5G: é hora de monetizar a rede

Com a implementação das redes a pleno vapor, operadoras buscam novas formas de monetização

Brasília, 07/11/24 – Desde a conclusão do leilão do 5G no Brasil, as operadoras têm investido, em média, R$ 35 bilhões por ano na estruturação de suas redes. Como elas devem começar a monetizar esses investimentos foi o tema de um dos debates realizados no Painel Telebrasil 2024.

Mediado pelo diretor de Regulação e Inovação da Conexis Brasil Digital, Fernando Soares, o painel reuniu provedores, fornecedores e a Anatel para discutir os caminhos possíveis para o 5G no Brasil. Soares lembrou ser fundamental defender a essencialidade do setor de telecomunicações, já que ele tem a capacidade de gerar crescimento para o país.

O vice-presidente de Negócios da Algar Telecom, Márcio de Jesus, ressaltou que o 5G já é uma realidade no Brasil, uma realidade que se materializou de forma bastante consistente. O executivo destacou que algumas aplicações vêm ganhando escala, começando pela possibilidade de pacotes de dados maiores e mais estabilidade na conexão para usuários domésticos. “Começamos a ver aplicações com potencial de contribuir com essa escala e trazer novos usos, com outros dispositivos”, disse.

Para o mercado B2B, Jesus acredita que a grande aposta são aplicações que aumentem a produtividade de negócios, o que começa a ficar evidente em setores como o agronegócio. Outra tendência é o uso das redes 5G como redundância para redes terrestres, com o uso de soluções FWA. “O ponto em que estamos hoje mostra um terreno fértil e os próximos anos serão ainda mais profícuos”, acrescentou.

O diretor de redes móveis para enterprise da Nokia Latin America, Renato Bueno, ressaltou o trabalho que vem sendo realizado pela Anatel para a liberação de espectro para redes privativas, o que deve ampliar a receita também das operadoras. Ele disse, no entanto, que o 5G ainda não impactou a receita das operadoras em nenhum lugar do mundo. “Certamente novos serviços virão, mas a grande oportunidade imediata são as redes privativas, levando o potencial dessa tecnologia para o mercado corporativo”, frisou.

Bueno acredita que novas aplicações devem surgir à medida que as operadoras passarem a atender problemas de negócios simples, dando origem a novos modelos de negócio. “Temos uma série de novos entrantes trazendo soluções específicas para setores como varejo e logística, por exemplo”, afirmou. Outra tendência apontada por ele é o uso das redes 5G em áreas indoor.

Já o diretor de marketing ICT da Huawei Brasil, Carlos Roseiro, apontou que o motor da monetização começa pela construção de uma base para o consumidor final. “O 5G já está alimentando o arco das operadoras e ainda há muitos pacotes maiores a serem vendidos para os consumidores finais. É um business a ser trabalhado”, ressaltou. Outra tendência, segundo Roseiro, é a monetização da experiência, que permite às operadoras cobrar mais daqueles consumidores que querem contar com garantia de banda em estádios ou em transmissões ao vivo.

Toda essa movimentação exige atenção da Anatel. Por isso, o superintendente de Competição da agência, José Borges, defendeu que o órgão regulador deve pensar em uma estrutura de mercado, estimulando a inovação e o bem-estar do usuário. “O 5G traz um novo paradigma industrial, com novas formas de monetização, e o regulador atua como um orquestrador, pensando em como estimular essas inovações”, afirmou.

Enquanto isso, as operadoras continuam a busca por novas oportunidades. Jesus, da Algar, ressaltou que o setor tem uma dinâmica intensa, o que obriga a adoção de movimentos criativos e parcerias. Um exemplo é o compartilhamento do core de rede, que permite dividir o peso dos investimentos. “Também temos uma plataforma de IoT com mais de 4 milhões de dispositivos conectados. São apostas que devem permitir a cadência contínua de investimentos exigida do setor”, explicou.

Bueno, da Nokia, lembrou que cada oportunidade de negócio requer uma especialização em um trabalho de ecossistema. “Há vários setores com demandas desatendidas. É importante que as operadoras entendam essas verticais e construam os skills para atendê-las. É um trabalho de ecossistema”, reforçou.

Para Roseiro, da Huawei, devem ser incluídas no rol das oportunidades as aplicações baseadas em IA, que estão somente começando e certamente serão disruptivas. “A IA vai criar oportunidades e novas demandas para a rede. A carga via aumentar muito. A IA também vai permitir às operadoras gerir as redes de forma mais eficiente.”

Por tudo isso, Borges, da Anatel, defendeu que a visão do regulador seja estruturada e de longo prazo. Do mesmo modo que o 4G revolucionou a comunicação entre pessoas, o 5G deve revolucionar a comunicação entre máquinas em um processo que deve levar tempo, passando pelo desenvolvimento de casos de uso antes da massificação.

“É uma grande pauta digital que precisa ser estruturada, desenvolvida e disponibilizada, passando pelo crivo do mercado e virando inovação. Isso é complexo e não se faz de um dia para o outro”, afirmou. Mais que isso, sob o ponto de vista de política pública, é um processo que envolve outras setores, exigindo uma política ampla que integre tudo isso em um plano de nação. Jesus, da Algar, listou ainda outros itens como questão tributária, disponibilidade de devices, letramento digital etc.

Ainda entre os desafios, Bueno, da Nokia, citou demandas que não podem ser atendidas por conta de restrições de altura e potência. “Tributos são sempre um desafio enorme, assim como câmbio e taxas de juro, que são questões estruturantes”, concluiu.

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