Falta de mão de obra qualificada em TICs espanta investidores

Mais de 50% dos jovens brasileiros podem ficar fora do mercado de trabalho por falta de qualificação e de habilidades digitais. A advertência é de especialistas que debateram sobre educação e capacitação digital no Painel Telebrasil 2019.

Um estudo recente do Banco Mundial aponta que 50% dos jovens brasileiros estão em risco de desengajamento econômico, ou seja, em risco de não ingressar no mercado de trabalho. Diante disso, e do fato de 82% das microempresas considerarem habilidade digitais importantes na hora da contratação, empresas como Facebook, Oi Futuro e Cisco têm investido em projetos de educação e capacitação de jovens.

As necessidades e perspectivas de educação e capacitação digital foram tema de sessão temática durante o Painel Telebrasil 2019 nesta quarta-feira 22/05. “O Facebook entende que sua contribuição para a evolução e o desenvolvimento do País passa necessariamente pela capacitação de jovens, e a orientação do Banco Mundial é exatamente que todo tipo de educação a jovens seja voltada ao mercado de trabalho”, afirmou Andrea Leal, gerente de Políticas Públicas do Facebook.

Andrea Leal apresentou alguns dos programas mantidos pelo Facebook com essa finalidade. Entre eles, está a Estação Hack, um centro de inovação da companhia em São Paulo, onde são conduzidos cursos de formação de jovens e o lançamento e aceleração de startups – em 2018, 30 novas empresas foram aceleradas a partir do projeto. Desde 2017, o projeto já treinou mais de 12 mil jovens nos cursos de programação e desenvolvimento de aplicativos, inovação e preparação para o mercado de trabalho.

“O Facebook também realiza anualmente o Dia Internacional das Meninas de TIC, com workshops sobre novas tecnologias voltados para estudantes mulheres do Ensino Médio”, detalhou Andrea, mencionando ainda o Conectando seu Futuro, um projeto de inclusão social de jovens entre 15 e 29 anos. “O Conectando seu Futuro ensina desde o uso de programas largamente utilizados no mercado, como Microsoft Word e Excel, até tecnologias de introdução à inteligência artificial e realidade aumentada”, explicou.

O Oi Futuro também mantém uma série de iniciativas para preparar os jovens para o mercado de trabalho. Carla Uller, gerente executiva de Inovação Social da instituição, destacou dados do Fórum Econômico Mundial que indicam que, até 2022, 42% das tarefas em 12 indústrias serão feitas por máquinas e, no mesmo prazo, novas funções responderão por 27% do mercado de trabalho. “Nesse cenário, o mercado precisa de estratégias para encontrar e desenvolver esse novo profissional”, ressaltou a executiva, acrescentando que 20% dos líderes de RH apontam parcerias estratégicas com instituições públicas e o setor educacional como parte da solução.

Giuseppe Marrara, diretor de Políticas Públicas da Cisco, lembrou que a transformação digital se apoia em três pilares: pessoas, processos e tecnologia. “De nada vale ter as melhores tecnologias e processos se não tivermos pessoas capacitadas”, assegurou. Marrara afirmou que 480 milhões de empregos tradicionais serão perdidos nos próximos anos, mas destacou que eles serão substituídos por 510 milhões de empregos digitais. “Precisamos ter a mão de obra treinada para absorver essas oportunidades.”

É sob esta proposta que a Cisco Academy vem trabalhando há anos no Brasil. Marrara contou que a empresa enfrenta desafios para preencher as lacunas de empregos. Dois anos atrás, de acordo com o executivo, apenas no mercado de redes no Brasil, faltavam 85 mil profissionais. Em dois anos, houve um aumento de 30 mil pessoas, e o gap passou a ser de 115 mil posições. “A Cisco Academy, através de parcerias com universidades, bancos, escolas e as Forças Armadas, formou 247 mil alunos desde a sua chegada ao Brasil, há 20 anos”, revelou Marrara. Nas Forças Armadas, 993 especialistas em segurança cibernética foram formados pela Cisco Academy.

A sessão do Painel Telebrasil ainda contou com a participação do coronel Paulo Sergio, do Ministério da Defesa. O comandante da Escola Nacional de Defesa Cibernética falou sobre a estratégia – antecipada pela Agência Telebrasil – montada para a formação de mão de obra, a partir da oferta de cursos  a distância e presenciais, voltados para a formação de militares e civis na área de cibersegurança.

Sergio Garcia Alves, coordenador-geral de Ambiente de Negócios do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, falou sobre o Marco Legal de Startups, criado pelo MCTIC para alinhar discursos e interesses de toda a engrenagem que compõe o ecossistema de startups, e apresentou o Startup Point, um portal que reúne as diferentes ações do ministério para que, com base nas características de cada um deles, os empreendedores entendam e escolham qual o programa mais adequado às suas iniciativas e necessidades.

Rodrigo Zerbone, subsecretario de Capital Humano do Ministério da Economia, comentou que o Brasil vive desde a década de 1980 o problema da falta de incremento da produtividade de sua mão de obra, apesar do aumento do nível de escolaridade. “A dificuldade de encontrar pessoas com qualificação correta espanta investidores e a instalação de empresas”, disse.

Zerbone destacou que, apesar do alto índice de desemprego, 30% das empresas brasileiras têm dificuldades de encontrar mão de obra qualificada para as suas necessidades. Em tempos de economia acelerada, esse índice chegou a 70%. “Fica a lição de que políticas de curto prazo não geram impacto”, afirmou. Segundo ele, os R$ 15 bilhões investidos pelo governo no Pronatec, por exemplo, tiveram impacto nulo. “Houve um desencontro entre a oferta e a demanda real das qualificações”, explicou.

O subsecretário revelou que o Ministério deve lançar ainda em julho deste ano uma estratégia para a conexão da demanda de curto prazo. “Existem setores com demandas aquecidas. A finalidade é atender a esses setores da melhor maneira, especialmente com recursos do sistema S, que não foram impactados”, explicou. Agora, disse Zerbone, as políticas de incentivo para a contratação de qualificação serão liberadas conforme os resultados alcançados. “Se a empresa alcançar nível de empregabilidade, recebe o dinheiro. Do contrário, não”, completou.

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