Painel Telebrasil: Inclusão digital exige ações integradas entre governos, empresas e sociedade
Especialistas apontam que não há inclusão digital sem educação e que as ações não dependem mais apenas da tecnologia e, sim, de um arranjo da sociedade brasileira.
São Paulo, 14/06/2023 – O papel da tecnologia na educação e na inclusão social foi tema do painel “A digitalização como caminho para Inclusão, Educação e Sustentabilidade”, durante o PainelTelebrasil Innovation 2023, realizado nesta quarta-feira (14), em São Paulo. O debate contou com a participação de Juliano Griebeler, sócio e diretor de Relações Institucionais e de Sustentabilidade da Cogna; Lia Glaz, diretora-presidente da Fundação Telefônica Vivo; Maria Tereza Lima, diretora-executiva para Governo da Embratel; Marise de Luca, consultora de TIC; e Thalles Gomes, gerente de Articulação do CIEB.
Uma das premissas do debate foi de que, nos dias de hoje, é impossível falar de inclusão social sem falar de inclusão digital, lembrando que ambas dependem da educação. Lia Glaz, da Fundação Telefônica Vivo, disse que é neste contexto que a entidade vem lançando seu olhar para dentro das escolas, pensando em iniciativas que acompanhem a formação de gestores, professores e alunos para o uso de tecnologia. “As escolas precisam estar preparadas para formar os adultos que vão atuar nesse mundo digital”, destacou.
Maria Tereza Lima, da Embratel, acredita que o Brasil enfrenta hoje dois grandes desafios. O primeiro é incluir o país e torná-lo relevante em uma sociedade que sofre enorme transformação, o que vai exigir a preparação de crianças, jovens e profissionais para o futuro. O segundo é abandonar o século XX, ainda presente com baixos índices de produtividade, altos índices de evasão escolar e desempenho escolar abaixo do esperado. “A solução para ambos passa pela educação”, provocou.
Marise concordou, lembrando que há alguns anos vem trabalhando nas mais diversas iniciativas de inclusão, abrangendo grupos diversos como maiores de 60 anos, meninas de 14 a 21 anos, refugiados, pessoas com deficiências e outros. Trabalho semelhante ao realizado pelo Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB), que desde 2016 vem trabalhando junto a gestores educacionais para ajudá-los a fazer diagnósticos, elaborar planos de inovação e tecnologia e implementá-los em suas escolas.
Para Gomes, esse trabalho representa o que ele chama de desafio geracional e federativo, que exige da sociedade e das empresas um pensamento único para que as oportunidades possam ser aproveitadas. Ele enfatizou que, de acordo com o último censo escolar, dois terços das escolas já contam com conectividade. “Em contrapartida, uma pesquisa feita por nós mostra que a conectividade existente seria incapaz de suportar todos os alunos de uma única classe conectados ao mesmo tempo também em dois terços das escolas”, comparou.
Para Griebeler, da Cogna, todos precisam entender o que é a educação mediada por novas tecnologias. É o primeiro passo para enfrentar esses desafios. Maria Tereza citou o exemplo da própria Embratel, que durante a pandemia estreitou o relacionamento com secretarias estaduais e municipais de educação. “Nossa primeira ação foi oferecer internet patrocinada para os alunos e o nível de adesão foi baixíssimo.”
Foi sugerida então a contratação de banda larga móvel para os alunos, mas uma análise do perfil do tráfego mostrou que, na maior parte das vezes, a internet não era utilizada para educação. A Embratel então desenvolveu uma ferramenta para que as secretarias pudessem gerenciar o uso dessa banda larga e o monitoramento mostrou que ela estava sendo usada para comunicação e redes sociais.
“Voltamos à prancheta e desenvolvemos a plataforma Embratel Sala de Aula, que permite o uso eficiente dos dados, aulas síncronas e assíncronas e avaliação do desempenho de cada aluno”, contou, lembrando que a solução funcionou bem em vários estados. A ferramenta ainda ganhou atualizações, com a inclusão de gameficação e metaverso. Para Maria Tereza, a experiência mostra o papel das empresas do setor de telecom: habilitar a transformação e estar sempre buscando novidades.
O ponto é que o Brasil está em um patamar em que iniciativas de conectividade na educação, e a consequente inclusão dos alunos, não depende mais da tecnologia. Lia destacou que o País tem hoje disponíveis recursos que, bem articulados, podem trazer soluções em escala significativa. “Nossa visão é que isso passa por política pública e integração coordenada com outros setores.”
Mas não basta mais olhar somente para infraestrutura. É preciso voltar a atenção para a capacidade de professores, gestores e alunos fazerem uso da tecnologia no dia a dia. Para Lia, isso passa por desenvolvimento profundo de habilidades digitais na formação dos professores, o que não acontece. “Os professores em exercício também não têm essas habilidades desenvolvidas. É um desafio, assim como prover recursos educacionais digitais que impactem a aprendizagem do aluno”, afirmou.
Para enfrentar o desafio, a Fundação Telefonica Vivo tem hoje parcerias com mais de 11 secretarias estaduais de educação e diversas municipais, fornecendo informações a distância para os gestores e, em ações mais específicas, colaborando com a grade do ensino técnico de tecnologia. “Nós acreditamos que a solução em escala só virá a partir de um trabalho conjunto com o poder público”, ressaltou.
Caminho semelhante segue o CIEB. Para Gomes, o problema no Brasil não é legislação. Ao contrário, o País conta hoje com diversas leis e perspectivas regulatórias interessantes. “Hoje temos leis prevendo investimentos em dispositivos, formação em competências digitais para professores e gestores e curadoria para selecionar estes recursos digitais, e nosso marco legal dá condições para executar tudo isso”, reforçou.
O que falta, na verdade, é pensar em um arranjo federativo que coordene essas ações, garantindo a implementação de iniciativas em todos os municípios do País e levando em conta que mais de 95% deles têm menos de 60 mil habitantes. “Há um papel que a tecnologia pode exercer aqui, mas é necessário esse arranjo entre poder público, terceiro setor e empresas para suprir essas demandas. É um desafio de planejamento e execução integrada.” O Painel Telebrasil Innovation 2023 é a 67ª edição do evento e acontece para mostrar as tendências e provocar novas ideias para ampliar o acesso à conectividade no Brasil.