Pandemia acelerou debate e entrada da tecnologia na comunidade escolar

Executivos e autoridades reunidos em debate no Painel Telebrasil 2020 acreditam que é o momento de acelerar projetos que já vinham sendo desenhados, ou mesmo implantados, para esse mercado.

Sem aulas há presenciais há cerca de seis meses, alunos, professores, pais e escolas passaram a conviver intensamente com um conjunto de recursos tecnológicos para que pudessem receber, enviar ou acompanhar o conteúdo pedagógico. Mas se a pandemia levou a tecnologia para o debate da comunidade escolar, a discussão agora é como ela continuará a ser utilizada no período pós-Covid-19. Executivos e autoridades reunidos na terça-feira, 22/09, durante o debate Educação conectada: o que aprendemos com a pandemia, no Painel Telebrasil 2020, acreditam que é o momento de acelerar projetos que já vinham sendo desenhados, ou mesmo implantados, para esse mercado.

Conrado Leira Matos, chefe do Departamento de Educação e Investimentos Sociais do BNDES, acredita que a tecnologia continuará em evidência na volta às aulas, mas considera que o novo cenário vai exigir outras competências e práticas diferentes do que foi feito até agora. “Esse novo formato deverá ser mais estruturado, combinando o presencial com o uso tecnológico para dar mais potência ao ensino”, afirmou.

Há dois anos, o banco lançou o Programa Inovação Educação Conectada, que tem como proposta financiar e avaliar a inserção da tecnologia como ferramenta pedagógica. Esse projeto está inserido em um contexto mais amplo, em parceria com o Programa Inovação Educação Conectada do Ministério da Educação, além de parcerias com a iniciativa privada como a Fundação Lemann.

Há seis projetos apoiados pelo banco, alguns já em andamento e outros que entram em operação este ano. Eles envolvem 11 municípios, seis estados, quase 400 escolas e mais de 160 mil alunos. “Desde que o projeto foi lançado, percebemos que a tecnologia já era uma ferramenta entendida pelas escolas”, comentou Matos.

Para a fase pós-pandemia, ele acredita que seja necessário avançar em alguns pontos, como articulação dos diferentes atores, entre público e privado e mesmo diferentes esferas públicas. As ferramentas tecnológicas precisam ser utilizadas com uso contínuo para apoio da aprendizagem e, para isso, é preciso perceber quais desafios educacionais precisam ser priorizados.  Feito isso, selecionar as práticas pedagógicas que dizem respeito a esses desafios e estabelecer de que maneira a tecnologia será incorporada ao cotidiano escolar.

Escolas públicas

“O futuro do Brasil está na escola pública”, afirmou Ricardo Mucci, diretor para o Setor Público da Cisco do Brasil. Segundo o executivo, são 180 mil escolas, 90% nas cidades, 43 milhões de matrículas e mais de 2 milhões de professores. Nesse quadro, 80% dos alunos estão em redes públicas.

Como parte do programa da empresa, Brasil Mais Digital Inclusivo, a Cisco realizou uma pesquisa com a Delloite sobre esse mercado. O levantamento parte da definição da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) do MEC, que prevê que entre as 10 competências está o uso de tecnologia da informação no aprendizado escolar.

Foi apurado que, antes da pandemia, 50% da base pesquisada pela consultoria dizia não utilizar qualquer recurso tecnológico predominante no ensino. “A maior parte desse percentual está nas escolas públicas, mas há uma boa parte também nas escolas privadas”, ressaltou.

A infraestrutura de banda larga nessas escolas mostrou baixa qualidade, muitas vezes com 2 Mbits para servir uma escola inteira, o que acaba inviabilizando o uso massivo, e a conexão ficava restrita às áreas administrativas. Ele lembrou que apesar da baixa penetração, antes mesmo da pandemia já existiam no mercado diversos fornecedores de tecnologia com solução de recursos educacionais digitais.

Conforme o executivo, a pandemia provocou um grande apagão na educação por conta de acessos de infra inexistentes ou inadequados. Na pesquisa da Deloitte, uma pergunta foi feita aos pais: “por que seu filho não fez aulas à distância?”. Nada menos do que 71% de pais de alunos da rede pública e 57% da rede privada argumentaram que não receberam das escolas o conteúdo para EAD. Uma boa parte também relacionou a baixa qualidade do acesso à internet.

Mesmo assim, Mucci considera que houve uma aceleração do conhecimento e acesso a recursos tecnológicos, que, para ele, é um incentivador a permear a educação no futuro. Para Daniela Martins, Gerente de Relações Institucionais e Governamentais do SindiTelebrasil, que moderou o debate, já temos um desafio histórico por conta da necessidade de políticas públicas que tragam mais simetria entre os alunos de todas as camadas econômicas. “Agora temos desafios novos para olhar para a disrupção que a tecnologia pode trazer e para algumas iniciativas, como parcerias público-privadas, para conseguirmos fazer esse incentivo”, avaliou.

Atílio Rulli, diretor sênior de Relações Públicas e Governamentais da Huawei Brasil, mostrou mapas do Banco Mundial e da Unesco que apontam que 91% dos estudantes do mundo, ou 1,5 bilhão de alunos, foram afetados pela pandemia. No Brasil, por sua vez, há outros fatores que revelam os problemas enfrentados também na educação, como 30% de famílias sem acesso à internet e 46% que acessam apenas via celular. “A média dos alunos que tiveram EAD chega a 80%”, salientou.

O executivo acredita que estamos passando por uma transformação que não é temporária e que teremos pela frente soluções híbridas “onde nem tudo será presencial e nem tudo será da maneira como está sendo feito hoje durante a pandemia”, observou.

Na questão da profissionalização, a Huawei tem programas fortes de treinamento e capacitação de talentos. Mas também se volta para a educação infantil de uma forma diferente. A companhia lançou nesta terça-feira, 22/09, no Brasil o seu aplicativo Story Sign, que utiliza recursos tecnológicos para ajudar as crianças com perdas auditivas a ler.

O Brasil é o 15º país a contar com o app, que traduz palavras para a língua de sinais. Localmente, o produto foi desenvolvido em parceria com a Feneis (Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos), ONGs, governo e inciativa privada.

O Painel Telebrasil 2020 terá também programação no dia 29 de setembro. Assista no site www.paineltelebrasil.org.br.

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