Serviços melhores e sustentáveis exigem mais espectro no Brasil

Painel temático realizado no Painel Telebrasil 2024 pontuou que para a expansão de serviços ao consumidor as teles precisam ter mais espectro. Faixas em debate são as de 600 MHz e de 6 GHz

Brasília, 07/11/24 – A GSMA, associação global da indústria móvel, apontou que o Brasil está na vanguarda do 5G e que espera que o país chegue a 2027 tendo mais conexões 5G do que 4G. Luiz Felippe Zoghbi, diretor de espectro da GSMA, participou de painel temático sobre as perspectivas para uso de espectro no país durante o Painel Telebrasil e disse que o crescimento está acontecendo, ainda que o ritmo vá desacelerar no fim da década. Ele frisou, no entanto, que sem mais espectro é impossível ter qualidade e sustentabilidade dos serviços. “Precisamos de faixas baixa, média e alta”, afirmou.

Zoghbi defendeu o uso da faixa de 600 MHz para levar maior cobertura e aumentar a velocidade. “São necessários 2 gigahertz, ou haverá perda de 40% do crescimento”, destacou, acrescentando que ainda há um déficit de 850 megahertz que poderia ser atendido com 500 megahertz na parte alta da faixa de 3,5 GHz e/ou 700 MHz na parte alta de 6 GHz, totalizando 1.200 megahertz.

Sobre a faixa de 6 GHz, o diretor de espectro da GSMA assinalou que, mundialmente, o uso móvel se dá em interiores e em faixas médias. E compartilhou o resultado de uma análise sobre o uso do WiFi por geração e faixa, feita na cidade de Brasília. “Vemos que o grande gargalo não é na disponibilização de espectro, mas no upgrade entre WiFi 4, 5 e 6. Olhando Brasília, quase tudo é em 5 GHz”, afirmou – a análise aponta que 7% é Wi-Fi 6/6E e apenas 1% do total utiliza a faixa de 6 GHz, sendo a de 5 GHz a mais usada, com 80% e 2,4 GHz com 19%. “Em resumo, precisamos de mais espectro em 6 GHz e 600 MHz”, concluiu.

Após a apresentação da GSMA, o presidente da Anatel, Carlos Baigorri, foi entrevistado por Lucas Gallitto, diretor para a América Latina da GSMA, sobre a visão do regulador nos desafios e oportunidades nos leilões de espectro. “O espectro é o oxigênio das operadoras de celulares, um insumo essencial para as operações das redes móveis; e a conectividade é a base de todo o ecossistema digital e um dos pilares da transformação digital. A discussão de espectro acontece em contexto global, porque a tecnologia de telecomunicações exige escala e o Brasil não é grande o suficiente para ter seu próprio padrão tecnológico”, pontuou, logo de partida.

Baigorri lembrou da tomada de subsídios feita neste ano com o objetivo geral de elaborar um cronograma de leilões e dar previsibilidade ao setor. “Tivemos o leilão de 5G, mas não sabemos quando será o próximo. Queremos dar previsibilidade, um cronograma e uma perspectiva para o mercado de quando o espectro vai ser disponibilizado”, assinalou.

Respondendo sobre as faixas, destacou que a de 600 MHz está hoje destinada para radiodifusão e a de 6 GHz tem um ecossistema sendo desenvolvido. “Em 2020, deixamos a 6 GHz aberta para WiFi. Temos hoje um setor que recebeu o espectro e se acomodou e outro que não recebeu e correu atrás. Em razão desta mudança de contexto, no ano passado, fizemos uma nota de não colocar a faixa toda para WiFi”, disse Baigorri, acrescentando que haverá uma divisão da faixa, ainda que hoje não se saiba qual vai ser a divisão. “Vai ter o debate de como dividir a faixa para que o recurso seja usado de modo o mais eficiente possível”, ressaltou o presidente da Anatel.

