Demanda por fibra cresce no Brasil com a busca por mais conectividade

O aumento vai exigir fortes investimentos das empresas de telecomunicações, inclusive para dar suporte ao 5G, e capacitação de mão de obra.

A demanda pela tecnologia de fibra vai aumentar no País, impactando ainda mais os investimentos das empresas de telecomunicações, inclusive para dar suporte ao 5G. Nos últimos anos, a tecnologia FTTH (Fiber to the Home) é a única que tem crescido, enquanto o cobre recua e o cabo tem ligeiro aumento. “Toda inovação exige cada vez mais aumento da capacidade de rede e de infraestrutura. A fibra é atualmente a mais importante matriz tecnológica que temos do ponto de vista da conectividade”, disse Abraão Balbino, superintendente de Competitividade da Anatel.

Ao participar do workshop O Brasil conectado por fibra, dentro da programação do Painel Telebrasil 2020, desta terça-feira, 15/09, ele ressaltou que é preciso olhar esse cenário dentro do aspecto microeconômico em que vivem hoje as operadoras de telecom e os desafios para o futuro.

Ele acredita que as tendências mundiais apontam para duas alternativas: ou as operadoras seguem o caminho de oferta única de infraestrutura, como dumb pipes, ou vão buscar valor agregado para seus negócios, como smart pipes.

“Tem se falado muito de redes neutras, mas essa palavra é fruto dessa dicotomia que tem se apresentado ao setor”, observou. Ele considera que em um modelo de 5G, por exemplo, não há vedação para esse tipo de negócio, pois “o conceito de rede neutra já é permitido pela legislação”, acrescentou.

O gerente do SindiTelebrasil, Sergio Kern, observou que um dos desafios para o Brasil é o de levar rede de transporte de alta capacidade para municípios que não têm nenhuma rede de fibra, principalmente, no Norte e no Nordeste.

Kern lembrou que o Plano Estrutural de Redes de Telecomunicações, o PERT, da Anatel, indica que 72% dos municípios têm infraestrutura, sendo que desses 48% possuem dois ou mais provedores. O superintendente de Competitividade da Anatel, Abraão Balbino, observou que toda inovação exige cada vez mais aumento da capacidade de rede e de infraestrutura. “A fibra é atualmente a mais importante matriz tecnológica que temos do ponto de vista da conectividade”, disse.

Mais velocidade na banda larga

Para a Huawei, há muito espaço para se crescer em fibra no Brasil. Essa é a avaliação de Julio Sgarbi, consultor principal da fabricante, ao analisar os números de banda larga no País, que também registram uma expansão de velocidades mais altas. “A configuração atual mostra o declínio do cobre, pouca expansão do cabo e uma enorme implementação de FTTH, bancada em sua maioria por ISPs”, comentou.

Quanto à oferta, ele sinaliza para o crescimento das assinaturas de contratos do consumidor com velocidades mais altas, acima de 100 Mbps. Sgarbi reforçou que a pandemia mostrou globalmente a necessidade de contratação de mais velocidades de banda larga. E citou dois episódios que aconteceram durante esse período.  A China Telecom, por exemplo, promoveu o aumento de velocidade para 200 Mbps para todos seus assinantes, e nas residências com alunos ou professores ela passaria para 500 Mbps. Nos Estados Unidos, a Comcast deu dois meses de graça para os novos assinantes com velocidade acima de 100 Mbps.

Vivien Suruagy, presidente da Feninfra (Federação Nacional de Manutenção e Instalação de Infraestrutura de Redes de Telecomunicações e Informática), lembrou que o setor é intensivo em mão de obra. “Durante a pandemia, não paramos e continuamos instalando fibras para que o consumidor continuasse tendo conexão”, enfatizou.

Ela ressaltou que telecom está permeando tudo na economia, o que exige que as empresas ofereçam qualidade e sejam sólidas e viáveis. “Telecom investe em média R$ 32 bilhões anuais; R$ 1 trilhão desde a privatização. São números faraônicos.”

Vivien acrescentou que existem aproximadamente 137 mil empresas de serviços especializados nessa área e mais de 2 milhões de trabalhadores. “Nós temos uma capacitação violenta de mão de obra, mais ou menos 1 milhão de trabalhadores entre formação, qualificação e treinamento por ano, sendo que essa capacitação vai mudando rapidamente com a introdução de novas tecnologias”, alertou.

“A fibra é essencial para todos os segmentos de telecom”, afirmou Mauro Fukuda, diretor de Tecnologia da Oi. O executivo salientou que a companhia tem a maior rede de infraestrutura com fibra do País – quase 400 mil quilômetros –, atendendo a mais de 2.300 municípios e FTTH em cerca de 127 cidades.

Ele lembrou que a implementação das redes de fibra também traz desafios importantes, começando pela viabilidade econômica e os custos envolvidos. A construção de uma rede FTTH apresenta alguns problemas, como o de utilização de postes para passar o fio em áreas muito ocupadas.

Luiz Antonio Andrade Lima, vice-presidente de Operações da Algar Telecom, é pragmático ao afirmar que sem banda larga, sem capacidade de rede não existirão negócios futuros. Ele acredita que os serviços digitais serão os viabilizadores, e a fibra óptica é a grande base de sustentação desse crescimento. “Não cresceremos sem fibra e esse é um ponto de virada e de reflexão profunda das nossas empresas, do governo e do País”, advertiu.

De acordo com o executivo, a Algar tem trabalhado na expansão de negócios baseados em fibra e conta com 80 mil quilômetros com essa infraestrutura em 16 estados e 68% dos clientes conectados por essa tecnologia.

Em sua opinião, a expansão da fibra vai demandar aumento de capilaridade, avanços na questão do direito de passagem, compartilhamento de infraestrutura, evolução tecnológica e novos modelos de negócios.

Os debates sobre diversos temas terão sequência nos dias 22 e 29 de setembro. As inscrições são gratuitas, e a programação completa do Painel pode ser acessada no site http://paineltelebrasil.org.br/.

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