Roubo de cabos de telecomunicações: um grave problema de segurança pública
O roubo e furto de cabos de telecomunicações e os prejuízos que essas ações causam foram o tema do artigo do presidente executivo da Conexis publicado no O Globo
Por Marcos Ferrari*
Mais do que em qualquer outro momento da história, a pandemia da Covid-19 demonstrou de forma contundente como os serviços de telecomunicações e internet são essenciais para a sociedade. Apesar disso, o Brasil registra dados alarmantes de roubo e furto de cabos, elementos essenciais na infraestrutura que possibilita o funcionamento dessas tecnologias. De acordo com o Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel (Conexis Brasil Digital), o roubo de cabos afetou em 2020 aproximadamente 6,7 milhões de clientes. O número é 34% maior do que o registrado em 2019, quando cerca de 5 milhões de usuários tiveram os serviços interrompidos.
O cenário é aterrador. Em junho, por exemplo, um hospital infantil em Natal ficou impossibilitado de admitir novos pacientes por conta da paralisação nas linhas telefônicas. Em várias cidades, crianças e adolescentes que estudavam por computador ou celular não puderam assistir às aulas porque a conexão com seus professores foi cortada. E, em algumas capitais, até mesmo bombeiros e policiais não puderam ser acionados em emergências porque ficaram sem acesso a qualquer meio de comunicação.
Do outro lado, temos as empresas fornecedoras dos serviços de telecomunicações, que são penalizadas não somente com a perda de seus equipamentos, mas também com as reclamações e a redução na quantidade de clientes. Para qualquer direção que se olhe, o quadro é danoso. Estima-se que, a cada minuto, 12 pessoas ficam sem internet ou telefone no Brasil porque em algum lugar os fios foram cortados para roubar o cobre. Todos esses fatos indicam que a situação se tornou um problema grave de segurança pública que exige atenção e providências imediatas.
O setor de telecomunicações defende o endurecimento na repressão deste tipo de crime, para que haja a devida punição aos que prejudicam a sociedade com tais delitos. Esses crimes trazem perdas significativas para as empresas de telecom, mas elas não são as únicas vítimas. Para aqueles que perderam a casa, a vida de um ente querido ou a oportunidade de estudar para conquistar um futuro melhor, a perda é inestimável e incalculável.
A severidade desse cenário será um dos temas debatidos durante o Painel Telebrasil, principal evento de telecomunicações do país, que acontece de forma virtual e gratuita no mês de setembro. É urgente e necessário que a situação seja analisada e enfrentada por uma força-tarefa em que poderes, órgãos públicos, empresas e comunidade atuem em conjunto para que a malha de comunicação do país continue sendo aperfeiçoada e ampliada.
A revolução que acontecerá com a chegada do 5G, a quinta geração de telefonia, beneficiará toda a sociedade, trazendo um impulso importante para a economia. As empresas do setor já estão se preparando para esse momento por meio de grandes investimentos em tecnologia. Segundo dados da Conexis Brasil Digital, as operadoras investiram só no primeiro trimestre de 2021, R$ 7,6 bilhões, um recorde se comparado aos mesmos períodos anteriores. Mas isso de pouco adiantará se o poder público não interceder agora para mudar o atual cenário.
*Marcos Ferrari é presidente executivo da Conexis Brasil Digital