Futurecom 2011: Um olhar, sem compromisso, sobre o ecossistema, em sua 13ª edição – I

Futurecom é a grande reunião anual das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), com tribos de todos os lugares. Sua 13ª edição transcorreu, de 12 a 14 de setembro último, no Expo Center Transamérica, na capital paulista. Feira e congresso somaram mais de 15 mil participantes. Na sessão de gala, autoridades anunciaram a histórica sanção do PL-116, que abre o mercado de TV a cabo para a entrada das teles e cria cotas para o conteúdo nacional. O próxima Futurecom, em 2012, migra para o Riocentro. Aqui, a primeira parte.

A Provisuale, promotora do Futurecom, é uma Associada TELEBRASIL.

O clima geral reinante no 13º Futurecom – refletido na convergência da maioria dos painéis – foi, no básico, o de uma colmeia feliz. Marcando o grande background do evento, a visão de um cenário europeu e norte-americano, com finanças turbulentas, repercutindo na economia real dessas regiões; a revolta jovem, no Oriente Médio e alhures; os in memoriam do 11 de Setembro; e, sobretudo, o tsunami econômico sino-asiático, adentrando, inexoravelmente, no comércio mundial.

Em tal ambiente planetário, o Brasil é apontado como a “bola da vez”, a ilha de tranquilidade para a qual fluem os dinheiros sólidos – e também os especulativos – do mundo. Eles vêm atraídos pelas expectativas de maior rentabilidade, com estabilidade. O País celebrou seu upgrade de Baa3 para Baa2, dado por uma agência mundial de rating, enquanto que a nota dos EUA caiu do sempiterno AAA para AA+.

Na Terra de Santa Cruz ocorreu o fato histórico, inconteste, da emergência das classes econômicas C (53% da população) e D/E. Isso trouxe para o Futurecom a discussão de como adaptar a infraestrutura das TICs para gerar um círculo verdadeiramente virtuoso de produtos e serviços a fim de viabilizar o atendimento a uma família que ganha, em média, R$ 809 por mês (D/E).

Obviamente, nem tudo na conjuntura do País são rosas. Há o dragão da inflação esperando logo ali na esquina. Há a dupla sinistra, sempre presente, “corrupção e violência”. O Brasil é muito grande e ainda desigual. O desafio da universalização das TICs em banda larga – ocorrem iniciativas e muito discurso para sua solução – ainda está aí firme para ser vencido.

Como pano de fundo do 13º Futurecom, vige a conjuntura das TICs em vigor no País. Num esboço sucinto, há um elenco de prestadoras competindo (ferozmente) por um usuário cada vez mais volúvel. O quadro se completa com uma indústria, local e mundial, se digladiando (sem quartel) pelo mercado das prestadoras. Tudo isso regido pelas forças que agitam a iniciativa privada, numa arena regulada pelo Estado. Este, além de outorgar concessões e autorizações, é dono do espectro radioelétrico e de posições orbitais que internacionalmente lhe cabem, além do poder de ditar as regras tributárias e outras.

O modelo das TICs vai agora se ampliar com a chegada da superdiscutida – levou mais de quatro anos para sua aprovação – Lei do Audiovisual (ex-PLC-116), birregulada (Anatel e Ancine), que vai mexer com a geração e divulgação do conteúdo, além de abrir, para as teles, o mercado de TV a cabo.

O ecossistema da feira

O ecossistema do 13º Futurecom tem suas palavras-chave. Uma delas é concorrência. A pessoa jurídica vai ao evento para ver, ser vista e competir. Futurecom é basicamente uma feira de negócios aliada a um congresso de ideias.

Os 22 mil m2 do grande galpão, adaptado aos trade show do Expo Center Transamérica, abrigaram estandes grandes, médios e pequenos; abertos e fechados; com um ou dois andares; de colorido vivo ou em matizes mais discretas; e mostrando, ou não, equipamentos, produtos, slogans e serviços. Um estande revela muito da importância que, num particular evento, a direção da entidade achou que deveria investir em seu status e imagem.

Cada espaço na feira se identifica como um host para atrair e recepcionar amigos, clientes e parceiros, atuais e futuros. É o lugar e o momento das comidinhas, das maquininhas de fazer café, dos folhetos, dos CD-ROMs e os pendrives e das pequenas (e grandes) atenções que estimulam o bom relacionamento empresarial e institucional. Recepcionistas primaram pela classe durante o 13º Futurecom, segundo a fórmula “atrair sim, distrair, nunca”. As joias eletrônicas, colocadas à disposição do público nos estandes, estiveram presas (sempre mui discretamente), por um cordel de aço.

Todo ecossistema tem sua cadeia de valor. Na tese que tamanho é, de fato, documento, tiveram os maiores estandes na feira do 13º Futurecom: o trio chinês Huawei, Fiber Home e ZTE; as norte-americanas Cisco e IBM; o trio europeu Alcatel-Lucent, Ericsson, Nokia Siemens; e o trio das operadoras Telefônica/Vivo, Embratel e TIM. Todos apostando no ecossistema Brasil com seu generoso e imenso mercado, gerando uma demanda crescente para as aplicações completas de TICs, cuja satisfação representa amplos e sustentados investimentos.

A geografia da localização de um estande na feira também diz bastante. Os chineses elegeram ficar na entrada da mostra, onde passava todo o mundo. Um dos estandes, em vermelho conspícuo e o outro em azul-verde luminoso, não passou despercebido. Um grande banner laranja, do lado de fora na entrada do Expo Center, avisava sobre a localização do outro grande estande chinês. O vice-ministro da indústria e tecnologia da Informação da China, Guo Yanyan, veio ao 13º Futurecom.

Muitos espaços primaram pelo bom gosto. Cores claras e o branco predominaram na feira. A destacar o design apurado do estande da NEC, com maquete de uma cidade inteligente. A estratégia da localização teve as suas sutilezas. Coincidência, ou não, o estande de uma prestadora ficou logo vizinho ao de um regulador. Lugar disputado foi o da saída de um dos principais auditórios do congresso, sempre com muita gente passando e folhetos sendo distribuídos.

Pequenos e médios elementos ocupam lugar importante em qualquer ecossistema. O 13º Futurecom não fugiu à regra. Estandes de alta tecnologia – não vamos citar nenhum para não deixar ninguém de fora, mas foram muitos – e estandes de nicho, de todos os tipos, formaram a maioria dos 373 expositores do evento. Cada qual com sua especificidade, defendida com unhas e dentes, principalmente se o negócio é novo e parece promissor. Outra maneira pela qual os expositores se organizaram foi formando clusters, sob uma bandeira comum, a exemplo do que fizeram Canadá, França, Abranet e o Espaço da Empresa Inovadora, este último numa promoção da Provisuale.

A TELEBRASIL e seu parceiro Teleco (acesse os dados do setor em http://www.telebrasil.org.br) localizaram-se em pequenos estandes próximos. A primeira lançou uma publicação sobre banda larga e outra a respeito da qualidade de acesso à Internet no Brasil. Um mostrador digital, pulsando num telão, indicava “um novo acesso em banda larga ativado a cada dois segundos no Brasil”. O repórter registrou, em 15 de setembro pela manhã, um total de “47 milhões 993 mil e 555 acessos”.

No segundo dia da mostra, o quase austero estande da Telebrás recebeu a visita de Paulo Bernardo e Cezar Alvarez, respectivamente titular e secretário-executivo do Ministério das Comunicações.

O ecossistema do Congresso – I

Os números informados ao repórter, pelo promotor do evento, Laudálio Veiga, indicam que foram mais de 300 palestrantes, durante os três dias do congresso do 13º Futurecom, para um público bem acima de 3 mil congressistas.

Durante a Babel do 13º Futurecom, falou-se em todas as línguas. A que predominou foi a dos negócios, proferida em Português; seguida do Espanhol, principalmente com sotaque latino-americano; do Inglês, que, por enquanto, é o Esperanto do mundo; do Mandarim, em subida; e de outras menos votadas. A não esquecer os dois grandes “quebra-galho” da comunicação oral: o “portunhol” e o “espanholuso”, que foram pronunciados sob todos os sotaques. Os participantes do congresso puderam recorrer a tradução simultânea, entre Inglês e Português.

Concomitante com a feira, o congresso é o outro grande pilar do evento. Em ambos vigeram a concorrência e o tratamento hierárquico. A regra do jogo é brutalmente simples: quem paga, ou representa mais, obtém mais. Como comentou, com verve, um arguto observador de uma multinacional, acostumado aos diferenciais nos Futurecom: “dá mais status ser premium key speaker no auditório nobre Brasil, do que ser distinguished key note, num outro auditório”.

Em termos logísticos, o congresso do 13º Futurecom ocupou sete espaços, com mais de 300 palestras para um público acima de 3 mil congressistas. No ranking dos auditórios, o de nome “Brasil”, de 936 m2, três portas de acesso, dois telões “ao vivo”, palco para 15 poltronas e púlpito, se classificou em primeiro lugar. Ele abrigou as palestras do pessoal VIP (very important people). Os auditórios de porte médio, IT Arena e Arena Internet e Inovação, disputaram classificação com os espaços menores, México e Colômbia.

