Painel Telebrasil: Cidades Inteligentes são habilitadoras de um país melhor para o cidadão
De acordo com especialistas do setor, os maiores desafios estariam no modelo de contratação e na dificuldade de replicar projetos. Mesmo assim, há casos em produção com bons resultados.
São Paulo, 14/06/2023 – A transformação urbana e a possibilidade de redesenhar as cidades com o uso de inteligência e conexão foi tema de um dos painéis do Telebrasil Innovation 2023, realizado em São Paulo nesta quarta-feira (14). O painel contou com a participação do secretário de Inovação e Administração da prefeitura de Santo André (SP), Pedro Seno; do cofundador do Colab, Paulo Pandolfi; do CRO da Ligga Telecom, Rafael Marquez; do diretor de produtos e arquitetura de soluções para clientes da Oi Soluções, Fernando Sá; do diretor de cibersegurança da Huawei Brasil, Marcelo Motta; e do diretor de soluções corporativas da TIM, Paulo Humberto Gouvea.
Falando sobre cidades inteligentes, Seno lembrou que o município está colocando em prática o projeto Santo André Hiperconectado. Para isso, a cidade conta com uma estrutura própria de fibra que cobre 95% da malha urbana. São cerca de 300 quilômetros de fibras, complementados por gateways LoRa que interligam centenas de dispositivos em prédios públicos.
Em outros projetos, Santo André dispõe de cerca de 300 bocas de lobo equipadas com sensores que emitem alertas sempre que elas atingem 70% de sua capacidade e com 609 câmeras integradas monitorando o tráfego. “Tudo isso gerando dados e informações que estão nos auxiliando na tomada de decisão”, comemorou.
Em outra frente, o Colab foi criado em 2013 com o propósito de permitir aos cidadãos reportarem problemas e participarem das decisões de suas cidades, criando uma rede transparente que tem o cidadão como centro do processo. Em 2014, o então prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet, foi o primeiro a adotar a plataforma, que hoje é utilizada por cerca de 30 prefeituras e dois governos estaduais. “Hoje somos uma govtech, um grande balcão de serviços que apoia a gestão pública na oferta de serviços digitais”, explicou Paulo Pandolfi, cofundador do Colab.
Essas são apenas algumas das iniciativas que vêm sendo adotadas e abrindo oportunidades para fornecedores e provedores. Motta, da Huawei, enfatizou que as cidades representam uma área extremamente importante para a empresa que, para atendê-las, aposta em três camadas: dispositivos, conectividade e nuvem. “São as três camadas de infraestrutura e temos atuação em todas, criando uma plataforma que pode ser utilizada em qualquer tipo de aplicação que se vai desenvolver”, explicou.
Segundo Motta, a Huawei montou uma estrutura comum que vem sendo utilizada para ajudar seus clientes em todo o mundo a replicar casos de sucesso. “No Brasil, temos as cidades trabalhando de forma isolada. Com isso, demora-se muito para replicar um caso de uma cidade para outra. Muitas vezes as camadas que facilitam a replicação não estão prontas”, comparou.
Para Gouvea, da TIM, a conectividade é o grande habilitador dos serviços que são e serão prestados pelos municípios aos cidadãos, o que pode ser comprovado em projetos como ônibus conectados e ambulâncias conectadas, por exemplo. “Esse é nosso papel. A única forma de levar solução para o mercado é entender o ecossistema e formar parcerias”, afirmou.
Sá, da Oi Soluções, reforçou que a companhia sempre teve o governo como principal parceiro para o desenvolvimento de tecnologia, que hoje se traduz em diversos projetos implementados no Brasil. Um dos mais recentes é voltado à segurança pública e está em fase de conclusão no estado da Bahia. Ele tem o objetivo de reduzir o tempo de atendimento de ocorrências e, para isso, contou com a implementação de 4 mil câmeras, 4 mil dispositivos móveis para os policiais e uma rede LTE privada. “Com isso, conseguimos fazer a detecção do crime, gerar um alarme que localiza a viatura mais próxima e entrega todas as informações, agilizando a chegada do policial e a investigação, já que a solução permite rastrear todas as ações colocadas em prática.”
Quem também vem trabalhando junto a municípios é a Ligga Telecom. De acordo com Marquez, 60% dos municípios do estado do Paraná são atendidos hoje pelas soluções de fibra do grupo. “Estamos presentes em mais de 4 mil escolas municipais e estaduais com soluções de conectividade. Nós nos colocamos no papel de ocupar esse espaço deixado pelas grandes, atendendo municípios de menor porte”, disse, ressaltando também o papel de discutir com autoridades e agências de fomento o desafio de viabilizar soluções públicas.
Burocracia e modelos
Segundo Gouvea, da TIM, é necessário mudar o modelo de contratação por parte das administrações municipais: ao invés de compra de ativos, contratação de soluções fim a fim. Ele citou como exemplo a participação da operadora em projetos voltados a iluminação pública, em que empresas privadas são contratadas para fornecer iluminação, incluindo o gerenciamento e a manutenção. “Esse modelo reduz o risco de propriedade do ativo e de obsolescência daquele ativo”, defendeu.
O diretor de produtos e arquitetura de soluções para clientes da Oi Soluções afirmou que a substituição do modelo faz sentido, já que muitas vezes as prefeituras conseguem verbas para a aquisição de ativos que, no futuro, não conseguirão manter. Outro modelo defendido por ele é o de contratação por meio de atas de registro de preço. “Vemos poucos governos fazendo processos licitatórios neste modelo, que garante que ele possa ser replicado e facilita o processo de adoção de tecnologia”, disse, reforçando que a compra de ativos não garante a qualidade do serviço. Pedro Seno, que também é vice-presidente de governança do Fórum Inova Cidades, da Frente Nacional dos Prefeitos, explicou que o organismo congrega secretários municipais envolvidos com o tema de inovação. Segundo ele, o Fórum Inova Cidades defende que cinco pontos sejam trabalhados para ampliar o uso de tecnologia nas administrações: investimento em tecnologia – que deve ser feito porque se paga em longo prazo; arcabouço legal – porque no setor público só se pode fazer o que é previsto em lei; mudança de cultura – que é um desafio no poder público; centralização de decisões – evitando que áreas distintas contratem soluções que muitas vezes não se conversam; e profissionalização da gestão e dos gestores – que é um ponto importante. “São pontos que discutimos bastante no Fórum para disseminar o uso da tecnologia.”