Com relação à faixa de 850 MHz, Baigorri afirmou que está renovada até 2028 e deve haver discussão de refarming no futuro. O debate, segundo ele, “vai acontecer em momento oportuno”, e a tomada de decisão local se dará sempre olhando o contexto internacional.

Espectro é o ar dos serviços de telecomunicações

Para finalizar o debate sobre as faixas, Luiz Felippe Zoghbi, da GSMA, conduziu um painel com Agostinho Linhares, diretor do Instituto de Pesquisas da Economia Digital; Monique Barros, diretora de Regulação da Claro; Carlos Lauria, diretor Institucional da Huawei, e Geraldo Neto, sócio da TMG Consulting.

De acordo com Agostinho Linhares, é preciso avaliar o que é melhor para o Brasil na divisão da faixa de 6 GHz, tendo em vista o que trará mais benefícios. “A 6 GHz vai ser importante, porque vai operar de forma conjunta com a 3,5 GHz, usando o mesmo grid, combinando capacidade com cobertura”, assinalou.

“Espectro é o ar que a gente respira; precisamos de mais espectro. A faixa de 600 MHz repete a história dos 700 MHz e temos experiência nisso: foi um processo longo, árduo, de muito trabalho, mas bem-sucedido”, apontou Monique Barros, da Claro, acrescentando que o movimento da faixa de 6 GHz é importantíssimo.

Contudo, a executiva lembrou que os desafios vão além e passam por lidar com tecnologias legadas de 2G, 3G e 4G. “Temos de monetizar o 5G e teremos no futuro a tecnologia 6G, mas temos de fazer valer os investimentos e enfrentar o desafio das tecnologias legadas. A população precisa fazer a transição tecnológica”, lembrou, assinalando que existe uma parte da população que ainda usa aparelhos aptos apenas para 2G ou 3G. Nesse sentido, a executiva parabenizou a decisão da Anatel de não homologar mais este tipo de dispositivo.

O fato de a Anatel fazer planejamento de leilões é muito positivo e importante, porque quando se fala em monetização tem de ter retorno e ter prazo, opinou Carlos Lauria, da Huawei, acrescentando que, por ser um bem escasso, o espectro precisa de planejamento de longo prazo, “porque não se desenvolve ecossistema de um dia para outro”. Ao avaliar as opções de faixas, o executivo lembrou que o Brasil lutou para ter a banda de 450 MHz, mas não houve desenvolvimento dela no ecossistema global, porque a 700 MHz teve vantagens.

“Temos a questão da 600 MHz ocupada pela radiodifusão e me parece que para eles é interessante ir para TV 3.0. A Huawei defende a divisão da banda 6 GHz – com 500 e 700 megahertz – seguindo o ecossistema que está sendo desenvolvido. Na China não tem leilão – eles distribuem o espectro entre as três operadoras – e já estão usando 6 GHz”, afirmou Lauria.

Geraldo Neto, da TMG Consulting, disse ver um alinhamento maior dos diversos atores na discussão da faixa dos 600 MHz em comparação com o que teve com os 700 MHz. “TV 3.0 é uma oportunidade de discutir os 600 MHz. Na parte técnica, é importante dizer que é viável. Claro que há desafios, mas temos estudo que mostra que dos 5.770 municípios só metade tem canais licenciados nesta faixa e, da metade que não tem canal, 950 municípios não são afetados; 20% das cidades têm a faixa disponível”, explicou. Para ele, seria viável realocar na faixa de UHF e o desafio está nas cidades médias, regiões metropolitanas e capitais, que somam 380 cidades.

Já mirando a sexta geração de telefonia móvel (6G), Geraldo Neto contou que estão em estudo as faixas de 4,4 a 4,8 GHz e a principal de 7,12 GHz e 8.4 GHz. Há também uma faixa acima, de 14,8 a 15,35 GHz. “Todas estão sendo estudadas e o maior foco é nessa entre 7 e 8 GHz.”

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