Brasil tem energia e conectividade para ser um hub de Inteligência Artificial

O tema foi debatido na plenária “Estamos preparados para a era da Inteligência Artificial?” no Painel Telebrasil Summit 2025
Brasília, 02/09/25 – O aumento das aplicações com Inteligência Artificial generativa demanda uma infraestrutura que suporte a nova onda de tráfego de dados. “Estamos em uma fase da Inteligência Artificial que é similar ao que passamos com a entrada da internet móvel, com a mudança do 2G para 3G, que foi uma tecnologia disruptiva”, apontou Atilio Rulli, vice-presidente de Relações Institucionais da Huawei América Latina e Caribe, ao abrir a plenária “Estamos preparados para a era da Inteligência Artificial?” nesta terça-feira (2) no Painel Telebrasil Summit 2025, realizado em Brasília.
O Brasil desfruta de condições energéticas, geográficas e de qualidade da conectividade para se posicionar como um hub. Para tanto, o governo está fomentando políticas públicas com o objetivo de atrair investimentos. A política nacional de datacenter está sendo gestada em uma plataforma interministerial. De acordo com Cristiane Rauen, diretora do Departamento de Transformação e Inovação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), isso representa uma grande oportunidade para o Brasil estabelecer uma base de produção e processamento de dados, com capacidade para incentivar nativos digitais e a cadeia de produtos e serviços produzidos nacionalmente.
“É ter a escala necessária para os players nacionais produzirem desde equipamentos básicos até serviços, é pensar no adensamento da cadeia produtiva brasileira e trazer grandes players para atuar no Brasil”, destacou a diretora do MDIC. Ela explicou que a política nacional de datacenters vai além de centros de processamento de dados e tem como meta movimentar a cadeia de valor com geração de dados, de novas plataformas, de novos serviços, startups, entre outros.
A atração de investimentos, disse Rauen, é inerente ao contexto brasileiro. “O Brasil tem capacidade de geração de energia elétrica e recursos hídricos que são inigualáveis, com energia abundante, barata e limpa – e isso traz atração para investimentos em datacenter”, justificou.
No entanto, Rauen explicou que os produtos a serem incorporados nos datacenters no Brasil são 40% mais caros. “A política vai compensar os custos desses equipamentos, que representam de 70% a 80% dos custos totais dos datacenters. A importação dos equipamentos pode dar alívio ao Capex na capacidade de processamento. O que está sendo gestado é isentar os equipamentos eletrônicos”, afirmou. A expectativa é que o regime saia “em breve”, disse, sem precisar uma data.
Hermano Tercius, secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações, ressaltou a aceleração recente nas políticas para preparação para a Inteligência Artificial, citando as iniciativas focadas em datacenter, cabos submarinos e conectividade das rodovias. Do lado do MCom, a pasta está colaborando com o eixo de conectividade e infraestrutura para a política de datacenters. “A conectividade é insumo e o mais importante é a relação entre os datacenters e o desempenho das redes de telecom. Temos que racionalizar o tráfego nas redes”, disse.
Com relação à política nacional de cabos submarinos, a tomada de subsídios foi finalizada em agosto, com o recebimento de 29 contribuições. “Queremos fazer a infraestrutura chegar a mais regiões do Brasil, porque hoje os cabos submarinos chegam somente a duas regiões – no Sudeste e no Nordeste – e sabemos que precisamos levar para outras áreas”, apontou.
Hermano Tercius anunciou que um cabo submarino com recurso público chegará a Porto Alegre e outro a Belém. “Estão em fase de construção. O de Belém subsidiamos e conseguimos bancar parte do projeto com a União Europeia. Também queremos levar um cabo para o Maranhão e sabemos que Recife tem uma demanda grande”, adiantou. A ideia é que essa política possa, por meio de incentivos, fomentar e conseguir espalhar os cabos submarinos pelo Brasil.
Setor privado, a IA e a digitalização
Do lado das prestadoras de serviços de telecomunicações, Débora Bortolasi, vice-presidente de B2B da Vivo, ressaltou a necessidade de as empresas estarem se preparando para o momento da IA e para isso precisam trabalhar na digitalização. “Nós, na Vivo, fomos além da conectividade e criamos plataforma robusta com soluções de dados, gestão de infraestrutura de rede, de transformação, de gestão de IA através de sensoriamento de soluções. Toda indústria passa pela necessidade de desenvolvimento de incentivos para acelerar a adoção da tecnologia”, disse.
Se a infraestrutura é fundamental, políticas públicas focam acelerar o contexto da inovação, segurança jurídica, democratização do uso das plataformas digitais disponíveis e a qualificação das pessoas. “Hoje, o Brasil é um dos países mais online do mundo. Mas ainda temos desafios de letramento digital para uso das aplicações e para capacidade produtiva, com pessoas que saibam trabalhar com dados, no contexto da cibersegurança e nós, como setor, temos a responsabilidade de investir nisso”, assinalou Bortolasi.
O movimento da Vivo de expandir as ofertas para além da conectividade contribui para a digitalização das empresas. “Temos responsabilidade enquanto setor de levar isso a todos e a qualquer empresa, desde o pequeno empreendedor. O uso mais eficiente da infraestrutura traz novas possibilidades de negócios e de novas soluções para acelerar o uso da tecnologia pelos cidadãos e empresas”, disse a executiva.
Falando sobre o uso de dados e IA, Auana Mattar, CIO da TIM Brasil, lembrou que a operadora começou, em 2016, investimentos fortes em big data, criando produtos de dados. Com isso, a TIM seguiu a jornada para computação em nuvem e vem trabalhando com parceiros para escalar e alavancar também o 5G. “Estamos lançando produtos e serviços, canais automáticos, formas de pagamento automáticas, colocando o cliente no poder das ações e trabalhando com dados”, enumerou Mattar.
Os modelos de Inteligência Artificial generativa ganharam força no fim de 2022, quando a TIM passou a testá-los de maneira controlada. “Elencamos as áreas que queríamos testar. Fizemos letramento em IA do estagiário até o Alberto Griselli [CEO da TIM Brasil] e começamos as evoluções, ainda muito focadas em eficiências, em alavancar automações que já existiam, mas ainda não temos um salto. A IA traz ganho de produtividade significativo e isso abre janelas para trabalhar com novas ofertas e produtos, mas ainda precisa de uma ação, de humanos, de ética de dados”, resumiu a executiva.
As prestadoras de serviços de telecomunicações são as grandes catalisadoras de negócios até por produzirem muitos dados. “O desafio no setor agora é fazer esses negócios acontecerem dentro do contexto da economia. Os novos negócios requerem investimentos, não apenas no nosso contexto de telco mas também em outras indústrias”, finalizou Auana Mattar.
Com a presença de CEOs de grandes empresas, autoridades e lideranças empresariais, o Painel Telebrasil 2025 ocorre nos dias 2 e 3 de setembro, em Brasília. Na pauta de discussão estão temas como Inteligência Artificial, inclusão digital, 5G e expansão da conectividade. Para mais informações, acesse o site www.paineltelebrasil.org.br.








