Ericsson defende um plano para 5G com foco em inovação, acesso a espectro e redução da carga tributária

O CEO Eduardo Ricotta clamou por uma estratégia voltada ao 5G para criar novas demandas. Defendeu o leilão não arrecadatório para que os recursos sejam integralmente destinados à infraestrutura.

O presidente da Ericsson, Eduardo Ricotta, defendeu a necessidade da criação de um plano nacional para o 5G contemplando investimentos em educação, garantia de espectro, redução da carga tributária, segurança da informação e aceleração da digitalização em setores prioritários. Ele destacou que a pandemia colocou o setor de telecomunicações em evidência e houve uma grande mudança nos hábitos da população, que deve continuar nos próximos anos.

Para ele, é fundamental criar uma estratégia para o 5G visando as novas demandas. “Hoje, todos os serviços estão focados em IoT, banda larga móvel, etc. No 5G, é preciso capturar o potencial de hoje e desenvolver o do futuro baseado na eficiência da indústria 4.0, IoT crítica para cirurgias remotas, carro conectado e máquinas autônomas”, afirmou ao palestrar no Painel Telebrasil 2020.

“Precisamos o mais rápido possível ter um plano para o 5G que passa por cinco pontos. O primeiro é como assegurar a inovação. O segundo é garantir espectro, amplo e eficiente. Hoje ainda temos um custo alto comparado ao de 40 países. É fundamental termos um leilão não arrecadatório para o 5G para focarmos toda a energia na infraestrutura”, explicou.

“O terceiro ponto é que precisamos reduzir a carga tributária; o setor não pode ter a mesma tributação que joia, tabaco e bebida. Vamos aproveitar a discussão da reforma tributária para inserir o setor de telecomunicações como infraestrutura básica. Também precisamos garantir segurança das redes e privacidade, com uma legislação robusta. E, por último, precisamos assegurar a aceleração tecnológica nas verticais prioritárias”, acrescentou. 

Segundo Ricotta, a Ericsson foi pioneira na implementação de 5G em cinco continentes, com mais de 100 contratos assinados e 60 redes comerciais ativas em 30 países. A empresa atua fortemente na padronização e tem o maior número de patentes essenciais no 5G. Também lançou na América Latina o primeiro 5G DSS, que é o passo inicial para o 5G, permitindo a ultra banda larga.

“Acreditamos no Brasil. Anunciamos no ano passado investimentos de R$ 1 bilhão nos próximos cinco anos para P&D e na produção do 5G em São José dos Campos/SP. E exportamos 40% da produção para a América Latina, soluções de 2G, 3G, 4G e, futuramente, 5G”, acrescentou.

Resiliência

Para Ricotta, o setor mostrou resiliência durante o período de pandemia, apesar do crescimento exponencial da demanda. A internet fixa e móvel cresceu mais de 30% no Brasil, o volume de pagamentos via celular aumentou 32% e houve uma expansão de 41% nos serviços de telecomunicações.

“Empresas nativas digitais conseguiram criar valor durante a pandemia, e outras empresas tiveram de se adaptar rapidamente. Nesse cenário, dois setores mostraram alta resiliência: telecomunicações – porque as pessoas precisavam estar conectadas para acessar saúde, educação, trabalho remoto e serviços – e alimentação. Telecom saiu do top 10 para o top 3 de prioridade no consumo das famílias. É uma mudança de hábito que veio para ficar. Telecomunicações nunca foram tão críticas como agora”, afirmou.

Ele destacou o boom de digitalização em diversos setores. O varejo, em cinco meses, teve uma aceleração digital equivalente à de um a três anos. O setor de saúde e o trabalho remoto tiveram, em cinco meses, uma aceleração de três a cinco anos. A Ericsson fez uma pesquisa sobre como as pessoas se sentiam em relação ao trabalho remoto e 68% dos entrevistados disseram que vão continuar atuando dessa forma após a pandemia. A educação, nos últimos cinco meses, sofreu uma aceleração da digitalização equivalente à dos próximos 10 anos.

“Há empresas aumentando vendas e outras sofreram muito. O Mercado Livre, em três meses, bateu a meta dos próximos três anos. A C&A aumentou as vendas em 250%; a Natura viu as receitas crescerem 248%. Está muito claro que as empresas mais digitalizadas vão se sair bem. Mas há desafios, como conteúdo e ferramentas para saúde e educação, setores que não estavam preparados para essa digitalização tão rápida. Outro desafio é a bancarização: entre 30 milhões e 40 milhões de brasileiros não têm contas bancárias. O governo também precisa de plataformas digitais para atender a população”, elencou Ricotta.

O executivo enfatizou que a atividade econômica teve uma queda brutal, no pior desempenho depois da II Guerra Mundial. Os EUA já demonstram uma recuperação em V, devendo chegar ao final do ano com um nível de atividade similar à do período pré-pandemia. No país, a economia digital é muito robusta e maior que o PIB do Brasil, o que ajuda uma recuperação mais rápida. 

“Tudo isso está ligado à tecnologia, os fundos de venture capital investiram, em 2019, US$ 250 bilhões, dos quais 37% foram em software, que há 10 anos representava apenas 26%. No Brasil, precisamos reduzir o spread digital. Os setores de varejo e de serviços financeiros são altamente digitalizados. Já o agrobusiness, que representa 24% do PIB, é muito pouco.”

Considerando as TICs como vetor de inovação, as 2,5 mil maiores empresas investiram, em 2019, em pesquisa, desenvolvimento e inovação US$ 1,1 trilhão, o equivalente a 60% do PIB brasileiro. Telecomunicações e TI representam 40% desse volume.  De acordo com o Global Inovation Index 2020, os 10 principais países em atração de investimentos vão da Suíça à Coreia do Sul. O Brasil está na 62ª posição e precisa melhorar a classificação no ranking.

“Esses 10 países são top 10 também na adoção do 5G. Hoje, a Ericsson tem 17 redes 5G nesses países, o que mostra uma conexão forte de tecnologia e inovação. A Ericsson tem investido muito no Brasil. Há 50 anos criamos nosso Centro de P&D e investimos mais de R$ 1 bilhão nos últimos 10 anos”, disse Ricotta.

O Painel Telebrasil 2020 terá também programação no dia 29 de setembro. Assista no site  www.paineltelebrasil.org.br.

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