazem desafios ao setor de telecom

Especialistas reunidos no Painel Telebrasil 2020 discutiram os novos parâmetros de políticas públicas e sobre como as organizações estão se posicionando para lidar com a transformação digital e ingressar na era dos serviços inteligentes.

O mundo – e também o Brasil – está vivendo um momento de transformações paradigmáticas, que leva o mercado a repensar a relação com a tecnologia. A computação em nuvem e a Inteligência Artificial (IA) são protagonistas nesse cenário e, por isso mesmo, foram tema de debate na terça-feira (15/09), durante o segundo dia do Painel Telebrasil 2020.

José Nilo, vice-presidente de Cloud da Huawei; César Augusto dos Santos, CIO da Claro Brasil; André Moura Gomes, analista principal da Cullen Consultoria e Miriam Wimmer, diretora  do Departamento de Políticas para Telecomunicações e Acompanhamento Regulatório da Secretaria de Telecomunicações do Ministério das Comunicações, participaram do workshop Cloud e: realidade e desafios ao mercado de Telecom, mediado por Adriana Sarkis, gerente de Assuntos Regulatórios do SindiTelebrasil. Eles discutiram os novos parâmetros de políticas públicas e sobre como as organizações estão se posicionando para lidar com a transformação digital e ingressar na era dos serviços inteligentes.

Na Huawei, a nuvem vem representando um pilar de aceleração dos negócios. A fabricante chinesa lançou recentemente uma unidade de negócios voltada especificamente para serviços de nuvem e inteligência artificial. Atualmente, a nuvem pública da Huawei oferece mais de 220 serviços, sendo aproximadamente 60 deles relacionados à área de desenvolvimento de serviços por empresas e indivíduos na área de IA. “A nuvem tem foco em agilizar e facilitar o desenvolvimento de modelos de AI. Trouxe a inovação do processo de negócios, que vai mais além da atualização do processo de negócios”, afirmou José Nilo.

Já na Claro Brasil, a nuvem teve um papel de transformação acelerada. “A Claro vem adotando uma estratégia de multicloud, buscando tirar o que há de melhor em cada provedor”, explicou Santos, acrescentando que a operadora vem investindo, especialmente durante a pandemia, em big data e IA para conhecer e atender os clientes e fazer as melhores ofertas.

André Moura Gomes observou que, quando o assunto é cloud computing, a discussão principal também deve passar por entender como a sociedade pode alcançar a nuvem, como pode levar o mundo real para o novo ambiente. E isso passa necessariamente por questões de segurança e regulatórias. Em sua visão, a legislação não pode ser tão territorialista, principalmente porque uma das características principais da nuvem é a sua capacidade de manter dados armazenados em qualquer parte do mundo. “É preciso haver cooperação entre os países para se chegar a um nível igualitário de proteção, independentemente de onde os dados estão efetivamente armazenados”, disse Gomes. “Fica o desafio de aplicação da legislação sem uma âncora na questão da territorialidade.”

Cloud viabilizando inovação

A diretora de Telecomunicações e Acompanhamento Regulatório do Ministério das Comunicações, Miriam Wimmer, avalia que as tecnologias de cloud e IA se apresentam com grande potencial de elevar a competitividade no setor. “O setor de telecomunicações se engajou e muitos players já exemplificaram os benefícios que a IA está trazendo para o setor”, afirmou, referindo-se à Consulta Pública da Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial, realizada pelo MCTIC no início deste ano.

Nilo, da Huawei, e Santos, da Claro, concordam que a computação em nuvem removeu barreiras ligadas à necessidade de investimentos quando se quer conceber novas ideias, startups e pequenos negócios. “A cloud permitiu que grandes ideias fossem lançadas e frutificadas sem a necessidade de investimentos extraordinários. A barreira se reduz quando falamos em cloud e, se pensarmos os serviços de IA como subserviços de nuvem, eles também não serão obstáculos sob o ponto de vista de custos”, opinou José Nilo.

Santos, da Claro, complementou lembrando que há alguns anos era inimaginável que uma empresa se formasse sem ter um data center, por menor que ele fosse. “Hoje é muito fácil habilitar um negócio com capacidade de crescimento rápido através da computação em nuvem”, analisou. “O portfólio existente hoje no mercado permite popularizar o uso de cloud e de tecnologias para toda a população e para a sociedade.”

Além de identificar as áreas prioritárias nos campos de IA e IoT, Miriam contou que a Consulta trouxe à luz uma discussão transversal ligada à legislação, governança e uso ético da IA. Segundo ela, ainda não há consenso entre os players do setor de telecomunicações em relação ao desenvolvimento de uma lei específica para a inteligência artificial. A especialista destacou que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) já aprovou um conjunto de princípios sobre IA e o Brasil, que tem participação ativa no comitê mundial de políticas para economia digital, foi um dos países que subscreveu esses princípios. “O que é certo é que os debates internacionais colocam em alta discussões além da tecnologia; eles levam em conta os seus impactos sobre a sociedade.”

LGPD

A adoção da computação em nuvem e da Inteligência Artificial está intrinsecamente ligada ao uso de dados. Por isso, a LGPD não poderia ficar de fora do debate. Miriam lembrou que a nova lei entra em vigor no Brasil na próxima sexta-feira (18/09).

Para os especialistas, os maiores desafios serão as mudanças nos princípios já estabelecidos, que devem surgir a partir de usos até aqui inexistentes da tecnologia. A relativa fragilidade no sentido de recursos para aplicação da legislação deve ser outra questão para se prestar atenção. Para Adriana Sarkis, gerente de Assuntos Regulatórios do SindiTelebrasil, reside exatamente aí a importância de se ter uma legislação alinhada aos novos modelos de negócios.

Os debates sobre diversos temas terão sequência nos dias 22 e 29 de setembro. As inscrições são gratuitas, e a programação completa do Painel pode ser acessada no site http://paineltelebrasil.org.br/.

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