Capacitação profissional e regulação são obstáculos na digitalização da economia

Participantes da plenária destacaram que o papel da conectividade vai além do acesso à internet e que ela é porta de entrada para educação, desenvolvimento econômico e serviços públicos melhores

Brasília, 02/09/25 – A integração entre transformação digital, desenvolvimento econômico e impacto social foi o tema central da plenária “Tecnologias para a transformação econômica e social”, realizada com representantes do governo e de operadoras de telecomunicações nesta terça-feira (2), durante o Painel Telebrasil Summit 2025. O debate, mediado por Renato Paschoareli, diretor sênior da Alvarez & Marsal Infra, abordou o papel da conectividade, da inovação tecnológica e das parcerias público-privadas na construção de uma economia mais inclusiva e competitiva.

Abrindo a discussão, João Pieroni, superintendente de Desenvolvimento Produtivo e Inovação do BNDES, destacou a importância dos instrumentos de financiamento do banco para expandir a conectividade no País. O gestor lembrou que, após quase 20 anos de discussões, o Fust começou a ser operacionalizado de forma intensa em 2023 e já acumula mais de R$ 2 bilhões investidos. Um dos projetos, por exemplo, já levou conectividade a mais de duas mil escolas.

“O Fust é fundamental, mas não está sozinho. Temos também o Funtel, o programa Mais Inovação e, agora, o Nova Indústria Brasil, que reforça a digitalização como prioridade”, afirmou Pieroni. Segundo ele, um dos principais desafios colocados hoje ao governo é a ampliação da base de beneficiários, especialmente pequenos provedores, e a busca de formas de superar o teto atual de recursos.

Do lado do governo federal, Guilherme Corrêa, diretor substituto do Departamento de Incentivo às Tecnologias Digitais do MCTI, ressaltou o papel da Lei de TICs e de fundos como o FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) no estímulo a parcerias entre empresas e instituições de ciência e tecnologia.

Corrêa também apontou três grandes desafios para a transformação digital: mão de obra qualificada, regulação equilibrada e infraestrutura local. “Se quisermos ter IAs treinadas com a nossa linguagem e realidade, precisamos de capacidade de processamento no Brasil. O Plano Brasileiro de IA busca justamente endereçar essa questão”, afirmou.

Operadoras como hubs de inovação

Representando o setor privado, Márcio Estefan, diretor executivo de Receitas da Algar, enfatizou a evolução do papel das operadoras. “Deixamos de ser apenas telecom para nos tornarmos hubs de negócios, oferecendo cloud, IoT, centros de inovação e soluções baseadas em inteligência artificial”, disse.

Ele destacou exemplos práticos do uso de IA dentro da empresa, como automação de processos de faturamento, predição de falhas e suporte ao atendimento. Mas ressaltou que o maior desafio está em ajudar clientes a viabilizar financeiramente projetos de transformação, gerir a mudança cultural e garantir segurança em um ambiente cada vez mais conectado.

Na mesma linha, Maria Teresa Azevedo Lima, diretora executiva de Governo da Claro, falou sobre o potencial de soluções de IoT, 5G e Open Gateway, mas chamou atenção para os desafios de segurança, governança e regulação. “Muitos clientes ainda têm dificuldades em elaborar estudos viáveis e entender o arcabouço regulatório. Nosso papel é simplificar essa jornada”, disse.

Maria Teresa também reforçou a importância da cooperação entre setor público e privado. “O governo enfrenta limitações de recursos e pessoas qualificadas e o setor privado pode acelerar a execução dos projetos, compartilhando tecnologia, processos e know-how. Nós, da Claro, já estruturamos centros de excelência para apoiar governos na prestação de melhores serviços aos cidadãos”, destacou.

Houve um consenso entre os participantes do painel de que a transformação digital no Brasil avança graças a uma combinação de políticas públicas, financiamento, inovação empresarial e parcerias estratégicas. No entanto, os gargalos em infraestrutura, capacitação profissional e regulação equilibrada seguem como pontos críticos.

“Conectividade não é só acesso à internet; é porta de entrada para educação, serviços públicos melhores e oportunidades econômicas. O desafio é transformar recursos e tecnologia em inclusão social e desenvolvimento sustentável”, resumiu Paschoareli.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo