Por dentro da queda do dólar

Em artigo publicado na revista Economy&Law, o presidente executivo da Conexis, Marcos Ferrari, e a analista de estudos econômicos, Amanda Lopes, falaram sobre o cenário de volatilidade do dólar

Em queda consistente desde janeiro de 2022, a desvalorização do dólar americano frente ao real é um evento multifacetado e provavelmente não duradouro, marcado pelo cenário político-econômico internacional instável, política monetária contracionista e alta no preço das commodities. Dentre as moedas de países emergentes e desenvolvidos, o real é a moeda com maior valorização em 2022, com 15% no ano.

A postura ativa do Bacen contra o processo inflacionário, reflexo da pandemia, tem garantido injeção de investimento externo no país. Segundo dados da Infinity Asset, o Brasil tinha a segunda maior taxa de juros real do mundo (7,1%) em março, perdendo apenas para a Rússia (30%). Esse fato tem atraído os investidores estrangeiros, que buscam maior rentabilidade. Com o fechamento do IPCA Março acima das previsões, a curva de juros DI aponta para Selic acima de 13% em 2022 e um ciclo de contração no anos posteriores mais lento do que o esperado.

Outro fator relevante para entender o momento do dólar é a alta de preços de commodities no mercado internacional. O conflito na Ucrânia acelerou uma tendência de alta do preço do petróleo que vinha da restrição de oferta promovida pela OPEP em 2020. Os contratos futuros do barril Brent romperam a barreira de US$ 120 em março de 2022. Além dos combustíveis, alguns dos principais itens da pauta agrícola, como milho e trigo, chegaram na maior cotação dos últimos 10 anos. Por ser um país exportador de commodities, o Brasil foi beneficiado pela alta.

Vale acrescentar que as assimetrias identificadas pelos investidores estrangeiros na bolsa tornaram o mercado brasileiro mais atrativo. A alta dos juros no mundo direciona o capital para empresas mais consolidadas e de caixa elevado. A atratividade do mercado brasileiro na comparação internacional é derivada da baixa precificação dos papéis, aliada a alta concentração de empresas do setor agrícola e petrolífero na B3.

No primeiro trimestre de 2022, o Ibovespa acumulou valorização de 15,5%, fortemente influenciado pelo saldo do fluxo de capital estrangeiro de 64,1 bilhões no mesmo período. Importante ressaltar que a impossibilidade de investimentos na Rússia e fuga de capital do Leste Europeu, têm também sido fatores determinantes para o bom desempenho brasileiro.

A conjuntura de câmbio valorizado favorece a diversificação da carteira, abrindo possibilidades para o investidor brasileiro ingressar no mercado de capitais internacional. Além disso, contribui para o controle da inflação via o componente importado dos insumos. Porém, é importante ressaltar que os fatores que tem levado a desvalorização do dólar em 2022 são de curto prazo. A economia brasileira permanecerá sujeita a volatilidade do cenário internacional, principalmente as próximas movimentações do FED, e do cenário interno, com eleições e política fiscal em desarmonia.

O Brasil precisa sinalizar para o mundo compromissos críveis nos fundamentos fiscais, de modo a garantir uma taxa de câmbio de equilíbrio mais favorável e consistente no longo prazo. Essa é a saída para garantir previsibilidade e atrair investimentos de forma sustentada para o Brasil.

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Marcos Ferrari | Presidente Executivo

Marcos Ferrari, presidente-executivo da Conexis Brasil Digital, é doutor em economia, pela UFRJ e foi diretor de Infraestrutura e Governo do BNDES. Foi também secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento, de 2016 a 2018, e anteriormente secretário adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Exerceu o papel de presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo.

Amanda Lopes

Amanda Lopes é graduada em Ciências Econômicas pela Universidade de Brasília. Atua como Analista de Estudos Econômicos na Conexis, promovendo a gestão de dados do setor e elaboração de relatórios. Anteriormente foi estagiária no Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços e na Empresa de Planejamento e Logística (EPL). Também trabalhou na Cervejaria Ambev como Analista de Preços e Coordenadora de Franquias.

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