Conectividade e letramento digital devem caminhar juntos

Especialistas são unânimes sobre os ganhos trazidos para a sociedade pela evolução das políticas públicas nos últimos anos
Brasília, 03/09/25 – No painel temático A transformação social e digital pelas políticas públicas, realizado durante o Painel Telebrasil 2025, especialistas do setor de telecomunicações discutiram o papel das políticas públicas na transformação social e digital do país. O debate, mediado por Eliza Mac-Culloch, coordenadora de Regulação e Políticas Públicas da Conexis Brasil Digital, destacou avanços obtidos com iniciativas como o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), mas também apontou a necessidade de superar desafios estruturais, regulatórios e sociais para garantir inclusão digital plena.
Juliano Stanzani, diretor de Políticas Setoriais do Ministério das Comunicações (MCom), ressaltou que, depois de muitos anos, o Fust deixou de ser ônus para se tornar bônus para o setor. “Hoje temos o Fust na modalidade não reembolsável levando conectividade de qualidade para escolas públicas do Brasil. É um orgulho saber que estamos entregando acesso a estudantes que, de outra maneira, não teriam essa oportunidade”, afirmou. Ele citou ainda políticas recentes voltadas a cabos submarinos, infraestrutura rodoviária e data centers, além da Política Nacional de Inclusão Digital. “Estamos falando em universalização baseada nas demandas sociais e econômicas, que incluem desde a conectividade até o acesso a dispositivos e serviços digitais”, completou.
Para Milene Pereira, gerente de Relações Governamentais da Qualcomm, é preciso olhar além da infraestrutura. “A cobertura é essencial e inquestionável, mas existe um desafio igualmente importante, que é reduzir o gap de uso. A Anatel aponta que 54 milhões de brasileiros têm acesso, mas não utilizam a internet. Investir em competências digitais e garantir dispositivos adequados são passos fundamentais para que a tecnologia, inclusive a inteligência artificial, seja realmente transformadora”, destacou.
Questionado sobre o papel do governo para além da regulamentação e desenho de políticas públicas, Gustavo Nogueira, diretor de Contas para Governo Federal da Huawei do Brasil, observou que o setor público deve ir além do papel de contratante. “Mais do que um comprador de tecnologia, o governo pode atuar como orquestrador da transformação digital. É possível alinhar políticas para fomentar inovação sem entraves regulatórios iniciais, combinando conectividade, serviços digitais e novas soluções que beneficiem a sociedade”, afirmou.
Suzana Rodrigues, superintendente de Controle de Obrigações da Anatel, lembrou que o modelo de compromissos de cobertura evoluiu significativamente ao longo dos últimos 18 anos. “Se no 3G pensávamos em estabelecer regras de cobertura em grandes cidades, no 5G já temos uma ampliação muito mais aderente às demandas da sociedade. Hoje, o acompanhamento é muito mais eficiente e se dá por meio do diálogo e da comprovação documental, e não apenas pela fiscalização. Isso é positivo tanto para quem regula quanto para quem implementa e, claro, para o usuário”, explicou.
Engrossando a visão de que é preciso preparar a sociedade para aproveitar os benefícios trazidos pelos avanços tecnológicos, o CEO da Nokia, Rafael Mezzasalma, apontou que conectividade e letramento digital devem caminhar juntos. “O 4G ainda é essencial para ampliar cobertura, principalmente pelo custo dos dispositivos, enquanto o 5G e a fibra são fundamentais para o futuro. Mas não basta a infraestrutura. É preciso preparar a população com educação digital para que todos possam participar dessa revolução. A parceria entre governo, iniciativa privada e instituições de ensino é essencial”, disse.
Do ponto de vista da TIM Brasil, representada por Cleber Affanio, diretor de Relações Institucionais, estados e municípios têm papel decisivo. O executivo comentou a importância do trabalho de atualização de regulamentações e leis também nessas esferas. “Licenciamento e legislação municipais precisam estar atualizados com a evolução da tecnologia. Hoje, torres deram lugar a pequenos postes, mas ainda enfrentamos regras urbanísticas e de licenciamento ambiental de décadas atrás, com processos que podem levar mais de um ano. Isso é incompatível com a demanda social por conectividade”, observou, acrescentando que já se tem visto estados e municípios contribuindo com mecanismos como leilões reversos para áreas rurais ainda desprovidas de cobertura. Encerrando o debate, Stanzani reforçou que é preciso reconhecer tanto os avanços quanto as dificuldades. “Colocamos 12 mil km de cabos submarinos e preparamos jovens da região Norte para atuar em tecnologia globalmente. O Brasil já é berço de soluções escaláveis, que podem ser replicadas em outros países. Reconhecer nossos pontos fortes é importante, mas também os desafios que ainda temos é importante passo para continuar evoluindo”, avaliou.