Um espaço no mezanino do Expo Center (2 mil m2) abrigou o workshop My Fire (future internet research and experimentation) sobre a cooperação da União Europeia e do Brasil para a Internet do futuro. O mezanino, dividido em salas privativas, abrigou as business suites de praxe, locus de importantes encontros.

O ecossistema do Congresso – II

O congresso do 13º Futurecom abriu às 09h15min do primeiro dia, no auditório Brasil, com o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), embaixador Ronaldo da Mota Sardenberg, dando sua visão sobre o papel da agência. O mandato do conselheiro da Anatel, Sardenberg, vai até novembro de 2011, admitida a recondução.

Seguiram-se na grade premium do primeiro dia os executivos das prestadoras locais: Amos Genish (presidente da GVT), Antonio Carlos Valente (presidente da Telefônica no Brasil), Francisco Valim (novo presidente da Oi); e as autoridades do exterior, Diego M. Vega (ministro de TI e Telecom da Colômbia) e Hamadoun Touré (secretário-geral da UIT, pela primeira vez no Brasil). No segundo dia, foi a vez, ainda no auditório Brasil, de Luca Luciani (presidente da TIM) e Caio Bonilha (presidente da Telebrás) e dos top executives da Portugal Telecom (Zeinal Bava); da Nokia Siemens Networks (Rajeev Surj); e da Siemens Enterprise Communications (Hamid Akhavan e Chris Hummel).

Todas as palestras proferidas por tais conferencistas VIPs elevaram e atualizaram o nível de conhecimentos dos participantes do congresso do 13º Futurecom. A concorrência, sempre presente até entre palestrantes, beneficia o participante. Cada palestra, em si, pela riqueza da informação, é digna de matérias em separado. Do conjunto das palestras do 13º Futurecom emergiu o quadro de que o mundo das TICs continua em desenvolvimento. A grande palavra-chave é “banda larga”, cujas promessas e realidades de acesso, Internet, velocidade, qualidade, conteúdo, estão mudando a sociedade, e se encontra apenas no início.

A iniciativa privada, com suas concessionárias e autorizadas, carrega o grosso das telecomunicações do País. Do lado governamental, a Telebrás pretende conectar à Internet 150 cidades brasileiras ainda este ano. A rede irá do município de Calçoene (AP) ao de Rio Grande (RS). Mais de 600 prestadores de serviço já se cadastraram no portal da empresa, sinalizando o interesse em participar do Programa Nacional de Banda Larga (PNBL). A pesada carga tributária que cai sobre as telecomunicações do País, bem como as elevadas receitas não utilizadas de fundos, foi tema recorrente na maioria dos debates ao longo do 13º Futurecom.

O auditório Brasil, no terceiro dia, abrigou o Mega Trends com três palestrantes, velhos guerreiros da revolução digital. Foi lembrado que o fenômeno foi originado no Silicon Valley da Califórnia (EUA) – crédito deve ser dado aos EUA pelo hardware e software e rede IP, cujo uso prático logo entenderam – que transformou de maneira avassaladora o mundo. Os EUA, através da FCC – Federal Communications Commision –, depois de longa discussão, tiveram a coragem de fracionar o monolítico sistema Bell instituindo novo modelo para suas telecomunicações.

Falaram John Strand (CEO da Strand Consult), John C. Dvorak (colunista que acompanhou a revolução do PC); e o professor, de mais de 35 mil estudantes, Jeffrey Cole (dirigente do Centro do Futuro Digital da Anneberg School da USC – University of Southern California). A palestra programada de Peter Suh (CEO mundial da WAC – Wholesale Applications Community) não aconteceu. A interação homem-tela passou do teclado para o joystick e o mouse (o clique-clique dele cria hábito) e agora para os dedos. Uma garotinha de quatro anos passando o dedo no televisor e não vendo nada mudar exclamou: “mamãe, mamãe, a TV tá quebrada”. Sinal dos tempos, com tablets e assemelhados.

A sessão de encerramento teve um auditório Brasil repleto para assistir, “ao vivo e em cores” e em telões, Marcelo Tas, engenheiro pela USP, jornalista, comunicador (dois anos, em 1988, de interactive TV communications, na New York University), blogueiro e “supernerd”. Contou sua vida, desde criancinha, com muita verve. Usou sua carreira como gancho. O recado básico: ocorreu uma revolução gigantesca na maneira de se comunicar. Estamos num mundo conectado. O blog do Tas, no Terra, tem 300 mil visitantes. O seu CQC, na TV Bandeirantes, é mistura explosiva de jornalismo, humor e interação. Mostrou como Twitter e Facebook podem dar voz ao indivíduo insatisfeito e contou os cases do “sou contra a Brastemp” ou “odeio o Spoleto”.

Diáro Oficial da União com a Lei nº 12.485

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