Ecossistemas de serviços digitais reforçam a intersetorialidade de telecom

A jornada digital, acelerada pela pandemia, não tem mais volta e está incorporada ao dia a dia dos negócios e à vida pessoal do cidadão.

Cada vez mais as empresas e operadoras de telecomunicações estão voltando suas baterias para setores da economia com alta demanda de serviços digitais e que, para isso, estão criando seus próprios ecossistemas. A transformação digital se dissemina, cria oportunidades para atores de diversos mercados e dá chance para que as teles atuem como protagonistas nesses cenários. Essa intersetorialidade, inclusive, já atingiu a própria Anatel.

Esse comportamento fica muito claro quando se reúnem, em uma mesma mesa, representantes de áreas diferentes, como financeira, educação e logística, e representantes de telecomunicações, como a própria agência reguladora. Este foi o caso do painel A conectividade transformando os serviços, realizado nesta terça-feira, 14/09, no Painel Telebrasil 2021, que mostrou como a iniciativa privada tem acelerado a digitalização, principalmente após a pandemia, e como não pretende diminuir o ritmo na oferta de serviços digitais.

Raul Moreira, conselheiro do Banco Original e PicPay, é testemunha dos avanços digitais que vêm ocorrendo no sistema financeiro e que devem aumentar com o Open Banking. Ele lembrou que é muito importante que os dois setores, bancário e telecom, caminhem juntos para solucionar dois problemas importantes que, de alguma forma, estão relacionados: a inclusão financeira e a inclusão digital.

Na sua avaliação, há três fatores que influenciam o mercado financeiro a intensificar a evolução tecnológica e de serviços. O primeiro está relacionado à evolução da regulação por parte do Banco Central, que permitiu uma nova dinâmica competitiva. O segundo fator é a própria evolução tecnológica, com a mobilidade se tornando o canal preferencial dos clientes. E, por fim, o novo consumidor, muito mais disposto a utilizar os serviços digitais.

Conectividade

A Kroton, grupo da área de educação, conta com a conectividade móvel para triplicar o número de alunos – atualmente 5 milhões, mas com um potencial de 32 milhões que concluíram o ensino médio e não fizeram faculdade, e aumentar sua cobertura – está em 1.600 cidades. Depois de ter entendido o poder do alcance móvel, a empresa lançou mais de 100 produtos, inclusive em cidades que nunca tiveram um curso superior, ampliando seu alcance.

Leonardo Queiroz, vice-presidente do grupo, concorda que a pandemia acelerou a procura por cursos online. Somente nesse período, a matrícula, que estava em 420 mil alunos, pulou para 670 mil. Ele reforçou que o alto percentual de desemprego, cerca de 14%, é bem mais baixo, 5%, para quem tem nível superior.

Conectar navios, saber a temperatura dentro de containers, prever um possível atraso na entrega de produtos por conta de imprevistos e resolvê-los antes que se tornem problemas são algumas das tarefas da Aliança Navegação e Logística. “Temos 700 navios espalhados pelo mundo, precisamos saber o tempo todo onde estão, a velocidade, a quantidade de CO2 que emitem, sinalizar para alterações se elas estiverem em alta”, comentou o diretor-geral, Marcus Voloch.

A necessidade de conexão e serviços digitais também está no controle de 6 milhões de containers, que precisam ser monitorados em tempo real para que, por exemplo, um exportador de carne possa saber a temperatura dentro desses locais, o nível de oxigênio, de nitrogênio. Para antecipar problemas, a companhia comprou uma solução de análise preditiva.

Com a IBM, a Aliança fechou uma parceria para utilizar blockchain em todo o rastreamento dos produtos. Essa solução é aceita em todo o mundo, eliminando burocracia e dando a confiabilidade necessária.

Para Rodrigo Abreu, CEO da Oi, esses casos são música para os ouvidos. Porque é justamente na oferta de serviços digitais corporativos que está baseada a maior parte da estratégia da empresa. “A conectividade sempre foi fundamental, mas as pessoas começaram a pensar com mais seriedade sobre isso durante a pandemia. Isso nos abre outras portas˜, observou o executivo.

Ele detalhou que a operadora trabalha com duas dinâmicas, oferecendo seu portfólio de serviços digitais para as áreas B2B – serviços diretos para pequenas e médias empresas e B2C – novos tipos de serviços.

Se para as operadoras se abre uma porta, para a Anatel amplia a sua atuação intersetorial. O presidente da agência, Leonardo Euler de Morais, reiterou que esse comportamento já vem acontecendo de alguma forma, mas concorda que deve se intensificar. Como exemplo, citou a colaboração da agência com o Banco Central para a normatização do Open Banking, as conversas com o BID para o desenvolvimento de soluções de educação e saúde, ou mesmo a consulta a vários setores do governo, como o responsável por rodovias, para a elaboração do edital 5G.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo