Conectividade rural é prioridade do Governo

Responsáveis pelas áreas de inovação dos ministérios da Agricultura e da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações revelam estratégias federais para levar conectividade ao campo. Eles participaram de sessão temática sobre conectividade rural, TICs e o agronegócio no Painel Telebrasil 2019.

A conectividade no campo é prioridade do governo para fomentar novos negócios nas áreas rurais. Na sessão temática Conectividade Rural, TICs e o agronegócio, realizada nesta terça-feira, 21/05, no Painel Telebrasil, o tema foi debatido pelo governo, por meio dos Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), e por representantes das prestadoras de serviços de telecomunicações TIM Brasil, Claro Brasil e Telefônica e pela fabricante Huawei.

O coordenador de Internet das Coisas do MCTIC, Thales Marçal, lembrou que um dos focos do novo governo é o desenvolvimento da Internet das Coisas (IoT) devido ao potencial de aplicações na área agrícola. “Estamos trabalhando um acordo de cooperação com o MAPA que deve unir desenvolvimento científico e tecnológico com as demandas do setor”, afirmou.

Uma das iniciativas citadas pelo coordenador foi a criação da Câmara Agro 4.0, que deve definir ações prioritárias para o setor. Ele citou também a iniciativa Teias da Inovação, que deve levar ações e instrumentos de inovação a pequenas e médias cidades do País. “Com foco exclusivo em agricultura, devemos realizar em breve um evento em Piracicaba (SP)”, disse.

Se as iniciativas caminham por um lado, por outro há questões regulatórias a serem definidas. “Precisamos resolver a questão do PLC 79/16, porque é preciso modernizar a Lei Geral de Telecomunicações. Já se passou muito tempo da privatização e isso precisa ser resolvido dentro do Congresso. Outro ponto importante é colocar o decreto de Internet das Coisas em funcionamento. Está no plano de 200 dias do governo”, revelou Marçal.

Ele também ressaltou que as ações do governo federal devem resultar na implementação de redes até a porteira das fazendas. “Feito isso, colocar a conectividade para dentro da porteira é muito mais simples. Os pequenos produtores precisarão de apoio”, disse.

O foco em conectividade no campo foi reforçado pelo responsável pela recém criada Diretoria de Inovação do MAPA, Luis Cláudio França. Ele lembrou que a diretoria foi criada com o objetivo de centralizar esforços e fazer com que diversos projetos relacionados ao uso de tecnologia na agricultura saiam do papel. “Estamos na agricultura 3.0, com sistemas guiados e agricultura de precisão. Nosso foco na agricultura 4.0 é garantir maior produtividade e maior qualidade dos alimentos”, avaliou.

França reiterou que, ao contrário de outros setores, o PIB da agricultura chegou a 13% em 2017 e que, com o uso da tecnologia, a produtividade do setor pode ser ampliada de 10% a 15%. Uma das iniciativas para que isso aconteça foi feita em conjunto com a Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de são Paulo): um levantamento dos melhores locais para a oferta de serviços privados de telecomunicações, que identificou o Sudeste, Centro-Oeste e Sul.

“O Ministério da Agricultura contratou a Esalq para identificar as principais regiões e pontos para se colocar as antenas. O estudo está em conclusão, mas traz as principais regiões e a altura necessária de antenas para atender todas as regiões agriculturáveis do país. Vamos trabalhar uma política de governo que acelere estes investimentos”, afirmou.

O diretor de Inovação do MAPA enfatizou que, além das iniciativas, há entraves a serem superados, como a baixa cobertura de rede, a falta de linhas de crédito para equipamentos e prestação de serviços e a necessidade de maior capacidade de armazenamento e processamento, além da escassez de mão de obra.

Para superar esses desafios, segundo França, o ministério pretende atuar em quatro frentes: acesso a internet, aumento de produtividade, fomento de novos arranjos produtivos e melhoria nas exportações de soluções de IoT. Para tanto, sua área vem realizando iniciativas como a criação do Fórum de Inovação Agropecuário, que deve reunir, em 2020, ministros da agricultura de diversos países, e a implementação de polos tecnológicos agropecuários.

“Tudo isso para que possamos fazer um esforço de sistematizar e mapear as iniciativas, tirando do papel muitas pesquisas que estão sendo feitas, difundindo inovação e trabalhando tecnologias que precisam ser desenvolvidas no Brasil”, afirmou.

Mais mercado, mais soluções

Para as prestadoras de serviços de telecomunicações e fornecedoras de equipamentos de infraestrutura, o interesse do governo na área deve fomentar ainda mais a oferta de soluções para o setor. Para o diretor de Relações Institucionais da Huawei, Juelinton Silveira, a agricultura inteligente é baseada em IoT, que não é possível sem conectividade.

“Esse gap existe por conta do ambiente de negócios de alto custo e baixo retorno, em que os investimentos terminam nos setores sub-urbanos e não chegam ao setor rural. É necessário que o governo consiga puxar os investimentos nessas áreas”, disse.

Outro ponto destacado por Silveira foi a necessidade de se definir a melhor tecnologia para que a conectividade no campo seja viabilizada. “O NB-IoT é a tecnologia mais robusta para a agricultura inteligente, já que oferece maior duração de bateria, área de cobertura mais ampla, conexão massiva (100 mil sensores por célula) e menor custo por módulo.

O diretor de IoT e M2M da Claro Brasil, Eduardo Polidoro, ressaltou que a companhia quer entregar redução de custo e aumento de produtividade ao setor rural no Brasil. “Fazemos isso levando soluções de agricultura digital, gestão logística, pós-colheita e rastreabilidade, que é cada vez mais importante, porque garante a qualidade do produto não apenas na agricultura, mas também na pecuária”, disse.

Ele revelou que a Claro Brasil está lançando duas redes novas, LTE NB-IoT e Cat-MI. “Também oferecemos satélites banda KA e KU, que fazem mais sentido como backhaul de uma rede sem fio local, por exemplo. Também a rede Mesh, que é menos robusta, mas pode ser utilizada em aplicações que não façam uso continuo de dados”, afirmou.

A TIM Brasil também tem ofertas em curso. O diretor de Marketing B2B da companhia, Rafael Marques, afirmou que o foco de atuação da prestadora tem se baseado em três grandes pilares a serem escalados: “a tecnologia tem de ser aberta, tem de ser acessível e tem de ser simples. Sem isso, não será possível escalar a conectividade no campo”, sublinhou.

Uma das ações da TIM Brasil é a participação na iniciativa ConectarAgro. “Trata-se de um grupo que reúne grandes empresas de tecnologia e fabricantes de equipamentos agrícolas com o objetivo – em um ambiente de cooperação – de levar a conectividade para o campo.”

Caminho semelhante segue a Telefonica. De acordo com Fabiano Carvalho, executivo de Relações Institucionais da companhia, a proposta é entregar soluções de alto valor agregado ao setor. Um dos exemplos é o projeto conjunto realizado pela prestadora com a Esalq, a Ericsson, a Raízen e uma série de startups.

“A Vivo entra com a rede móvel 4G, a Ericsson com infraestrutura de telecomunicações, a Raízen com estrutura agrícola e a Esalq com conhecimento acadêmico. Junto destes, temos seis startups que foram selecionadas para participar do projeto. Entre elas há o desenvolvimento de soluções de trator conectado, estação meteorológica e agropecuária de precisão, por exemplo.”

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