Painel Telebrasil 2022: Metaverso vai exigir muitas mudanças pela frente, além da conectividade
A tecnologia é uma evolução da internet, mas demanda discussões imediatas de adequação dos pontos de vista regulatório e tecnológico para confirmar as expectativas, afirmaram especialistas no workshop ‘Metaverso e Conectividade’, realizado no Painel Telebrasil Summit 2022.
Brasília, 11/07/22 – O metaverso não é uma nova internet, e há questões regulatórias e tecnológicas e até de adequação do governo para que ele seja uma realidade. Esta foi a posição comum defendida por especialistas ao participarem do workshop‘Metaverso e Conectividade’, realizado no Painel Telebrasil Summit 2022.
Responsável por trazer a nova tecnologia à mesa de debates globais, a Meta, dona do Facebook e do Instagram, considera o metaverso uma evolução, e não uma revolução, da internet. “A Meta acredita que o metaverso começa com a infraestrutura, com os equipamentos e as redes e, nesse sentido, precisamos discutir as condições para que isso aconteça”, afirmou a diretora de Políticas Públicas, Conectividade & Infraestrutura LATAM da Meta, Ana Luiza Valadares. “O Brasil está numa posição privilegiada com relação ao avanço para as tecnologias de metaverso, web 3.0 e web 4.0. O Brasil é um exemplo de ação regulatória e de ação empresarial”, reforçou a executiva.
Há desafios dos pontos de vista regulatório e tecnológico para que o metaverso se torne realidade, apontou o presidente da Anatel, Carlos Baigorri. Ele concorda que a web 3.0 é uma internet descentralizada, não concentrada nas big techs, em que o blockchain, as NFTs e as criptomoedas terão papel essencial. “Para quem acompanha as discussões do mercado cripto, existem diversos desafios de natureza técnica, como interoperabilidade e escalabilidade e os mecanismos de consenso que se imagina serão usados na web 3.0, mas que ainda não foram testados numa blockchain relevante”, alertou Baigorri.
Ele citou ainda o mecanismo de proof of stake (um incentivo de negociação de criptomoedas), que há anos patina no blockchain Ethereum. “Quando a gente traz isso para o ambiente regulatório, existe muito desconhecimento sobre blockchain e criptomoedas. E a discussão legislativa tem uma abordagem como se isso fosse uma questão apenas de lavagem de dinheiro e não uma plataforma de tecnologia”, afirmou o presidente da Anatel.
Francisco Giacomini, vice-presidente de Relações Governamentais da Qualcomm, disse que o metaverso é tema crítico para a companhia, que acredita no desenvolvimento da tecnologia e já tem processadores específicos para a aplicação. Mas ele concorda que há diversos desafios, como as realidades aumentada e virtual. “A conectividade é um dos desafios que poderá ser solucionado com o 5G e o WiFi 6. Outro desafio são os processadores com baixo consumo e os óculos.“
A diretora de Novos Serviços da Algar, Zaima Milazzo, comparou o início do metaverso ao da implementação da Internet das Coisas. Ela destacou que o metaverso se dá por meio de ecossistemas, assim como a IoT, e outra similaridade seriam os casos de uso, em que cada um exige uma abordagem e um modelo diferentes. “Existe desafio para todo o ecossistema de tecnologia para o metaverso acontecer. Na conectividade, já temos uma infraestrutura, mas precisamos evoluir na camada de virtualização e na computação de borda para que a experiência do cliente seja a mais próxima da realidade. Isso é o metaverso: transformar o mundo físico em virtual”, sinalizou.
Zaima Milazzo ponderou que a indústria ainda precisa evoluir muito nos óculos e nos dispositivos de uma forma geral. Também há a camada das aplicações, em que empresas como a Meta e a indústria de games já evoluíram muito. “Em 2024 se projeta para o metaverso US$ 800 milhões. Mas, para isso acontecer, é preciso evoluirmos em todas essas camadas.”
O presidente da Anatel afirmou que a estrutura do Estado para lidar com as questões da revolução tecnológica e da transformação digital ainda é inadequada. Para ele, a agência reguladora, sozinha, não pode atuar além da camada de infraestrutura – disponibilizando espectro e certificando espectro – e haverá a necessidade de interação com outros órgãos, trazendo ainda mais complexidade.
No projeto de lei sobre criptomoedas que tramita no Congresso Nacional, há a previsão de que valores acima de R$ 10 mil precisariam ser notificados ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), o que significa que haveria interação com órgãos de controle e instituições que regulam o mercado financeiro. “Cada vez ficará mais claro o quanto é inadequada a infraestrutura do Estado para lidar com esses desafios. Isso já foi objeto do relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre o marco regulatório do Brasil. E essa revolução vai expor cada vez mais o país”, completou o presidente da Anatel.