Telecom quer avançar na agenda de ESG

Várias vertentes como diversidade, energia renovável, transparência e inclusão digital têm recebido investimentos das operadoras do setor, mas executivos querem mais e lembram: sem telecomunicações, o mundo seria muito mais complexo na pandemia.

A agenda ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa) vem sendo acompanhada e reforçada pelas empresas de telecom há algum tempo. Várias de suas vertentes, como diversidade, energia renovável, transparência e inclusão digital, têm recebido procedimentos e investimentos das operadoras. E, em alguns casos, essa preocupação com o futuro do planeta e o bem-estar das pessoas atingiu também a cadeia de suprimentos, que passou a ser seguida de forma mais efetiva com relação aos critérios de sustentabilidade e governança. A agenda ESG foi tema do painel Mundo ESG: Evolução e Desafios, realizado nesta terça-feira, 28, na agenda do Painel Telebrasil 2021.

“Não é compulsório ter metas ESG, mas trata-se de um diálogo com a sociedade e um esforço para garantir a sobrevivência do planeta”, comentou Renato Gasparetto, vice-presidente da Vivo. Além disso, o consumidor também tem suas exigências de sustentabilidade, que têm de ser consideradas internamente. O executivo citou pesquisa da KPMG que mostra que cada vez mais o cliente escolhe suas compras com base em fatores sustentáveis.

Desde 2018, a Vivo conta com um comitê de sustentabilidade, que está sob o comando do presidente da empresa e do ano passado para cá passou a estar ligado também ao Conselho de Administração. Gasparetto ainda ressaltou que desde 2010 a companhia é carbono neutro e tem 33 usinas de energias renováveis. Segundo ele, além das medidas internas, a Vivo ainda levou para fora essas preocupações, transformando, por exemplo, todas as suas 1.600 lojas em pontos de descarte de eletrônicos.

Mario Girasole, vice-presidente da TIM, não tem dúvidas sobre a importância do tema e gostaria de ver o ESG sendo mais debatido em telecom. E considera que essa agenda, no caso do mercado de telecomunicações, começa por “fazer bem-feito o nosso negócio”. Por isso, crê que a proposta da TIM de que sua cobertura 4G atinja todos os municípios se enquadra nessa prática.

Energia renovável

A energia renovável também é uma preocupação da TIM que, atualmente, conta com 34 usinas em operação e pretende chegar a 60 até o final de 2022. De acordo com o executivo, a diversidade é outro ponto de atenção. A TIM foi a primeira empresa brasileira a ser incluída no ranking do Refinitiv D&I Index, que avalia ambientes de trabalho diversos e inclusivos no mundo todo.

Para Roberto Catalão, vice-presidente da Claro, o segmento de telecom tem papel fundamental na agenda ESG. Como exemplo, citou a importância da conectividade durante a pandemia, permitindo que as pessoas estudem, trabalhem ou tenham entretenimento em casa. “O mundo não seria o mesmo sem as telecomunicações nesse período”, reforçou.

Ele lembrou que o setor não é dos maiores ofensores de gases poluentes. Mas as preocupações recaem no consumo energético, motivo pelo qual desde 2017 a operadora conduz projetos nesse sentido. A empresa tem parceria com a Enel, sendo considerada pela concessionária como responsável pelo maior programa de geração de energia distribuída entre as empresas privadas. Hoje, 60% da energia que utiliza é gerada em suas unidades ou comprada de terceiros.

Em seu processo de reestruturação, a Oi passou a ter um novo “olhar” sobre o que mais poderia fazer para acompanhar as expectativas que a sociedade possui em relação a uma empresa nos dias atuais. Apoia, portanto, a educação, sendo responsável por levar banda larga a 40 mil escolas urbanas e quatro mil rurais e ainda fazer parte do projeto Nave, incentivador do acesso de crianças ao estudo e à digitalização.

Pegada de carbono

Renata Bertele, vice-presidente da Oi, também classifica a busca de fontes limpas de energia como uma das prioridades da companhia, que acabou de entregar duas mil novas plantas. Segundo a executiva, esse posicionamento ESG chega também ao relacionamento com os investidores, que esperam que a operadora apresente a forma como a agenda está sendo executada.

Como fornecedora de infraestrutura para as operadoras, a Huawei também precisa acompanhar a demanda de seus clientes no ESG. Mas vai além, por exemplo, na área de energia, na qual já se posiciona como uma das grandes fornecedoras de energia renovável no País. Tanto que há dois meses deslocou a sua área de produção energética para uma nova unidade, a Digital Power.

Na avaliação de Luciano Santos, diretor da empresa, a chegada do 5G também trará impactos sobre a questão do consumo de energia. Isso vai exigir que a migração para a nova tecnologia seja feita de forma sustentável. A companhia tem investido bastante no desenvolvimento de soluções que diminuam a pegada de carbono de seus clientes.

Por ser uma empresa regional, o Grupo Algar nasceu com uma cultura de servir a comunidade, de inclusão digital e de atenção para o impacto no meio ambiente. Segundo Luis Lima, vice-presidente, há mais de 20 anos o Grupo Algar comanda projetos para diminuir a emissão de carbono e em 2013 se tornou a primeira operadora a utilizar sistema solar fotovoltaico em seus sites.

Atualmente, 66% do consumo de energia é proveniente de energias renováveis, e a meta é que esse percentual expanda para 85% no ano que vem e seja 100% a partir de 2023/2024. Outro item da agenda ESG, como a diversidade, também está no planejamento da Algar, que lançou o programa Sem Barreiras, que não tolera discriminação em ambiente de trabalho.

Diversidade

“Nós estamos vivendo um período único”, desabafou Luiz Gabriel Azevedo, division chef da IDB Invest, o braço de investimentos do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento. Ele lembrou que a América Latina sofreu “desproporcionalmente” no período pandêmico. A região responde por 8% a 9% da população mundial e, no entanto, registrou 33% das mortes globais.

O executivo destacou que, no ano passado, 44 milhões de pessoas voltaram para a linha de pobreza e 55 milhões de pessoas que estavam classificadas como classe média tiveram retrocessos nessa posição. E, para agravar, a relação dívida x PIB cresceu.

Ele considera que as empresas de telecom, responsáveis pelo crescimento da inclusão digital na população latino-americana, deve se alinhar a outras companhias para enfrentar novos desafios para a região. E opinou que é de fundamental importância que a região retome três pontos: a reativação do setor produtivo, o progresso social e o fortalecimento na relação das empresas com outros atores.

Para Azevedo, esse movimento passa pela integração regional, economia digital, foco nas pequenas e médias empresas e diversidade. “Precisamos ser ambiciosos, muito ambiciosos, mas no sentido de urgência para atender a essas necessidades”, alertou.

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