Agro: dobrar a cobertura no campo pode gerar valor adicional de R$ 50 bilhões em dois anos

Mas inovação e geração de receita só acontecerão se houver a liberação para a instalação de infraestrutura.

Dados do Ministério da Agricultura e Pecuária dão conta de que são necessários pelo menos mais 15.200 antenas e torres para ampliar para quase 75% a cobertura nas áreas produtivas.

A conectividade no campo é um assunto que tem entrado na pauta de órgãos do governo, empresas, entidades de telecom e rurais, fabricantes de máquinas e equipamentos e está até presente no Congresso Nacional. Tida como uma ferramenta essencial para aumentar a produtividade e competividade da agropecuária, ela pode gerar um valor adicional de R$ 50 bilhões em dois anos para a agropecuária, caso o País chegue a cobrir 50% da área produtiva. As oportunidades desse segmento foram tema de debate no Workshop A Agricultura Conectada, na terça-feira, 29/09, no Painel Telebrasil 2020.

A previsão é de Cleber Soares, diretor de Inovação do MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária), que vem realizando um estudo aprofundado sobre o cenário da conectividade no campo. De acordo com o gestor, hoje temos algo como 23% das terras produtivas com “algum nível de conectividade”. Para levar a conexão a mais 25%, o que daria quase a metade dos hectares disponíveis para plantio, seriam necessárias 4.400 torres e antenas. Esse seria o cenário do valor adicional de R$ 50 bilhões.

Mas há outro cenário traçado pela MAPA, com mais cobertura e mais tempo. Se em três anos forem adicionados 15.200 pares de antenas e torres, chegando a cobrir quase 75% da área produtiva, o valor adicional no período seria de R$ 80 bilhões.

Esse é o quadro desenhado por Soares no que diz respeito à cobertura com antenas móveis 2G, 3G e 4G. “Fizemos um mapeamento profundo e identificamos os vazios que poderiam ser cobertos com essas tecnologias”, informou.

Os outros pilares do estudo envolvem o uso de outras tecnologias, como satélite, redes de fibras ópticas e aproveitamento do white space. O órgão, ao lado do MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações), já prevê a realização de alguns pilotos com a tecnologia satelital.

No caso da fibra, foi feito um estudo junto com a RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa) para a viabilidade de levar fibra até um ponto da fazenda e a partir daí fazer a cobertura via rádio. Essa solução se aplicaria principalmente ao Norte e Nordeste. Para a quarta camada com qual trabalha o MAPA, está a destinação de faixas de frequências hoje ociosas no projeto do white space. “Temos tecnologia e equipamentos disponíveis para o uso dessas faixas”, ressaltou.

José Gontijo, diretor de Ciência, Tecnologia, e Inovação Digital do MCTIC, ressaltou que todo trabalho que vem sendo feito com o agro é fundamental, desde a criação da Câmara Agro 4.0. Na sua avaliação, se o setor aumentar 10% sua produtividade, poderá refletir em 2,5% de expansão do PIB. “Já tivemos casos na indústria sucroalcooleira de economia de cerca de R$ 100 milhões com soluções inovadoras. Isso pode posicionar o Brasil melhor no cenário externo”, enfatizou.

Políticas públicas

A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) decidiu colocar a mão na massa para estender o leque de ofertas de conectividade aos produtores rurais, principalmente os de médio e pequeno porte. Segundo Joaci Medeiros, coordenador técnico do Instituto CNA, o desafio é muito grande e não haverá uma solução única. “São cerca de 196 milhões de hectares que estão off line, o que corresponde à área de sete países europeus”, pontuou.

A entidade priorizou dois eixos, soluções satelitais e terrestres, para ver que tipo de plataforma pode atender melhor os diversos portes de produtores rurais. Os primeiros testes foram feitos em satélite, com a Telebras, Ruralweb (revendedora da Viasat) e Hughes Net. “Muito dos problemas dos produtores poderiam ser resolvidos com satélite, como a própria conexão com a internet para, por exemplo, emissão de notas fiscais.”

Mas ele calcula que seriam necessários cerca de R$ 7,3 bilhões para colocar uma antena de satélite em cada propriedade que hoje está sem cobertura, isso sem contar o pagamento mensal do serviço. Na parte terrestre, ele está conhecendo as soluções disponíveis. “O projeto da TIM na Jalles Machado é muito interessante, mas é apenas para o grande produtor”, ponderou.

Como ações necessárias para esse mercado, ele defende políticas públicas que facilitem o acesso à inovação, proporcionando aos pequenos produtores aumento de renda, fixação da família no campo e segurança rural. Também deseja uma reformulação do Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações) para permitir a aplicação de seus recursos na agricultura e a formação de parcerias estratégicas que tornem as soluções de agricultura digital mais disponíveis aos pequenos e médios produtores.

Alexandre Dal Forno, head de Marketing Corporativo e IoT da TIM Brasil, contou que há três anos a operadora decidiu investir nesse mercado com o conceito de levar uma solução que endereçasse realmente as necessidades do produtor rural. “O grande desafio da agricultura é que você trabalha a céu aberto, com milhares de hectares a serem conectados, onde você tem todo produtivo rodando ali e com muitos equipamentos analógicos que precisam ser digitalizados”, disse.

A TIM utiliza uma rede LTE em 700 MHz e com solução pronta para Internet das Coisas (IoT). Segundo ele, “essa frequência permite que se conectem também as pessoas, as escolas, as coisas, atendendo todas as necessidades.”

Nesse percurso, a TIM entendeu que havia a necessidade de um ecossistema que reunisse empresas de tecnologia e de agro. Nasceu então a Conectar Agro, que além da TIM reúne mais sete empresas, entre as quais fabricantes de equipamentos e máquinas rurais. “Hoje temos 4 milhões de hectares contratados com o 4G TIM no campo e clientes como a Amaggi, Citrosuco, Adecoagro e a própria Jalles Machado”, contou o executivo.

De acordo com Bruno Takematu Zitnick, diretor de Relações Governamentais da Huawei, há um grande desafio para as operadoras levarem para o campo a estrutura de seus sites tradicionais que tem alto custo e, em média, um retorno sobre investimento de 8 anos. Para contornar esse problema, a empresa oferece o Ruralstar, que atua como um repetidor que trabalha com o site principal da operadora, permitindo redistribuir o sinal.

Acesse o site do Painel Telebrasil 2020. Acesse www.paineltelebrasil.org.br

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