“Não há provas científicas contra antenas e telefones celulares”, diz Renato Sabbatini

O CEO do Instituto Edumed e autor do relatório científico sobre o tema na Comissão Latino-americana de Altas Frequências e Saúde Humana, assegura que “não há plausibilidade biológica nem efeitos epidemiológicos que justifiquem uma cautela maior com o uso continuado dos celulares.”

Em entrevista exclusiva à Newsletter Telebrasil, o biomédico e cientista Renato Sabbatini, um dos maiores especialistas brasileiros em tecnologia para a área da Saúde, CEO e chairman do Instituto Edumed, uma organização sem fins lucrativos que se dedica a projetos de pesquisa, desenvolvimento, inovação e aplicações sociais de Tecnologias da Informação e Comunicação, diz que “chega a ser ridícula a onda de notícias falsas ligadas a celulares e antenas.”

Sabbatini garante que as radiações das antenas e dos celulares são não ionizantes, têm pouquíssima penetração e absorção por tecidos vivos e são incapazes de romper proteínas e DNA. Observa ainda que os limiares determinados pela ICNIRP – organização que estabelece os limites de exposição para campos eletromagnéticos usados por dispositivos como telefones celulares – cobrem um espectro bastante amplo e são extremamente seguros.

Newsletter Telebrasil – Há provas científicas de que antenas, celulares e smartphones façam mal ao ser humano?

Renato Sabbatini – A maioria dos estudos experimentais com animais e epidemiológicos com as frequências e potências tipicamente utilizadas na comunicação radiocelular não conseguiu, nos últimos 35 anos, demonstrar um efeito realmente significativo, uma vez que [os dispositivos] emitem radiações não ionizantes, com pouquíssima penetração e absorção por tecidos vivos, e são incapazes de romper proteínas e DNA. Os limiares determinados pela ICNIRP – organização que estabelece os limites de exposição para campos eletromagnéticos usados por dispositivos como telefones celulares – cobrem um espectro bastante amplo e são extremamente seguros, 50 vezes abaixo dos valores capazes de causar dano.

O baixíssimo nível de potência tanto dos dispositivos móveis quanto das ERBs [estacões radiobase, também chamadas de antenas] está várias ordens de magnitude abaixo do limiar seguro para as RNIs (Radiações Não Ionizantes). A legislação brasileira adota as normas da ICNIRP, e tanto as operadoras de telecomunicações quanto os fabricantes são obrigados a respeitá-las e são fiscalizados e homologados pela Anatel para todas as faixas do espectro de radiotransmissão, inclusive rádio AM e FM, satélites, TV, aparelhos celulares etc.

Em suma, não há nem plausibilidade biológica nem efeitos observados em estudos epidemiológicos que justifiquem uma cautela maior em relação ao uso continuado de aparelhos celulares, inclusive até para os outros campos utilizados, como bluetooth e WiFi, micro-ondas, radar, TV, rádio AM e FM, telefones sem fio, telecontroladores, aparelhos de ressonância magnética etc. Recomendo a leitura do relatório científico da Comissão Latino-americana de Altas Frequências e Saúde Humana, da qual fui coordenador, que está publicado, em português, em www.wireless-health.org.br.

Há respaldo para que o temor surja em debates, especialmente, por conta da chegada do 5G, que exige mais antenas para melhor cobertura do serviço?

Notícias de que transmissões de 5G estariam matando abelhas e pássaros são comprovadamente falsas. Esses temores acontecem previsivelmente toda vez que novas tecnologias são introduzidas. Aconteceu com o telégrafo, com o telefone, com o rádio, com a televisão, com os computadores, com os telefones sem fio, e não é diferente com as várias gerações de celulares. Chega a ser ridículo. Cada vez que surge a desinformação, a ciência consegue demonstrar que as tecnologias são inofensivas para a saúde humana.

Do ponto de vista técnico, as tecnologias 5G têm algumas diferenças em relação às de 3G e 4G. Os comprimentos de onda são de milímetros, ao invés de centímetros. Isso fica perto do limite de 300 GHz, pois tem que carregar uma banda de maior velocidade. A distribuição das estações radiobase tem de ter distâncias menores entre elas, pois a atenuação do sinal é maior com a distância. Isso aumentará a densidade de microcélulas, mas hoje elas são pouco aparentes no ambiente urbano.

Além disso, o 5G usa conformação de feixes, o que aumenta a densidade de spell check (microwatts por metro quadrado) a pouca distância. O mais provável, em função dos milhares de trabalhos publicados sobre as frequências e baixas potências usadas em CDMA (quase não mais utilizada) e GSM, tanto nas ERBs quanto nos dispositivos móveis, é que a tecnologia de quinta geração (5G) siga sendo inofensiva.

O que é preciso para fazer vingar a opinião científica diante da onda de desinformação?

Ninguém quer renunciar ao uso do aparelho celular, mas, magicamente, muitos acham que o sistema de telecomunicações pode funcionar sem as antenas. No meu ponto de vista, a indústria de telecomunicações deveria se mobilizar para difundir mais as notícias corretas e com embasamento científico. Também deveria incentivar a realização de consultas públicas e de ações educacionais junto à população residente perto das antenas para mostrar que não há risco à saúde e, principalmente, que o sistema instalado significa ter o telefone celular funcionando.

ICNIRP – International Commission for Non-Ionizing Radiation Protection, ou Comissão Internacional para Proteção contra Radiações Não Ionizantes

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