Brasil precisa de chassi de infraestrutura digital

País tem todas as chances de duplicar a capacidade instalada de data centers, mas precisa entender melhor o que são as redes neutras

Brasília, 07/11/24 – A combinação de 5G com os avanços da inteligência artificial vai exigir cada vez mais da infraestrutura, que sustenta todo o ecossistema. Ao abrir o painel temático sobre os novos desafios de infraestrutura: redes neutras, data centers e redes privativas, Carlos Eduardo Medeiro, sênior advisor da Oliver Wyman, ressaltou que o mundo está diante de uma nova revolução industrial que traz transformações significativas, impactando a vida de todos. “Para isso, precisamos de chassi de infraestrutura digital. Temos perspectiva real de duplicar a capacidade instalada de data centers”, afirmou.

Para André Ituassu, CTIO da I-Systems, o momento é de discutir o chassi de infraestrutura digital e a rede neutra vem para preencher essa necessidade. “Discutir a infraestrutura é importante para aproveitar o que temos até aqui, entender a rede neutra e como ela traz benefícios. Ainda não capturamos e entendemos todos os benefícios que a rede neutra pode trazer, então, é importante discutir isso”, destacou. Ituassu apontou para a necessidade de colocar o processamento perto do uso, no que ele chamou de fog computing.

Entender o papel das redes neutras no ecossistema é fundamental também na visão de Lucas Aliberti, deputy CCO da V.tal, principalmente diante de um mercado com mais implementação de redes 5G e com a inteligência artificial demandando maior volume de investimentos em data center e redes. “Você tem de trazer inovação para o cliente final. Passamos a enxergar a necessidade de ser um viabilizador de investimentos e não apenas em rede FTTH. A V,tal é enabler de quaisquer investimentos que as operadoras queiram construir junto com a gente”, apontou, sinalizando a abertura para modelos de negócios diferentes.

Do lado da FiBrasil, o CCMO, Alex Jucius, revelou que, apesar de a Vivo ser o principal cliente, a empresa conta com mais de 50 contratos, sendo a maior parte deles de provedores de internet. “Somos o insumo básico e nossos clientes agregam em cima. Vejo como grande desafio, talvez o principal, o equilíbrio econômico-financeiro do setor, porque, quando você olha para o setor de banda larga, o preço nos últimos 20 anos caiu e o número de megas aumentou para o cliente final. Isso traz grande pressão”, ponderou.

A banda larga se tornou bastante competitiva. “Mas, claramente, hoje, você tem assimetria entre empresas que pagam tributos e os postes e as que não pagam. É uma competição desigual e isso faz com que empresas que fazem pagamento legal tenham necessidade de formalização”, acrescentou Jucius. “O mercado de banda larga fixa é extremamente competitivo, um mercado de rouba-monte, e com rede neutra temos de suportar os clientes para eles crescerem”, apontou o executivo da FiBrasil.

Rogerio Loripe, vice-presidente para enterprise solutions da Ericsson, assinalou que as redes neutras crescem no mundo todo, com 80% do tráfego sendo indoor. “Mas os usuários estão insatisfeitos com a qualidade”, disse. “A Ericsson acredita que rede neutra indoor compartilhada é frequentemente a resposta para este desafio”, acrescentou. Loripe também falou sobre a adoção das redes privativas principalmente em três verticais: manufatura, mineração, portos e aeroportos. “Outras verticais vêm emergindo, como o agro no Brasil. Mas, em um bom número de casos, o 4G resolve o problema”, acrescentou.

Por parte do governo, William Ivo Zambelli, assessor da diretoria de políticas setoriais do Ministério das Comunicações, chamou a atenção para a necessidade de o Brasil preencher diversas lacunas. “Temos 7,5% de domicílios não conectados; 7% de moradores do Brasil sem cobertura celular e 1.207 municípios sem cobertura de fibra ótica”, destacou. Também apontou para a concentração de data centers. “Hoje, temos 153 data centers no Brasil e eles estão concentrados na região Sudeste”, apontou.

Futuro das redes neutras

As redes neutras ainda estão muito baseadas na fibra ótica e, segundo André Ituassu, da I-Systems, em evolução para a rede móvel. “Também passando a ser qualquer tipo de conexão e indo para o edge data center, fog computing. Isso para mim é o futuro”, assinalou. Para ele, o papel também reside em viabilizar as cidades inteligentes, possibilitando internet das coisas como infraestrutura em todos os lugares. “Se não conseguir viabilizar a conexão de qualidade em todos os lugares, está segurando a cidade inteligente de acontecer. E esse é o nosso papel; quebrar barreiras de infraestrutura física”, afirmou.

Para Lucas Aliberti, da V.tal, ainda existem incertezas de onde vai estar o processamento, principalmente, no contexto de inteligência artificial. “A resposta não é única. Vão ter os data centers cada vez maiores para fazer o processamento. Acreditamos também no edge data center e no micro edge data center. Você vai ter a necessidade de fazer investimentos nos diferentes modelos de negócios”, previu.

Nesse cenário, Aliberti opinou que o Brasil tem tudo para ser influenciador na busca das OTTs e inteligência artificial para onde posicionar os data centers. “Temos energia limpa, temos espaço/terra e temos infraestrutura de fibra ótica – e isso coloca o Brasil na primeira prateleira de onde alocar os data centers”, justificou.

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